A Corte Constitucional do Mali declarou nesta sexta-feira (28) o coronel Assimi Goïta chefe de Estado e presidente da transição, encerrando o segundo golpe realizado pelos militares em nove meses. 

Como previsto há dias, o coronel assume o comando do país africano nove meses após ter deposto com outros coroneis o presidente eleito, Ibrahim Boubacar Keita, e quatro dias após ter afastado o presidente e o premier, garantes civis da transição iniciada após o golpe de Estado de 2020 e encarregados de devolver o poder aos civis no começo de 2022. 


O ex-comandante do batalhão de forças especiais, que sempre se apresenta de uniforme, ocupará o cargo até o fim do período de transição, conforme decidido pelo Tribunal Constitucional. Ele desafia, assim, os parceiros do país, crucial para a estabilidade do Sahel, que enfrenta a disseminação do jihadismo, entre outros problemas.


 Os chefes de Estado da África Ocidental irão discutir a situação do Mali neste domingo, em reunião de cúpula extraordinária. Não está descartada a possibilidade de adoção de sanções. França e Estados Unidos, que estão comprometidos militarmente no Sahel, levantaram essa possibilidade. 


A decisão anunciada hoje determina que o vice-presidente da transição, coronel Goïta, "exerça as funções, atribuições e prerrogativas de presidente, para conduzir o processo até a sua conclusão", e que ele terá "o título de presidente de transição, chefe de Estado". 


A Corte Constitucional chegou a essa conclusão após ter constatado "o vácuo da presidência", após a demissão do até então presidente da transição, Bah Ndaw. "Devido ao vácuo na presidência da transição, tem lugar dizer que o vice-presidente da transição assume as prerrogativas, os atributos e as funções de presidente da transição, chefe de Estado", destacou. 


O coronel Goïta, homem forte do Mali desde o golpe e Estado que executou em 18 de agosto de 2020 com um grupo de oficiais, mandou deter na segunda-feira o presidente Bah Ndaw e o primeiro-ministro Moctar Ouane. Assimi Goïta anunciou na terça-feira que os tinha deposto, embora, posteriormente, a ação tenha sido apresentada como demissão, sem que se saiba se foi voluntária. 


Antes de ser designado chefe de Estado, o coronel Goïta dirigiu-se a representantes do mundo político e da sociedade civil. Na tentativa de mobilizar apoio interno diante da pressão internacional, expressou sua intenção de formar um governo em torno de um grupo que, tanto ele quanto os coronéis, tentaram marginalizar durante os primeiros meses da transição. 


- 'Fartos' - 


Centenas de malineses manifestaram nesta tarde em Bamako apoio aos militares. Muitos mostraram hostilidade contra a França e exigiram o compromisso da Rússia. "Estamos fartos. Os dirigentes fazem qualquer coisa. Queremos que os franceses partam e a Rússia chegue", disse Adama Dicko, cercado por manifestantes que exibiam fotos dos coronéis, uma grande bandeira russa e cartazes contra a França. 


Esse enésimo sobressalto na história contemporânea do Mali impõe decisões delicadas à comunidade internacional. Em um país economicamente drenado e atingido pela pandemia, as sanções da Comunidade de Estados da África Ocidental impostas após o golpe de 2020 foram percebidas como um golpe a mais por uma população em situação bastante difícil. 


Diferentes vozes criticam a diferença de tratamento dispensada ao Mali e a outro país do Sahel, o Chade, onde o Conselho Militar de Transição (CMT), formado por 15 generais, assumiu o poder em 20 de abril, após a morte de Idriss Déby Itno. A União Africana evitou a adoção de sanções e o presidente francês, Emmanuel Macron, cujo país tem cerca de 5 mil soldados destacados no Sahel, viajou para o funeral do marechal Déby. Leia mais no msn / O novo presidente de transição do Mali, coronel Assimi Goïta, em foto de 19 de agosto de 2020 — Foto: Malik Konate/AFP

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