A SPE considerou que os efeitos da
atual crise podem se estender até o final de 2022, resultando em um hiato de
três anos na educação de uma grande parcela da população que hoje tem entre 5 e
20 anos (idade escolar). “Um prejuízo de dimensões incalculáveis”, diz o
boletim.
“Há duas formas extremas de lidar com
o problema. É possível imaginar também soluções intermediárias entre elas. A
primeira seria simplesmente deixar o hiato educacional cobrar seu preço no
estoque de capital humano brasileiro, de modo que jovens entrem no mercado de
trabalho com a mesma idade que entrariam sem a pandemia, porém com uma
quantidade menor de anos de educação formal”, diz o boletim. “Essa alternativa
seria uma verdadeira catástrofe na acumulação de capital humano e na
produtividade do trabalho de uma geração inteira”, avaliou a SPE.
A segunda alternativa seria cobrir
esse hiato com anos adicionais de estudo após o término da pandemia. “Mas o
efeito visual de se postergar por três anos a entrada dos jovens no mercado de
trabalho é ‘dramático’”, diz a secretaria, já que haverá uma proporção menor de
adultos em idade laboral e, assim, um encolhimento da população que gera
riqueza no país.
De acordo com o boletim, esse efeito
deve durar por aproximadamente 15 anos após o término da pandemia,
possivelmente até 2038, até que toda essa parcela da população atingida com a
paralisação das aulas entre no mercado de trabalho. “Portanto, escolas fechadas
hoje causam um país mais pobre amanhã. E esse amanhã deve perdurar por quase
duas décadas.”
Desigualdade de
renda
Por outro lado, o boletim destaca que
o impacto negativo da pandemia sobre o aprendizado dos alunos não é homogêneo
na população, já que há o ensino remoto como substituto do ensino presencial,
“embora esteja longe de ser um substituto perfeito”. “Ele [o impacto] tende a
ser tanto maior quanto mais baixa é a renda familiar, uma vez que a existência
de barreiras para o estudo remoto correlaciona-se fortemente com a renda. Um
computador conectado à internet, e um ambiente adequado na residência para o
ensino a distância, são requisitos praticamente inatingíveis para milhões de
famílias de baixa renda”, acrescenta o boletim.
Para a SPE, é possível, inclusive,
que crianças que têm condições materiais para acesso ao ensino a distância
também tenham experimentado algum déficit de aprendizado, mas “o prejuízo terá
sido muito maior para crianças pobres, porque foram destituídas de qualquer
tipo de ensino em 2020”.
A secretaria explica ainda que os
efeitos da educação sobre o crescimento econômico são muito bem documentados na
literatura macroeconômica e estima-se que cada ano adicional de educação é
capaz de impulsionar o crescimento do PIB em cerca de 0,58% no longo prazo.
Outra estimativa é que aproximadamente 40% da diferença de renda entre o Brasil
e os Estados Unidos são fruto do atraso educacional em nosso país.
“Para se ter uma ideia, enquanto em
países desenvolvidos, como a Alemanha e os Estados Unidos, a população tenha
médias de anos de estudo de 13 ou 14 anos, no Brasil esse número é pouco maior
do que 7 anos. Essa diferença evidencia não só uma das razões para o tímido
crescimento brasileiro, como também para a baixa qualidade de vida do nosso
povo”, diz o boletim.
Além disso, os impactos do baixo
nível educacional somam-se a questões relacionadas à disponibilidade de escolas
e creches, o que reduz a oferta de mão de obra, em especial, das mulheres; à
qualidade do ensino e uma cadeia de outras conexões, como evasão escolar e
saúde mental, que potencializam os efeitos da educação sobre o bem-estar
econômico no curto e no longo prazos. E isso tende a ser transmitido para as
gerações futuras.
Para a SPE, as ações de fechamento de
escolas foram justificáveis diante da total incerteza no início da pandemia,
mas evidencias recentes vêm demonstrando que a abertura delas pode não ser um
fator de risco para a propagação do coronavírus.
“Nosso país optou pelo fechamento completo das escolas públicas no ano de 2020 e por um período muito mais extenso do que o registrado em outros países (média de 40 semanas no Brasil, contra 22 semanas no resto do mundo). E mais: essa política persiste, ressalvadas algumas exceções, em 2021. Nesse sentido, todos os números apresentados até aqui podem ser entendidos como a previsão mais otimista dentre as possibilidades”, ressalta o boletim da SPE. Informações, Agência Brasil / Foto: Manu Dias/GOVBA