O Exército de Myanmar (antiga Birmânia) declarou o estado de emergência e assumiu o controle do país durante um ano, após deter a chefe do governo, Aung San Suu Kyi, informou um canal de televisão controlado por militares.
Em uma declaração divulgada na cadeia
de televisão do Exército Myawaddy TV, os militares acusaram a comissão
eleitoral do país de não ter agido em relação às "enormes
irregularidades" que dizem ter ocorrido nas eleições legislativas de
novembro, quando o partido de Aung San Suu Kyi venceu por larga maioria.
Os militares evocaram ainda os
poderes que lhes são atribuídos pela Constituição, redigida pelo Exército,
permitindo-lhes assumir o controle do país em caso de emergência nacional.
O Exército de Myanmar ocupou o
poder de 1962 a 2011 e já prometeu organizar novas eleições quando
terminar o estado de emergência de um ano. “Estabeleceremos uma verdadeira
democracia multipartidária”, anunciaram em um comunicado publicado na rede
social Facebook, acrescentando que o poder será transferido após a realização
de “eleições gerais livres e justas”.
O vice-presidente Myint Swe, nomeado
para o cargo pelos militares, graças à previsão na Constituição, assume agora a
presidência, enquanto o chefe das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, será
responsável por fiscalizar as autoridades, indicou o canal Myawaddy News.
O anúncio foi feito horas depois da
detenção da chefe do governo, Aung San Suu Kyi, pelas forças armadas
birmanesas, segundo indicou Myo Nyunt, porta-voz do partido da
presidente, a Liga Nacional para a Democracia (LND).
"Fomos informados que ela está
detida em Naypyidaw (a capital do país), supomos que o Exército está em vias de
organizar um golpe de Estado", indicou Nyunt.
A mesma fonte admitiu que outros
responsáveis pelo partido também foram detidos.
Espaço aéreo
A agência governamental birmanesa,
responsável pelas viagens aéreas, suspendeu todos os voos de passageiros no
país.
A embaixada dos Estados Unidos em
Myanmar indicou na sua página de Facebook que a estrada para o aeroporto
internacional de Rangum, a maior cidade do país, foi fechada, e no Twitter
acrescentou que “todos os aeroportos estão fechados”.
A mesma embaixada emitiu também um
“alerta de segurança”, dizendo estar ciente da detenção da líder da antiga
Birmânia, Aung San Suu Kyi, bem como do fim de alguns serviços de internet,
incluindo em Rangum.
“Há potencial para agitação civil e
política na Birmânia e continuaremos a monitorar a situação”, escreveu a
embaixada, usando a designação anterior de Myanmar.
Telefone e saques
As linhas telefônicas no país foram
cortadas, apesar de a internet funcionar com algumas falhas. A televisão
estatal está suspensa e, segundo o jornal The Irrawaddy, apenas o
canal televisivo militar Myawaddy News está operante.
Os bancos fecharam pouco depois da
proclamação dos militares, segundo um comunicado da Associação de Bancos do
país, citado pela agência France Press (AFP), que acrescenta que se formaram
longas filas junto aos caixas automáticos, com muitas pessoas a tentarem
retirar dinheiro. Também os serviços públicos estão encerrados temporariamente
Há várias semanas os militares
denunciam irregularidades nas eleições legislativas de 8 de novembro, quando a
LND venceu por ampla vantagem.
As detenções ocorrem em um momento em
que o parlamento eleito se preparava para iniciar o ano legislativo.
Repercussão
Os Estados Unidos exigiram já a
libertação dos vários líderes detidos e ameaçaram reagir em caso de recusa.
"Os Estados Unidos opõem-se a
qualquer tentativa de alterar os resultados das recentes eleições ou de impedir
a transição democrática da Birmânia e agirão contra os responsáveis se estas
medidas [detenções] não forem abandonadas", disse a porta-voz da Casa
Branca, Jen Psaki, em comunicado.
Os militares garantem ter recenseado
milhões de casos de fraude, incluindo milhares de eleitores centenários ou
menores.
No entanto, o Exército birmanês tinha
afastado, no sábado (30), os rumores de um golpe militar que circulavam nos
últimos dias, em um comunicado em que afirmou a necessidade de "obedecer à
Constituição", e garantiu defendê-la. Informações, Agência Brasil / Foto Meaphotogallery