A ativista sueca Greta Thunberg, 18, culpou o governo brasileiro nesta sexta-feira (10) pela devastação da Amazônia. Em audiência pública realizada no Senado, ela atribuiu o aumento do desmatamento e das queimadas na região à política ambiental adotada no país.
Sem citar o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Greta classificou como vergonhosas as
atitudes dos líderes do Brasil em relação à natureza e aos povos indígenas.
“O Brasil não tem
desculpas para assumir sua responsabilidade. A Amazônia, os pulmões do mundo,
agora está no limite e emitindo mais carbono do que consumindo por causa do
desmatamento e das queimadas. Isso está acontecendo enquanto nós assistimos, isso
está sendo diretamente alimentado pelo governo. O mundo não pode arcar com o
custo de perder a Amazônia”, disse a jovem.
A Amazônia ajuda a
regular o clima global, mas a expressão “pulmão do mundo”, frequentemente
utilizada, não está correta.
É fato, porém, que
há o desmatamento vem crescendo na região. Em agosto, a Amazônia registrou mais
de 28 mil focos de queimadas —o terceiro pior resultado para o período nos
últimos 11 anos. Os números, disponibilizados pelo Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), só ficaram atrás dos registrados em 2019 e 2020, os dois
primeiros anos do governo Bolsonaro.
A ativista defendeu
ainda as causas dos povos indígenas e lembrou que muitos estão sendo ameaçados
e mortos no Brasil e em outros países.
“Esses acontecimentos
no Brasil têm colocado em risco essa população e a própria Floresta Amazônica”,
afirmou.
Greta falou por
aproximadamente cinco minutos durante sessão promovida pela Comissão de Meio
Ambiente para debater o último relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel
Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU).
Pela primeira vez,
o estudo quantificou o aumento da frequência e da intensidade dos eventos
extremos ligados às mudanças climáticas.
A ciência climática
já previa nas últimas décadas o aumento de eventos extremos, como tempestades,
enchentes, furacões, ciclones, secas prolongadas e ondas de calor.
Agora, com modelos
computacionais mais modernos, passou a ser possível atribuir o grau de
influência das alterações do clima nesses eventos, calculando-se quantas vezes
mais frequentes e mais intensos eles se tornam em função do aquecimento global.
Para o Brasil, o
relatório projeta aumento das chuvas fortes no Centro-Sul, com grandes volumes
de água concentrados em até cinco dias de chuva, enquanto o Nordeste e a
Amazônia devem sofrer com períodos secos mais prolongados.
Num cenário de
aquecimento global de 4ºC, o país também deve ver alterações mais marcantes no
volume de precipitação anual, que fica mais escasso na região Norte e mais
volumoso no Sul e Sudeste.
Na região que
abrange o Norte, Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste, há estimativas de
aumento de secas agrícolas e ecológicas para meados do século, em um cenário de
aquecimento global de 2°C. Com a aridez, também se espera o aumento de climas
propícios para incêndios, com impactos para os ecossistemas, a saúde humana, a
agricultura e a silvicultura.
Na Amazônia, o
número de dias por ano com temperaturas máximas superiores a 35°C aumentaria em
mais de 150 dias até o final do século no cenário de aquecimento global
superior a 4°C, enquanto se espera que aumente em menos de 60 dias no cenário
de aquecimento limitado a 2°C. Washington
Luiz/Folhapress /