O Brasil chegou nesta sexta-feira (19) a 60,12% da população com o esquema primário da vacina contra Covid completo, ou seja, pessoas que receberam duas doses ou o imunizante de dose única. Apesar do número animador, a experiência internacional mostra que os cuidados para evitar o coronavírus ainda precisam permanecer, destacam especialistas.
Os 60% foram alcançados com os registros, nesta
sexta, de 823.821 segundas doses e 4.845 doses únicas. Além disso, o Brasil
também computou 171.208 primeiras doses e 402.056 doses de reforço.
Com
os novos dados, 157.646.149 pessoas receberam pelo menos a primeira dose de uma
vacina contra a Covid no Brasil – 123.699.538 delas já receberam a segunda dose
do imunizante. Somadas as doses únicas da vacina da Janssen contra a Covid, já
são 128.251.431 pessoas com as duas doses ou com uma dose da vacina da Janssen.
Assim,
o país já tem 73,90% da população com a 1ª dose.
Considerando somente a população adulta, os valores para primeira dose e segunda dose são, respectivamente, 97,26% e 79,12%.
Os dados são do consórcio de veículos de imprensa, colaboração entre Folha de
S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar
os números relativos à pandemia do novo coronavírus.
O
número pode ser considerado elevado em relação à realidade de outros países,
levando em conta o tamanho da população brasileira e o fato de termos iniciado
a vacinação depois de locais como Reino Unido e Estados Unidos.
Os
EUA, inclusive, já foram deixados para trás pelo Brasil em relação ao
percentual de população totalmente vacinada. Segundo dados do CDC (Centro de
Controle de Doenças), os EUA têm 58,9% de vacinados com as duas doses ou a
vacina de dose única.
O país norte-americano iniciou sua campanha em 14 de dezembro de 2020. O Brasil, por sua vez, começou em 17 de janeiro de 2021.
Considerando só a América do Sul, o Brasil está atrás de Chile e Uruguai,
respectivamente com cerca de 82% e 75% de população com esquema primário
completo, segundo dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade
de Oxford. O Chile deu início à vacinação em 24 de dezembro, enquanto o Uruguai
só em 1º de março.
Apesar
do avanço da vacinação no Brasil e das taxas de casos e mortes em patamares
mais baixos, em relação aos altíssimos níveis de meses passados, a empolgação
deve ser contida, alertam cientistas.
Até
mesmo países com níveis de vacinação mais elevados que os do Brasil voltaram,
recentemente, a enfrentar um novo crescimento de contaminações.
A
Alemanha, por exemplo, vem registrando recordes em uma quarta onda da doença e
vê subir a ocupação hospitalar. O país tem 67% da população com esquema
primário de vacinação completo e 70% com ao menos uma dose.
A
Áustria, com quase 64% de pessoas com esquema primário completo, é outro país
em que a situação crítica de novas contaminações levou ao anúncio de um novo
lockdown.
"Sessenta
por cento não dão nenhuma segurança de que a pandemia esteja sob
controle", avalia Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da
SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
A
infectologista afirma que é necessário também levar em conta que, entre cinco e
seis meses após a segunda dose, observa-se uma redução na proteção, o que deve
jogar um pouco para baixo a porcentagem de imunizados. Daí a importância das doses
de reforço, que já são aplicadas em diversas partes do mundo, inclusive no
Brasil.
Segundo
Stucchi, o Ministério da Saúde tomou uma decisão acertada ao abrir a dose de
reforço para toda a população adulta que já tenha completado cinco meses após a
segunda aplicação.
Além
disso, há outras particularidades na porcentagem alcançada, que dizem respeito
à população total do país, alerta Renato Kfouri, pediatra e diretor da SBIm
(Sociedade Brasileira de Imunizações).
A
vacina para Covid não está autorizada no Brasil para pessoas com menos de 12
anos. Dessa forma, levar em conta a população brasileira inteira pode gerar um
certo ruído nos números observados. Considerando somente as pessoas com mais de
12 anos, o percentual com ciclo primário de vacinação completo chega a 71%.
Em
outros países, porém, a vacina contra a Covid já é usada em crianças. Nos EUA,
a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, com o imunizante da Pfizer, já ocorre
desde o início de novembro.
No
Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebeu, no fim da
semana passada, o pedido da Pfizer para uso da vacina contra a Covid em
crianças, nessa mesma faixa etária.
O
Instituto Butantan, responsável pela produção da Coronavac no Brasil, também
havia pedido autorização para uso da vacina em crianças e adolescentes de 3 a
17 anos. A Anvisa, porém, negou o pedido, porque, segundo a agência, o estudo
apresentado tinha somente 586 participantes e não apresentava informações sobre
subgrupos etários.
Desde
a negativa inicial da Anvisa ao Butantan, em 18 de agosto, o processo está
emperrado, sem a apresentação de um novo pedido de uso pelo instituto paulista.
Sobre
a quantidade ideal de doses e intervalos de tempo, Kfouri afirma que ainda
estamos aprendendo qual é o melhor esquema vacinal para cada imunizante e,
assim, as recomendações podem sofrer alterações ao longo do processo.
O
especialista exemplifica que até a idade pode acabar impactando no melhor
esquema, considerando que em idosos existe a possibilidade de a proteção ter
uma duração menor. "Ainda é cedo para falarmos qual o esquema primário de
cada vacina e para cada idade", afirma.
Por
fim, a plataforma de desenvolvimento das vacinas (por exemplo, RNA mensageiro,
como a da Pfizer, ou de vírus inativado, como a Coronavac) também influencia
nos esquemas, observa Kfouri.
Recentemente,
a farmacêutica AstraZeneca enviou à Anvisa o pedido para incluir, na bula do
imunizante, uma terceira dose da Covishield. A Pfizer também já apresentou
publicamente dados sobre a aplicação de uma dose extra de sua vacina.
Também
na última semana, o Ministério da Saúde afirmou que a vacina da Janssen, antes
tida como de dose única, agora deve contar com duas doses e, assim como os
demais imunizantes aprovados no país, ter uma dose de reforço após cinco meses.
A decisão pegou de surpresa a Anvisa e a farmacêutica responsável pela vacina.
Mortes
O
Brasil também registrou 234 mortes por Covid e 11.910 casos da doença, nesta
sexta. Com isso, o país chegou a 612.411 vidas perdidas e a 22.001.369 pessoas
infectadas pelo Sars-CoV-2 desde o início da pandemia.
Já as médias móveis estão em estabilidade, ou seja, sem variações superiores a 15%, em relação ao dado de duas semanas atrás. A média de mórtes agora é de 211 por dia e a de infecões é de 8.631. folhapress / Foto: Myke Sena/MS