Na manhã desta quarta-feira (10), o ex-juiz filiou-se ao partido Podemos, em cerimônia ocorrida no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
Entre outras coisas, Moro destacou sua trajetória como
magistrado na Lava Jato, afirmando ser uma pessoa confiável e que, nas palavras
dele, nunca abriu mãos de princípios por “ambições pessoais”.
Apesar da filiação, o ex-magistrado ainda não formalizou
qual cargo vai disputar na eleição no ano que vem. No entanto, o evento da
legenda fez anúncios como ‘futuro presidente da República’.
Leia a íntegra do discurso de Sergio Moro:
Bom
dia. Quero agradecer a todos vocês que vieram, gentilmente, de longe ou de
perto, para prestigiar este evento. Aos filiados do podemos, aos filiados de
outros partidos políticos, senadores, deputados, prefeitos, vereadores,
servidores públicos e cidadãos em geral. Agradeço também aos empresários e
trabalhadores aqui presentes. Sei que muita gente veio de lugares distantes e
com sacrifícios.
Eu
confesso que estou um pouco ansioso quanto a falar hoje neste palco. Não tenho
uma carreira política e não sou treinado em discursos. Alguns até dizem que não
sou eloquente e não gostam da minha voz…
Mas,
se eventualmente eu não sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que
sou alguém em que vocês podem confiar. A vida pública me testou mais de uma
vez, como juiz da Lava Jato e como ministro da Justiça. Vocês conhecem a minha
história e sabem que tomei decisões difíceis e que nunca recuei do desafio, nem
repudiei meus princípios para alimentar ambições pessoais. Por isso, peço
atenção às minhas palavras, muito além da minha voz. O Brasil não precisa de
líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam
a voz do povo brasileiro.
Quero
contar para vocês um pouco sobre minha história. Eu nunca fui um político. Fui
juiz por 22 anos e me dediquei a fazer justiça aplicando a lei. Meu propósito
sempre foi ser justo com todos. Julguei casos de pessoas necessitadas, que
procuravam a Justiça por amparo assistencial.
Depois,
na área criminal, julguei processos de grandes traficantes de drogas, de
ladrões de banco e de pessoas que pagaram ou receberam suborno. Tudo para
proteger as pessoas, as vítimas e o povo brasileiro.
Fui
juiz dos casos da operação Lava Jato em Curitiba. Foi um momento histórico:
quebramos a impunidade da grande corrupção de uma forma e com números sem
precedentes. Julgamos e condenamos pessoas poderosas do mundo dos negócios e da
política que, pela primeira vez, pagaram por seus crimes.
Mais
de R$ 4 bilhões foram recuperados dos criminosos e tem uns R$ 10 bilhões
previstos ainda para serem devolvidos. Isso nunca aconteceu antes no Brasil.
Eu
sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da Lei. Na época,
todos diziam que era impossível fazer isso, mas nós fizemos. Claro, com grande
apoio da população brasileira. Juntos, eu, você, nós, mostramos que a Lei se
aplica a todos.
Em
2018, recebi um convite do presidente eleito para ser ministro da Justiça. Como
todo bom brasileiro, eu tinha, em 2018, esperança por dias melhores. Como todo
brasileiro, eu pensava no que havíamos presenciado nos últimos anos: os grandes
casos de corrupção sendo revelados dia após dia, os pixulecos, as contas na
suíça e milhões de reais ou dólares roubados.
A
Petrobrás foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como ‘nunca
antes na história deste País’. Apartamentos forrados de dinheiro roubado em
espécie, e uma persistente recessão provocada pelos mesmos governos que
permitiram tudo isso, com as pessoas comuns desempregadas e empobrecendo.
Era
um momento que exigia mudança. Eu, como juiz da Lava Jato me sentia no dever de
ajudar. Havia pelo menos uma chance de dar certo e eu não podia me omitir:
aceitei o convite e ingressei no governo. O meu objetivo era melhorar a vida
das pessoas por meio de um trabalho técnico, principalmente, reduzindo a
corrupção e outros crimes.
Conseguimos
de fato, em 2019, diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer o
crime organizado. Cerca de dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas
pelo crime neste meu primeiro ano como ministro da justiça.
Combatemos,
com afinco, o crime organizado. Isolamos, por exemplo, em presídios federais as
lideranças das gangues mais perigosas do país. Ninguém combateu o crime
organizado de forma mais vigorosa do que o ministério da Justiça na nossa
gestão. Até quem não gosta de mim reconhece isso. Disseram que reduzir crimes
no Brasil e combater o crime organizado era impossível, mas isso foi feito.
O
meu desejo era continuar atuando, como ministro, em favor dos brasileiros.
Infelizmente, não pude prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não o fiz
por poder ou prestígio. Eu acreditava em uma missão. Queria combater a
corrupção, mas, para isso, eu precisava do apoio do governo e esse apoio me foi
negado.
Quando
vi meu trabalho boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo
combateria a corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como
ministro seria apenas uma farsa. Nunca renunciarei aos meus princípios e ao
compromisso com o povo brasileiro. Nenhum cargo vale a sua alma.
Depois
que saí do governo, precisei, então, como a maioria do povo brasileiro, buscar
um emprego a fim de ganhar a vida. Eu precisava trabalhar, nunca enriqueci
sendo juiz ou ministro. Tenho família para cuidar.
Recebi
um convite para trabalhar no exterior e aceitei. Eu acreditei que ficar longe
por um tempo me ajudaria a refletir melhor sobre o Brasil. Estava cuidando de
minha vida privada, distante dos olhos do público e da imprensa. Mas via com
extrema preocupação o desdobrar dos fatos desde a minha saída do governo. Mesmo
fora do País, nunca deixei o Brasil longe de meu coração.
Estamos
no final de uma pandemia que afligiu o mundo e só no Brasil deixou mais de 600
mil vítimas. Vi consternado o crescer do número de vítimas e a desolação das
famílias. Não há um brasileiro ou brasileira que não tenha perdido alguma
pessoa querida, um parente ou um amigo.
Não
há um verdadeiro brasileiro ou brasileira que não tenha se emocionado com essas
perdas. Registro meu pesar por todas as vítimas e por aqueles que sofreram com
a perda delas. Aproveito para endereçar minhas homenagens aos médicos,
enfermeiros e cientistas, que foram os verdadeiros heróis. Muitos colocaram a
sua vida em risco para salvar a de outros. Eles também mostraram o valor da
ciência e do nosso sistema único de saúde.
Junto
com a pandemia, vimos com tristeza outros flagelos. Escolas sem aulas por falta
de estrutura. Empregos e negócios sendo perdidos. Mercados, padarias e
restaurantes de portas fechadas. A pobreza e a fome sendo espalhadas. Pais e
mães com dificuldades para cuidar de seus filhos. O jovem e o idoso,
esperançosos por conseguir um trabalho, encontrando ao revés o desemprego.
Como
se não bastasse, mesmo com o fim próximo da pandemia, a economia não vai bem.
As pessoas ainda estão sofrendo. Há brasileiros passando fome. Isso dói em
todos nós. A inflação está muito alta: os técnicos falam em um número, mas quem
vai no posto de gasolina ou na mercearia sabe que é muito mais.
Os
juros subiram, dificultando ainda mais a vida do empresário, do agricultor ou
das pessoas comuns. E os juros ainda vão subir neste governo e isso vai tornar
a vida das pessoas ainda mais difícil. Não falo por ser pessimista, mas porque
o país está indo para o rumo errado. Como exemplo, é só olhar o número elevado
de pessoas desempregadas e há quanto tempo as coisas estão assim. Desde a época
do governo do PT, o desemprego começou a crescer e não parou mais: Atualmente
são 14 milhões de desempregados, sem contar aqueles que já desistiram de
procurar empregos… e sem perspectivas de melhorar.
Ao
mesmo tempo, os avanços no combate à corrupção perderam a força. Foram aprovadas
medidas que dificultam o trabalho da polícia, de juízes e de procuradores. É um
engano dizer que acabou a corrupção quando na verdade enfraqueceram as
ferramentas para combatê-la.
Quase
todo dia ouvimos notícias de criminosos sendo soltos, normalmente com base em
formalismos ou argumentos que simplesmente não conseguimos entender. O que no
fundo a gente entende é que criminosos poderosos estão escapando impunes de
seus crimes e que a Lei não está valendo para todos.
Fica
aquela sensação amarga de que não existe lei, de que não existe Justiça. Como
se a Petrobrás não tivesse sido saqueada, como se tudo o que foi feito não
tivesse valido e como se não tivessem importância as manifestações de milhões
de brasileiros contra a corrupção em 2015 e 2016.
Desde
que me entendo por gente, ouço as pessoas falarem que o Brasil é um País
injusto. Que precisamos fazer reformas, mexer nas leis para que o país melhore,
para que as coisas comecem a funcionar, para que as pessoas tenham escolas
decentes para seus filhos e hospitais que resolvam seus problemas.
Para
que a estrada cheia de buracos seja asfaltada, para que as pessoas possam andar
com segurança na rua. Mas as reformas nunca chegam ou quando chegam são
malfeitas. E o Brasil fica sendo esse País do futuro e nós nos perguntamos:
quando vai chegar o futuro do País do futuro?
E,
ao olharmos para as reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é
que ninguém está pensando nas pessoas. Mesmo quando se quer uma coisa boa, como
esse aumento do Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, que são importantes para
combater a pobreza, vem alguma coisa ruim junto, como o calote de dívidas, o
furo no teto de gastos e o aumento de recursos para outras coisas que não são
prioridades.
Quando
o governo resolve vender uma empresa estatal como a Eletrobrás, aprova junto
uma série de jabutis, coisas que ninguém entende direito, mas que na prática
todo mundo sabe que significa que a conta de luz vai ficar mais cara para
alguém ganhar mais dinheiro.
E
aí o governo gasta mais do que pode e lá vem mais inflação e mais juros. E
assim o País não cresce e não se vê emprego. E, com tudo isso, as pessoas
passam a acreditar que não há governo, que não há futuro, que estamos sozinhos
e que tudo é inútil.
Meu
amigo e minha amiga, todas essas coisas estão relacionadas: se o Brasil está
parado e não vai adiante, não é porque não sabemos o que precisamos fazer.
Ninguém tem dúvida de que precisamos melhorar a vida das pessoas. Todo mundo
também sabe que quem desvia dinheiro público tem que ser punido e não premiado.
Todo
mundo sabe que o dinheiro desviado é o hospital e a escola sucateadas. O
problema é que não conseguimos fazer o que sabemos que precisamos fazer, porque
as estruturas do poder foram capturadas. Elas passaram a servir a si mesmas e
já não servem ao povo.
Parte
disso é corrupção, como a que vimos e nos assustou na Lava Jato. Mas outra
parte é a degeneração maior da vida política: a busca do interesse público foi
substituída pela busca egoísta dos interesses próprios e dos interesses
pessoais e partidários. É a máquina pública voltada para si mesma. Isso explica
por que o Brasil continua sem futuro, com o povo brasileiro sem justiça, sem
emprego e sem comida.
Eu
sonhava que o sistema político iria se corrigir após a Lava Jato. Que a
corrupção passaria a ser coisa do passado e que o interesse da população seria
colocado em primeiro lugar. Isso não aconteceu, infelizmente. E embora tenha
muita gente boa na política, nós não vemos grandes avanços.
Após
um ano morando fora, eu resolvi voltar. Não podia ficar quieto, sem falar o que
penso, sem pelo menos tentar mais uma vez, com você, ajudar o país. Então
resolvi fazer do jeito que me restava: entrando para a política, corrigindo
isso de dentro para fora.
A
gota d’água para mim foi encontrar um estudante brasileiro no exterior que me
perguntou “Moro, é verdade que você abandonou o Brasil?”. Aquilo foi como um
tiro no meu coração. Eu não poderia e nunca vou abandonar o Brasil.
Se
necessário, eu lutaria sozinho pelo Brasil e pela Justiça. Seria Davi contra
Golias. Mas, ao ver esse auditório, tenho certeza que não estou sozinho.
Tenho
essa mesma certeza quando eu encontro as pessoas nas ruas, nos mercados, nas
escolas, em qualquer lugar, e elas estão com um sorriso no rosto, me
cumprimentam ou elogiam pelo trabalho que foi feito na Lava Jato ou no
Ministério da Justiça. Então, voltei ao Brasil para ajudar a construir um
projeto que é de muitos.
Nenhuma
pessoa pode ter um projeto só para si mesmo. Ninguém existe só para si mesmo.
Para isso, resolvi entrar na vida política e filiar-me ao podemos, um partido
que apoia as pautas da Lava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um
partido, é um projeto de País aberto para adesão por todos os demais partidos,
pela sociedade brasileira, do empresário ao trabalhador, por todo cidadão e
cidadã brasileiros. É o seu projeto, que estava aí, aguardando o momento certo.
Chegou a hora.
Queremos
construir juntos esse projeto, ouvindo as ideias de todos. Não é só um projeto
para reconstruir o combate à corrupção. Isso faz parte dele, mas ele vai muito
além. É um projeto para construir o País. É um projeto de reconstrução de todos
os sonhos perdidos. Nesse projeto, não há espaço para o medo, não há espaço
para reações agressivas, mas também não há espaço para timidez. Queremos juntos
construir hoje o Brasil do futuro.
Quero
compartilhar algumas ideias que tenho para esse projeto. Alerto que são ainda
apenas algumas ideias de um projeto maior e que será formulado junto com os
brasileiros e as brasileiras. Tenho ouvido especialistas, mas queremos ouvir
todo mundo sobre ele.
Precisamos
recuperar a ideia de que vivemos e dividimos o mesmo País, de que somos todos
irmãos, amigos e vizinhos. Podemos até divergir em alguns assuntos, mas temos,
como brasileiros, mais pontos em comum do que diferenças. Então nosso projeto é
forte, é vigoroso, mas não é agressivo.
Nossas
únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com
caridade e sem malícia. Respeitaremos aqueles que gostam e aqueles que não
gostam de nós. O Brasil é de todos os brasileiros e nosso caminho jamais será o
da mentira, das verdades alternativas ou de fomentar divisões ou agressões de
brasileiro contra brasileiro.
Incluo
aqui nessa atitude de respeito e generosidade, a imprensa. Chega de ofender ou
intimidar jornalistas. Eles são essenciais para o bom funcionamento da
democracia e agem como vigilantes de malfeitos dos detentores do poder. A
liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremos estimular agressões. Jamais
iremos propor o controle sobre a imprensa, social ou qualquer que seja o nome
com que se queira disfarçar a censura e o controle do conteúdo. Isso vale para
mim e para qualquer pessoa que queira nos apoiar.
Precisamos
proteger a família brasileira contra a violência, contra a desagregação e
contra as drogas que ameaçam nossas crianças, jovens e adultos. Propomos
incentivar a virtude e não o vício, uma sólida formação moral e cidadã. Nosso
projeto de redução da criminalidade violenta, do combate ao crime organizado e
ao tráfico de drogas precisa ser retomado com todo o vigor, sempre na forma da
Lei, e buscando recuperar aqueles que se desviaram do bom caminho.
Mas
agiremos sempre com a compreensão de que nessa nossa sociedade cada vez mais
plural todos merecem ser tratados com respeito e sem qualquer forma de
discriminação. Precisamos de uma sociedade inclusiva, que acolha as diferenças,
e precisamos também de uma sociedade que respeite todas as crenças e religiões.
Nessa
sociedade inclusiva, merecem especial atenção as pessoas com deficiência e as
pessoas com doenças raras. Aprendi a admirá-las por meio de minha esposa,
Rosângela, com quem sou casado há 22 dois anos e tenho dois filhos. Minha
esposa é advogada e atende pessoas com deficiência, pessoas com doenças raras e
igualmente associações que promovem os direitos delas. Ela me despertou quanto
à importância da adoção de políticas que atendam a essas pessoas em suas
necessidades específicas e que permitam que seus talentos e habilidades possam
florescer.
Acreditamos
na capacidade empreendedora e inovadora de cada brasileiro. Todo cidadão tem o
potencial de se tornar uma versão melhor de si mesmo. E, quero lhe dizer, esta
é minha crença fundamental, que cada indivíduo tem a sua dignidade e tem a
capacidade de se aprimorar continuamente.
Por
acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre
empresa e a livre iniciativa, sem que o governo tenha que interferir em todos
os aspectos da vida das pessoas. Precisamos reformar nosso sistema confuso de
impostos. Há quanto tempo falamos nisso sem fazer? Precisamos privatizar
estatais ineficientes. Precisamos abrir e modernizar nossa economia buscando
mercados externos. O tempo é de inovação e não podemos ficar para trás nesse
mundo cada vez mais dinâmico e competitivo.
Mas
nesse país que compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos
um capitalismo cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça,
os nossos valores cristãos e que são compartilhados pelas outras religiões,
exigem que as grandes desigualdades econômicas sejam superadas.
Uma
das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a
miséria. Isso já deveria ter sido feito anos atrás. Para tanto, precisamos mais
do que programas de transferência de renda como o Bolsa-Família ou o
Auxílio-Brasil. Precisamos identificar o que cada pessoa necessita para sair da
pobreza.
Isso
muitas vezes pode ser uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma
oportunidade de trabalho. As pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio
sustento. Precisamos atender a essas carências com atenção específica. E, como
medida prioritária, sugerimos a primeira operação especial: a criação da
Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza, convocando servidores e especialistas
das estruturas já existentes.
Ela
será uma força-tarefa permanente e atuará como uma agência independente e sem
interesses eleitoreiros, com a missão de erradicar a pobreza no país. Muita
gente pensa que isso é impossível, como diziam que era impossível combater a
corrupção. Não é, e nem precisa destruir o teto de gastos ou a responsabilidade
fiscal para fazê-lo. Nós podemos erradicar a pobreza e esse é o desafio da
nossa geração.
Propomos
investir na educação de qualidade. Quem vai para a escola pública tem que
encontrar ensino da mesma qualidade que o das escolas privadas. Eu, menino
crescido no interior do Paraná, na minha querida Maringá, fiz tanto escola
pública como privada.
Na
minha época, a qualidade de ensino era parecida, então é possível fazer com que
seja de novo. O futuro do Brasil depende do presente da educação pública e
privada. Queremos trazer os pais para participarem mais da vida das escolas.
Queremos incentivar a inovação e a dedicação dos professores, cobrar metas e
desempenho, premiar os bons por mérito, sem procurar vilões.
Queremos
diversificar o ensino e tornar real em todo o País, o que a lei já autoriza:
que os alunos possam escolher parte das disciplinas e, fazendo isso, estudarem
com maior motivação. Propomos expandir o ensino em período integral. Se isso é
custoso e se for necessário escolher, vamos primeiro para os lugares mais
carentes e depois expandimos. Precisamos de tecnologia e internet nas escolas.
É preciso abraçar essas políticas como um grande programa nacional.
Queremos,
como pais e mães, que nossos filhos e que os filhos de nossos filhos tenham um
futuro melhor do que o nosso e isso depende da educação. A escola deve ser um
lugar para matemática, tecnologia, ciências, cultura e literatura, um lugar de
liberdade e de aprendizado.
Precisamos
falar sobre corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas
isso é impossível. Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de
punição. É um projeto de justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas
de poder sejam capturadas e dessa forma viabilizar as reformas necessárias para
melhorar a vida das pessoas.
É
um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de todos e não
apenas de alguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão,
chega de rachadinha. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a
população.
Propomos,
sem mais delongas, aprovar a volta da execução da condenação criminal em
segunda instância, para que a realização da justiça deixe de ser uma miragem.
Precisamos garantir a independência do Ministério Público, respeitando as
listas, e a autonomia da Polícia com mandatos para os diretores, impedindo que
haja interferência política em seu trabalho.
Propomos
ainda a criação de uma corte nacional anticorrupção, à semelhança do que
fizeram outros países, usando as estruturas já existentes e convocando juízes e
servidores vocacionados para essa tão importante missão.
Precisamos
cuidar do futuro e do que vamos deixar para as novas gerações. O Brasil é um
País que historicamente respeitou e protegeu o meio ambiente. Temos a maior
floresta do mundo, a Amazônia. Infelizmente, alguns veem a floresta como um
incômodo e hoje nossa imagem no exterior é péssima.
Mas
a floresta é um patrimônio valioso e precisamos mudar a percepção do mundo a
nosso respeito. Precisamos dar oportunidades de desenvolvimento para quem vive
na região da Amazônia, mas precisamos proibir o desmatamento e as queimadas
ilegais. Promover as ações e usar as palavras certas, considerando a população
local.
O
futuro do mundo depende da preservação do meio ambiente, para prevenir a
mudança climática. O Brasil pode ser não só o celeiro do mundo, com a nossa pujante
agricultura, com pequenos e grandes proprietários, mas também a liderança e o
exemplo para o mundo na preservação da floresta, no fomento da exploração de
energias limpas e na criação de uma economia verde, sustentável e de baixo
carbono.
Isso
nos trará investimentos e nos fará orgulhosos de nosso País. Somos detentores
dessa enorme riqueza verde e, infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos
anos. Isso pode e deve ser consertado. O Brasil deve ser o líder e o orgulho do
mundo na economia verde e sustentável.
Precisamos
cuidar da defesa nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças
Armadas. O militar não é diferente dos outros. Somos todos brasileiros. Devemos
respeitá-las como instituição de Estado e jamais utilizá-las para promover
ambições pessoais ou interesses eleitorais. As forças armadas pertencem aos
brasileiros e não ao governo.
Para
que todo esse projeto tenha credibilidade, para que possamos demonstrar com
sinceridade o nosso desejo de reconstruir o País e de reformar as instituições,
nós precisamos provar que estamos dispostos a sacrifícios. Que a classe
dirigente, que a classe política, não terá por foco aumentar o seu poder ou
seus privilégios, e que agirá para beneficiar a todos, pensando no bem comum e
no interesse público.
Para
tanto, proponho, desde o início, a eliminação de dois privilégios da classe
dirigente. O fim do foro privilegiado que trata o político ou a autoridade como
alguém superior ao cidadão comum, e o fim da reeleição para cargos no poder
executivo. O foro privilegiado tem blindado políticos e autoridades da apuração
de suas responsabilidades. Não precisamos dele. Eu nunca precisei quando juiz
ou ministro. Não deve existir para ninguém e para nenhum cargo, nem para o
presidente da República.
Quanto
à reeleição para cargos no poder executivo, devemos admitir que é uma
experiência que não funcionou em nosso País. O presidente, assim que eleito,
começa, desde o primeiro dia, a se preocupar mais com a reeleição do que com a
população, está em permanente campanha política. E ainda tem o risco de gerar
caudilhos, populistas ou ditadores, de esquerda ou de direita, pessoas que se
iludem com o seu poder e passam a ser uma ameaça às instituições e à
democracia, seja por corrupção ou por violência. Não devemos mais correr esses
riscos.
Entendo
que se nós, da classe política, cortarmos nossos privilégios, daremos um bom
exemplo e conseguiremos a credibilidade necessária para aprovação de outras
reformas dirigidas a melhorar a vida das pessoas. Vamos gerar um ambiente de
confiança e um ciclo virtuoso em favor das reformas, fomentando investimentos,
gerando empregos, recolocando o governo na trilha certa. Ele existe para ajudar
as pessoas e não o contrário. O governo tem que estar a serviço das pessoas e
não dos políticos.
Essas
são apenas algumas ideias para o nosso projeto de País. Queremos construí-lo
com vocês aqui presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro. Podemos
construir juntos um Brasil justo para todos. Esse não é um projeto pessoal de
poder, mas sim um projeto de País. Nunca tive ambições políticas, quero apenas
ajudar.
Se,
para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre
estará à disposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba
que será difícil. Há outros bons nomes que têm se apresentado para que o País
possa escapar dos extremos da mentira, da corrupção e do retrocesso.
Todos
nós sabemos que teremos em um momento que nos unir para uma tarefa maior do que
cada uma das pessoas envolvidas. Mas precisamos nos unir em torno de um projeto
que tenha pelo menos as seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como
meio de viabilizar as reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades,
controlar a inflação, preservar a responsabilidade fiscal, fomentar o emprego e
o desenvolvimento sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança
de qualidade, proteger a família, cultivar as liberdades e o respeito com o
próximo e com o diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos.
Pretendo
atuar como um guardião vigoroso do interesse público, como um protetor dos
direitos de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil poderá confiar que
este filho teu não fugirá à luta e que jamais deixará o seu interesse pessoal,
ou de seus filhos ou de sua família, ou mesmo de seus amigos ou de seu partido
político, acima do interesse do povo brasileiro.
Jamais usarei o Brasil para ganho pessoal. Vocês sabem que podem confiar que eu sempre vou fazer a coisa certa. Ninguém irá roubar o futuro do povo brasileiro. Estou, portanto, recomeçando hoje, à disposição de vocês, por um Brasil justo para todos.
Muito obrigado.