Mari Anna Batista cultiva laranja pera na cidade de Inhambupe, Bahia. Hoje, com a ajuda do marido e da cunhada, ela possui 200 hectares irrigados da fruta e uma produção anual de 6 mil toneladas de laranja. Além do empenho de Mari no campo, a paixão pelo que ela faz está nos olhos e na fala dela.
“Ser produtor rural é mágico. A gente produz alimentos para outras pessoas. Quando essa laranja que a gente produziu aqui, chega na casa de um cliente, ela demorou 9 meses para chegar lá e isso quem fez foi a gente aqui no campo. Às vezes ela chega em locais que a gente nem imagina, mas nove meses antes, alguém planejou essa florada, colocou produtos para acontecer de forma abundante, pra gente ganhar também em produtividade por hectare, para nove meses à frente aquele fruto estar lá. A citricultura é linda, é apaixonante.”
Mas foi
preciso uma longa estrada para que a agricultora atingisse a produção que ela
possui hoje. Mari começou em uma propriedade de 15 hectares que era do marido.
Ele trabalhava na área comercial da citricultura e, por não ter simpatia pela
parte de produção, disse que apoiaria a mulher, mas não poderia ajudá-la. Ela
então partiu para o cultivo de laranja, pois já tinham alguns hectares
plantados, e mamão, pois precisava de um retorno financeiro rápido para iniciar
o negócio. Com o tempo, a agricultora foi abandonando o mamão e ficando apenas
na laranja pera.
“Na época, eu engravidei e não
continuei na cultura do mamão, aí fiquei só na laranja. Já tinha ganhado
bastante conhecimento, porque o cultivo do mamão é bem intenso e
eu estudava bastante, adquiri bastante conhecimento em produtos, fitossanidade,
manejo de campo, logística de operação entre trator, máquina, o que fazer,
times agrícolas e aí fui tentando aplicar isso na laranja e foi dando certo. Ao
longo do tempo, fui estudando, não pegava celular e nem internet aqui, mas
vendiam aqueles cursos em CD-rom e eu fui fazendo coleção de cursos, era
calagem, fertilizante, nutrição, citricultura e eu ia fazendo nos horários
vagos, estudando, tentando aplicar isso e foi dando certo. Aí chegou a internet
para melhorar a comunicação. Para quem gosta mesmo de estudar e aplica no dia a
dia é fundamental, pois aproxima muito o conhecimento.”
Mari trilhou esse caminho de conquistas no agronegócio pois se apoiou
no conhecimento, mesmo tendo começado em uma época em que a tecnologia ainda
não ajudava, ela não se abalou. Buscava opinião de amigos e parentes e fazia
cursos por CD-rom - um tipo de disco compacto que era usado nos computadores no
final dos anos 90. Hoje, ela é uma pessoa que faz no agronegócio.
“A pessoa que faz é a pessoa
determinada, que vai e faz acontecer, não espera, ela tenta fazer tudo dar
certo. Se não der certo, bota para dar certo. Eu acho que essa pessoa é a que
faz. E para isso precisa de mais pessoas ajudando, precisa de ferramentas,
precisa de uma Chevrolet S10 para ajudar no contexto e ela ajuda, ela ajuda a
pessoa que faz.”
Também foi a tecnologia que ajudou Mari a contornar as intempéries. No
passado, a agricultora sofreu com algumas secas e esses desafios foram
primordiais para que ela tomasse a decisão de irrigar os pomares. Hoje, além da
irrigação, muitas outras ferramentas já são utilizadas na propriedade.
“Tudo que chega para gente em forma de tecnologia já foi estudado, reestudado e chega ali para colocar no sistema e ver como é que adapta, porque cada propriedade é um mundo, cada região é diferente, é muito heterogêneo. O que funciona melhor num lugar, pode não funcionar tão bem em outro, então cabe a gente ir testando essas tecnologias e aprimorando do melhor jeito para o nosso trabalho. Mas não existe mais agricultura sem o mínimo de tecnologia.”
“Ser mulher no agronegócio é bom e eu nunca encontrei barreiras
quanto a isso, para falar a verdade, sempre foi natural para mim, porque eu
sempre levei de uma forma natural e quando você faz o que gosta, vai mostrando
conhecimento e resultado, vai acontecendo de uma forma boa. O que eu acho muito
bacana realmente é inspirar outras pessoas, porque às vezes uma filha de um
vizinho olha e fala: ‘Se ela tá ali, eu também posso, eu também vou’, aí começa
a fazer amizade, tenta ver como é, porque às vezes a mulher quer, mas ela não
sabe nem como começar. Tem umas que são bloqueadas por achar que não é coisa de
mulher. Às vezes existe essa diferenciação e tem espaço para todo mundo, é só
ocupar os espaços.”
Mari Anna está construindo sua história no agronegócio com muita
determinação. Ela que começou apenas com a força de vontade, estudando por
CD-rom, hoje, aos 34 anos, é uma referência na citricultura. Mari tem paixão
pelo que faz, mas também tem alegria e bom humor para encarar o dia a dia do
produtor rural brasileiro. E ela quer ir além, pois deseja mostrar o poder da
agricultura baiana para o mundo. Por isso, seu maior sonho hoje é que os filhos
a sucedam um dia no cultivo da laranja pera.
“Eu penso em construir esse
contexto familiar dos meus filhos, porque nós,
eu, meu marido e minha cunhada, somos precursores. Eu tenho muita esperança e
muita vontade que eles deem sequência no nosso trabalho. Eles crescerem e já
terem algo para colocar para frente, eu acho que é mais confortável pensando
como mãe. Tudo que eu faço é pensando neles para construir alguma coisa para
eles darem sequência nisso tudo e viverem bem e felizes. Eu tento
contextualizar sempre, trazer eles para perto e acho que essa questão de formar
eles como sucessores é um dos meus sonhos. Se não rolar, que eles sejam felizes
e façam com amor o que eles escolherem,
mas se rolar e estiverem aqui, vai ser maravilhoso, porque tem espaço e trabalho
também.” Informações g1 /