Cientistas da África do Sul detectaram uma nova variante do coronavírus Sars-Cov-2 potencialmente mais transmissível e que representa uma "grande ameaça" aos esforços para conter a pandemia, anunciaram autoridades do país nesta quinta-feira (25/11).
O ministro da Saúde sul-africano, Joe
Phaahla, afirmou que a variante, chamada B.1.1.529, está por trás de um aumento
"exponencial" dos casos registrados no país.
"É agora uma variante de séria
preocupação que está impulsionando o aumento dos números", disse Phaahla
em coletiva de imprensa.
Na semana passada, a África do Sul
registrou em média cerca de 200 novas infecções diárias por covid-19. O número
subiu para mais de 1.200 nesta quarta-feira e explodiu para 2.465 nesta quinta.
Até agora, virologistas conseguiram identificar quase 100 casos ligados à nova
variante no país.
O Reino Unido foi rápido em
introduzir restrições de viagem à África do Sul e a cinco países vizinhos,
agindo com mais velocidade do que em variantes anteriores.
"O que sabemos é que há um
número significativo de mutações", disse o secretário britânico de Saúde,
Sajid Javid, à imprensa local. "E isso sugere que ela pode ser mais
transmissível e que as vacinas que temos hoje podem ser menos eficazes."
O Reino Unido proibiu temporariamente
voos partindo da África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zimbábue, Lesoto e
Suazilândia a partir desta sexta-feira. Já os viajantes britânicos que retornam
desses países devem fazer quarentena ao retornar.
O que se sabe sobre
a variante?
A B.1.1.529 possui múltiplas
mutações. Segundo os cientistas, isso ajuda o vírus a driblar a resposta
imunológica do corpo humano e a torná-lo mais transmissível.
"Embora os dados sejam
limitados, nossos especialistas estão trabalhando para além do horário com
todos os sistemas de vigilância estabelecidos para entender a nova variante e
quais seriam as possíveis implicações", afirmou Adrian Puren, diretor
executivo interino do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do
Sul.
Enquanto a variante delta possui
duas mutações e a variante beta – originária da África do Sul – possui três, a
B.1.1.529 teria pelo menos 32 mutações da proteína spike.
Christina Pagel, diretora da Unidade
de Pesquisa Operacional Clínica da University College de Londres (UCL) e
importante especialista britânica em covid-19, chamou a nova variante de
"extremamente preocupante".
Pessoas mais jovens parecem estar
contraindo e espalhando a variante recém-identificada. Cientistas afirmam,
porém, que as próximas semanas serão essenciais para determinar a gravidade e
as características de transmissão da cepa.
A nova variante já foi detectada na
província mais populosa da África do Sul, Gauteng, onde as cidades de
Joanesburgo e Pretória estão localizadas.
François Balloux, diretor do
Instituto de Genética da UCL, afirmou em comunicado que a B.1.1.529 pode estar
presente também em outras partes da África.
"Por enquanto, ela deve ser
monitorada e analisada de perto, mas não há razão para se preocupar
excessivamente, a menos que comece a aumentar sua incidência em um futuro
próximo", disse.
Acredita-se que até 90% dos novos
casos na província de Gauteng sejam da B.1.1.529, disseram os cientistas.
África do Sul pede
reunião com OMS
A África do Sul pediu ao grupo de
trabalho voltado a estudar a evolução do vírus na Organização Mundial da Saúde
(OMS) para que seja realizada uma reunião urgente na sexta-feira a fim de
discutir a nova variante.
Pesquisadores da Rede de Vigilância
Genômica na África do Sul afirmaram que testes PCR atuais foram capazes de
detectar a variante, que também foi encontrada em Botsuana e Hong Kong em
pessoas que partiram da África do Sul.
No ano passado, o país africano foi o
primeiro a detectar a variante beta, uma das quatro cepas classificadas como
"variantes preocupantes" pela OMS com base em evidências de que
elas são mais contagiosas e que as vacinas são menos eficazes contra elas.
Resistência à
vacina
A África do Sul é o país com os
maiores números de covid-19 na África, somando 2,95 milhões de casos de
infecção desde o início da pandemia e quase 90 mil mortes. Enquanto isso,
apenas 35,2% da população adulta está totalmente vacinada.
Mas não é por falta de doses. No
início da semana, as autoridades de saúde sul-africanas pediram à empresa
Johnson & Johnson para que suspenda a entrega de vacinas ao país, pois já
há estoque suficiente.
O ministro da Saúde Phaahla afirmou
que o número de cidadãos que procuram a vacina está caindo e que o país não
está conseguindo atingir a meta de 250 mil vacinações por dia.
ek (AP, Reuters, AFP) /