Além de responsabilidade no agravamento da crise sanitária no Amazonas e no Pará, o procurador-geral da República, Augusto Aras, avalia se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crime ao incentivar apoiadores a invadir hospitais públicos para constatar o nível de ocupação dos leitos.
Nas últimas semanas, Aras tem sido pressionado por parlamentares, ministros do Judiciário e colegas do MPF (Ministério Público Federal) a agir. O mandato do procurador-geral se encerra no mês de setembro.
Escolhido por Bolsonaro em 2019 para o cargo fora da lista tríplice dos mais
votados em processo interno do MPF, Aras poderá ser reconduzido ao posto por
mais dois anos. Uma das principais críticas à sua atuação é a de alinhamento
aos interesses do presidente da República.
Em um comunicado à imprensa, por exemplo, a PGR afirmou que
compete ao Congresso Nacional a responsabilização de integrantes da cúpula dos
Poderes por eventuais ilícitos no combate à Covid-19, o que intensificou a
pressão sobre o procurador-geral.
Em resposta às críticas, Aras enviou um parecer ao STF (Supremo
Tribunal Federal) dizendo que passou a apurar a conduta de Bolsonaro na crise
do Amazonas e do Pará e que, além desse procedimento, foram abertos mais oito
até o momento.
Ainda na fase inicial da pandemia, em junho do ano passado, Aras
abriu uma apuração após Bolsonaro ser acusado de incitar apoiadores a entrar
sem autorização em hospitais públicos para registrar imagens sobre a ocupação
de leitos.
"As informações que nós temos é que na totalidade ou em
grande parte, ninguém perdeu a vida por falta de respirador e falta de
UTI", afirmou o presidente em uma live. "Agora, se tem um hospital de
campanha perto de você, dá um jeito de entrar e filmar. Muita gente está
fazendo isso, mais gente tem que fazer."
Nos dias seguintes à fala do chefe do Executivo, em diferentes
regiões do país, foram registradas invasões em unidades hospitalares.
Em julho, mais três casos motivaram a abertura de apurações na
PGR, todas para averiguar se o ocupante do Palácio do Planalto contrariou
normas da administração de Brasília de prevenção ao novo coronavírus, como o uso
de máscara.
Um dos procedimentos foi instaurado depois que o presidente
compareceu sem a proteção facial a uma manifestação de militantes bolsonaristas
na Praça dos Três Poderes, ato também apontado como um incentivo às
aglomerações.
Foi aberta apuração após Bolsonaro conversar com jornalistas no
Palácio da Alvorada para falar que havia contraído a Covid-19. Ao final da
entrevista, apesar da pouca distância que mantinha para os repórteres, ele
tirou a máscara facial.
As apurações que envolvem Bolsonaro são realizadas por meio de
um instrumento chamado de notícia de fato. Consiste em um procedimento
preliminar para o levantamento de informações, incluindo pedidos de informação
a órgãos públicos.
Se a partir desses dados, o chefe do MPF entender que houve, por
exemplo, um ato ilegal ou omissão por parte do presidente, um inquérito poderá
ser requerido ao Supremo.
Sobre as medidas de prevenção à Covid-19, ainda que reconhecida
a transgressão, a cúpula da PGR entende que a falta deve ser penalizada com
sanção administrativa por parte da administração local, sem nenhuma repercussão
penal. O que não ocorre, por outro lado, nos casos das invasões a hospitais ou
na crise sanitária no Norte do país.
A decisão de Aras de apurar a conduta de Bolsonaro na situação
do Amazonas e do Pará foi uma resposta a uma notícia-crime protocolada pelo PC
do B no Supremo.
A sigla afirmou que há "fortes indícios" da prática de
prevaricação do chefe do Executivo e de seu auxiliar, o ministro Eduardo
Pazuello, no colapso em Manaus e ressaltam que o mesmo cenário tem sido visto
em municípios paraenses.
"Caso, eventualmente, surjam indícios razoáveis de
possíveis práticas delitivas por parte dos noticiados, será requerida a
instauração de inquérito nesse Supremo Tribunal Federal", disse Aras em
manifestação enviada à corte no início de fevereiro.
Ainda na manifestação feita ao Supremo, o procurador-geral disse
que tem sido "zeloso na apuração de supostos ilícitos atribuídos ao chefe
do Executivo".
A reportagem enviou perguntas ao Palácio do Planalto,
questionando se houve eventuais esclarecimentos à PGR e o que Bolsonaro tem a
dizer em sua defesa.
O email foi devolvido com a informação de que a reportagem
deveria enviar as questões para a AGU (Advocacia-Geral da União), que, por sua
vez, informou que não poderia comentar o caso por se tratar de procedimentos
ainda em curso. Informações, O Tempo / Foto PGR