natureza é tão importante, afirmou a ministra Marina Silva nesta quarta-feira (17/1), que talvez não seja possível precificar seus serviços. Em painel na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Marina propôs que não se debata o preço da natureza, mas seu valor.  

“A palavra valor remete a algo que vai além do que podemos precificar”, afirmou. “A natureza tem valores que, muitas vezes, a forma e o estágio em que nos encontramos ainda não conseguiram alcançar. Em algum momento, vamos descobrir que esses valores existem e que talvez possam ser precificados”, completou.

Marina citou também a produção de 20 bilhões de toneladas de água por dia pela Amazônia: metade do volume é usado pela natureza e metade se dispersa na atmosfera. O fenômeno é responsável pelo regime de chuvas da região, diretamente relacionado a 75% do Produto Interno Bruto da América Latina. 

“Se fôssemos bombear essa água, precisaríamos de 50 mil Itaipus. Alguém consegue imaginar um investimento como esse?”, questionou Marina. “A natureza faz isso apenas usando a terra, seus nutrientes, a floresta, o sol e o vento. É um serviço ecossistêmico incalculável”, completou.  

Para a ministra, talvez só seja possível precificar o que a humanidade é capaz de produzir. Na natureza, completou, talvez seja possível apenas ver valor: 

“Um valor que tem preço também, sobretudo preço de quem pesquisa, preço de quem usufrui desses serviços ecossistêmicos e dos conhecimentos milenares daqueles que têm conhecimentos associados a esses recursos”, afirmou ela.

Haverá uma força-tarefa sobre pagamento por serviços ecossistêmicos durante a presidência do Brasil no G20, mencionou a ministra. A iniciativa buscará promover o pagamento por tais serviços e como preservá-los.  

O tema é uma das quatro prioridades do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Ambiental e Climática, coordenado pelo MMA e pelo Ministério das Relações Exteriores. Os outros tópicos são: adaptação preventiva e emergencial a eventos climáticos extremos, resíduos e economia circular e oceano. 

"Que o debate [sobre pagamentos ecossistêmicos] seja constante nesse olhar para a natureza e que essa imagem linda da neve aqui possa permanecer, porque é um serviço ecossistêmico cultural", completou a ministra, referindo-se à paisagem de Davos.

Também participaram do painel a professora de ciências ambientais da Universidade de Stanford, Gretchen Daily; o presidente do Conselho de Administração da Aliança das Cabeceiras Sagradas da Amazônia, Uyunkar Domingo Peas Nampichkai; o diretor-executivo da Indigo, Ronald W. Hovsepian; o sócio-gerente sênior do Bank Lombard Odier & Co, Hubert Keller; e o presidente e diretor-executivo da Oliver Wyman, Nick Studer.

Painéis e bilaterais

Antes de retornar ao Brasil, Marina participou de mesa organizada pelo Fórum Econômico Mundial sobre oceanos e de debate realizado pelo governo da Suíça sobre Amazônia e mudança do clima, ao lado do ministro Luis Fernando Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal. O painel debateu o papel da natureza e da conservação na mitigação da mudança do clima, considerando ações locais e globais, conhecimentos tradicionais e evidências científicas.

Além de Marina e Barroso, participaram Martina Hirayama, secretária de Estado da Suíça para Educação, Pesquisa e Inovação; Thomas Crowther, professor da ETH Zurich; Michael Schaepman, professor da Universidade de Zurique; e a ativista climática e apresentadora Hosana Silva. O painel foi moderado por Gioia Deucher, diretora-executiva da InnHub La Punt.   

A ministra teve ainda reuniões com Peter Thompson, enviado especial da ONU para oceanos; representantes da Fundação Open Society; Daren Tang, diretor-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual; e Juan Manuel Louvier, diretor-geral do Instituto Nacional da Economia Social, do México. 

Na terça-feira (16/1), Marina participou de painel com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e debateu a transformação energética brasileira em mesa com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Nísia Trindade (Saúde).

Também na terça, a ministra teve sete reuniões, incluindo encontros com o empresário Bill Gates, o secretário-executivo da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima da ONU, Simon Stiell, e o comissário da UE para Ação Climática, Wopke Hoekstra. Ao todo, a ministra realizou dez reuniões bilaterais em Davos.

Balanço final

Em balanço ao fim de sua participação em Davos, a ministra destacou o interesse internacional na retomada do compromisso ambiental e climático do Brasil. Com o retorno das ações de fiscalização, o desmatamento na Amazônia caiu 50% na comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter-B, do Inpe. A redução evitou o lançamento na atmosfera de 250 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente. 

Marina mencionou iniciativas como Plano de Transformação Ecológica, liderado pelo Ministério da Fazenda, e o Plano Safra, com incentivos a práticas agrícolas sustentáveis, entre outras. O Brasil também corrigiu sua meta climática, alterada pela gestão passada, reassumindo a ambição acordada no Acordo de Paris, de 2015. 

"Há um grande interesse em transformação energética, infraestrutura para o desenvolvimento sustentável,  bioeconomia, economia circular, adensamento tecnológico, finanças sustentáveis", afirmou a ministra. "Os debates que fizemos aqui não deixam dúvidas de que o Brasil é o endereço dos investimentos sustentáveis, sobretudo quando se pensa em segurança alimentar, na implementação de uma agricultura de baixo carbono e no processo de reindustrialização verde."

Segundo relatório anual de riscos globais do Fórum Econômico Mundial, eventos climáticos extremos serão os maiores riscos globais nos próximos dois anos, apenas atrás da desinformação. Na próxima década, de acordo com o estudo, os maiores riscos serão: eventos climáticos extremos, mudanças críticas nos sistemas da Terra, perda de biodiversidade e colapso ecossistêmico, escassez de recursos naturais e desinformação. 

A ministra destacou a importância de uma transição justa, que considere as diferenças entre os países e a necessidade de financiamento climático para que as nações em desenvolvimento possam se adaptar e mitigar a mudança do clima. Davos, afirmou Marina, é um palco importante para o debate:

"O Fórum Econômico Mundial pauta cada vez mais os temas ambientais, sobretudo a mudança do clima, e é um lugar onde se pode fazer a diferença do ponto de vista dos investimentos sustentáveis", afirmou a ministra. "Se houver a decisão empresarial e política de fazer uma transformação que enfrente a mudança climática e da desigualdade, poderemos ter um novo ciclo de prosperidade." Foto: Estevam / Audiovisual / PR

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