ConJur - Os procuradores da República de Curitiba, da chamada "lava jato", tinham um esquema clandestino com a Receita Federal para quebrar o sigilo de seus alvos, inclusive de ministros do Superior Tribunal de Justiça.
O uso do esquema era tratado com naturalidade, segundo mostram novos diálogos entregues ao Supremo Tribunal Federal pela defesa do ex-presidente Lula nesta segunda-feira (8/2). Segundo o documento, a Receita funcionava como um braço lavajatista.
Os
acertos ilegais eram feitos com Roberto
Leonel de Oliveira Lima, chefe do Escritório de Pesquisa e
Investigação na 9ª Região Fiscal. Pela cooperação, Roberto Leonel foi premiado
quando Sergio Moro tornou-se ministro da Justiça, com o comando do Coaf. Clique aqui para ver palestra de Deltan Dallagnol e
Roberto Leonel.
Em
julho de 2015, por exemplo, os procuradores discutiam uma anotação encontrada
com Flávio Lúcio Magalhães, apontado como operador de propina da Andrade
Gutierrez. A lista citava diversas pessoas, entre elas ministros do STJ.
"A
RF [Receita Federal] pode, com base na lista, fazer uma análise patrimonial
[dos ministros], que tal?", diz Dallagnol. Em seguida o procurador
informa: "Combinamos com a Receita."
A
conversa não indica quais ministros foram investigados, mas mostra que o MPF no
Paraná só tinha por honestos ministros que atendiam, incondicionalmente, os
pedidos da "lava jato". "Felix Fischer eu duvido. Eh (sic) um
cara sério", diz o procurador Diogo Castor em referência ao relator dos
processos da "lava jato" no STJ.
O
próprio Dallagnol admite não acreditar que a lista encontrada com Magalhães
envolvia pessoas que recebiam propina. Mas decidiu pedir a análise patrimonial
mesmo assim. "Aposto que não são propina. São muitos pra serem
corruptos", afirmou.
Os
alvos vão desde ministros até figuras relacionadas a políticos, como é o caso
de Marisa Letícia, esposa de Lula, morta em 2017. "Dona Marisa
comprou árvores e plantas no Ceagesp em dinheiro para o sítio. Pedi pro Leonel
ver se tem nf [nota fiscal]", disse o procurador Januário Paludo em uma
conversa de fevereiro de 2016.
Embora
não mencionem diretamente quais ministros das turmas criminais do STJ foram
investigados, os procuradores mostram, em uma conversa, também de 2016,
desconfiança com relação a Reynaldo Soares.
Rcl 43.007
Revista Consultor Jurídico, 8 de fevereiro de 2021, 9h13 / Foto