A mensagem foi enviada em 5 de março de 2016, um dia depois de o ex-presidente ter sido levado coercitivamente para depor na Polícia Federal. As mensagens foram aprendidas no âmbito da chamada operação "spoofing".
"Depois
de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade número 1), para nós da
PGR, acho que o segundo alvo mais relevante seria Renan [Calheiros]",
disse a procuradora Carolina Rezende, da PGR, que integrava a equipe do então
procurador-geral da República Rodrigo Janot. A ConJur manteve a
grafia e eventuais erros das mensagens.
Ela
também afirma que tentar "atingir ministros do STF" naquele momento
poderia fazer com que os procuradores comprassem brigas "com todos ao
mesmo tempo". O melhor seria "atingirmos nesse momento o ministro
mais novo do STJ", afirmou.
O
"ministro mais novo" era Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, que ficou na
mira da "lava jato" depois que Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor
da Petrobrás Nestor Cerveró, afirmou à PGR ter ouvido que havia uma
"movimentação política" para que seu pai obtivesse um HC por
intermediação de um ministro de sobrenome "Navarro".
A
defesa de Lula é patrocinada pelos advogados Cristiano Zanin, Valeska Martins, Maria de
Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.
Carolina
então se solidariza com o juiz: "Tá certo. Coitado de Moro.. Não ta sendo
fácil." E completa: "Vamos torcer para esta semana as coisas se
acalmarem e conseguirmos mais elementos contra o infeliz do Lula".
Em
um diálogo de 11 de março de 2016, um procurador identificado como Paulo narra
que um dos delatores da "lava jato", Paulo Dalmazzo, depôs que, em
uma palestra na Andrade Gutierrez, o ex-presidente Lula "saiu
ovacionado".
Em
seguida, o procurador informa que essa menção positiva ficou de fora dos autos:
"Nao botei no termo".
"Tem
outras palestras da AG?", questiona. "Se for só essa, talvez não
precise investir nisso. O cara já saiu da empresa, tem até raiva e não teria
muito por que proteger o 9" ("9" é a forma jocosa pela qual os
procuradores se referiam a Lula, que perdeu um dedo em acidente de trabalho).
Leia
o diálogo:
Em
19 de dezembro de 2018, pouco depois de Moro aceitar se tornar ministro da
Justiça, o procurador Deltan Dallagnol disse em um chat para os colegas de MPF:
"Gente, importante: 1) Gabriela não sabe o que é prioridade. Há 500
processos com despacho pendentes e não sabe o que olhar. Combinei de criarmos
uma planilha google e colocarmos o que é prioridade pra gente".
Dallagnol
também indicou que quem quisesse que "suas decisões saiam logo, favor
criar e indicar os autos, prioridade 1, 2 ou 3 e Sumário ao lado, e me passar o
link para eu passar pra ela".
Os
procuradores também combinaram de encaminhar a Hardt uma minuta inacabada para
que ela fosse apreciando a petição antes que o documento ficasse pronto. A
conversa é de 18 de dezembro de 2019.
"Gabriela
disse sobre as denúncias ‘poxa, não chegou nenhuma ainda…’ Expliquei que
estamos trabalhando intensamente e prometi avisar qdo protocoladas", disse
Dallagnol aos colegas.
"Disse
isto pra ela: Se ajudar, podemos enviar a minuta no estado atual para já ir
apreciando. Está quase final. Não sei se vendi o que não temos kkkk, mas mostra
uma alternativa rs."
Rcl 43.007
Foto: Ricardo Stuckert