Waldyr Promicia é, hoje, o maior produtor de limão orgânico do país. E ele decidiu intensificar a aposta nesse sistema, em que não se usa fertilizantes e defensivos químicos nas plantações: o empresário quer, em cinco anos, dobrar a área de limão-taiti orgânico na fazenda que tem em Inhambupe, na Bahia, e triplicar a produção da propriedade.
Na década passada, Waldyr
assumiu os negócios da família, que já tinha começado a fazer a transição para
o sistema orgânico. O cultivo na propriedade baiana segue exclusivamente esse
modelo desde 2022.
O empresário vai ampliar o uso do sistema que abdica de insumos químicos
mesmo sem receber um centavo a mais pela fruta que exporta – a Europa consome a
maior parte da produção de Waldyr. Ao contrário do que ocorre com itens como
tomate e morango, que se consome in natura, não há bônus sobre o preço do limão
orgânico.
“O ganho é de visibilidade no mercado, que prefere o limão orgânico mais sustentável. Além disso, como nossa fruta não tem nenhum resíduo de químicos, conseguimos abrir mais portas na Europa”, diz ele.
E há também a recompensa que a própria terra oferece: ainda que a produtividade do limão orgânico, de 26 toneladas por hectare, seja menor do que a do que se produz de modo convencional, a ausência de químicos melhora a oferta de nutrientes naturais no solo, segundo o produtor.
Waldyr comanda a Itacitrus, que, com a aposta no limão orgânico, faturou R$ 60 milhões no ano passado. A fazenda Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Inhambupe, um município com cerca de 35 mil habitantes, localizado a 150 quilômetros de Salvador, tem 2,3 mil hectares. O cultivo de limão ocupa mil hectares dessa área, mas as árvores ainda estão em fase de crescimento em 700 hectares, o que atesta que a produção ainda vai mesmo ganhar corpo.
Das 12 mil toneladas da
fruta que a Itacitrus produz todos os anos, pelo menos 70% vão para a Europa in
natura. O restante vira suco para abastecer os mercados interno e externo.
Vicente Alvair Promicia, o pai de Waldyr, já se destacava no plantio da
fruta em Itajobi, no interior paulista, e abastecia redes de supermercado na
capital. Nos anos 1990, ele começou a exportar limão para a Europa.
No início dos anos 2000, Vicente comprou, em leilão, a fazenda baiana,
uma propriedade falida de eucaliptos. O plano era aproveitar o clima para
produzir limão o ano todo, e não apenas no primeiro semestre.
Para engordar os lucros, ele decidiu se estruturar para fazer exportação
direta, e não via trading, como ocorria até então. Para seguir em frente com a
ideia, desafiou o filho, Waldyr, que trabalhava em São Paulo com confecções, a
encontrar clientes na Europa para o limão da família.
Waldyr topou. Com uma mala de roupas e outra de limão, ele embarcou para
Berlim, na Alemanha, onde participou da Fruit Logistica, uma das feiras mais
importantes do segmento no mundo.
“Dei sorte porque nem sabia que precisava de certificação para levar a fruta”, relembra. O novato fechou três contratos e virou sócio do pai na produção na Bahia. Depois da morte de Vicente, em 2015, Waldyr comprou a parte dos irmãos na fazenda e ampliou a produção.
A transição para o cultivo orgânico começou em 2012. Segundo o
empresário, a opção pelo sistema deveu-se, também, ao fato de as terras da
Caatinga baiana serem muito pobres em nutrientes na comparação com o solo
paulista. O sol intenso sobre a terra, explica ele, queima a biota, o conjunto
de seres vivos, muitos deles microscópicos, que asseguram a oferta de nutrição
às plantas no solo.
Em 2022, ele converteu toda a fazenda para o sistema. “Com o plantio
orgânico, conseguimos ter mais sustentabilidade. Meus netos vão poder produzir
nessas terras. Se continuássemos com o convencional, talvez nem meus filhos
pudessem desfrutar da fazenda”, diz Waldyr.
Ele acredita que sua experiência com os limões tem mostrado a outras
empresas do agro que o plantio em larga escala de orgânicos é não apenas
sustentável, mas também rentável. “Desde o início da transição para o novo
sistema, aperfeiçoamos nosso conhecimento sobre a produção e a exportação da
fruta. Hoje, produzimos na fazenda tudo que precisamos para o cultivo,
incluindo o fertilizante biológico”, relata.
Com produção de limão o ano todo, a fazenda não tem grandes problemas
com doenças e pragas, segundo Waldyr. “Costumo dizer que Deus é brasileiro e nasceu
na Bahia”, afirma. “Aqui não temos cancro nem greening (as duas doenças que
mais causam perdas à citricultura)”.
A Itacitrus e a agroindústria que leva o nome da fazenda têm, somadas,
450 funcionários e 500 trabalhadores terceirizados. Isso faz do grupo o maior
empregador de Inhambupe. Leia mais no oglobo