Há 66 anos, em 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas suicidou-se no Rio de Janeiro. O fato trágico chocou o Brasil e mudou os rumos da política.

Nascido em 1882, na cidade de São Borja (RS), o advogado e militar Getúlio Dornelles Vargas liderou a Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, e assumiu o Governo Provisório. De acordo com dossiê do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, mantido pela Fundação Getúlio Vargas, dois anos após a eclosão da Revolução Constitucionalista em São Paulo, ocorrida em 1932, foi promulgada a nova Constituição, e Vargas foi eleito presidente.

Em 1937, após a denúncia de que haveria um plano comunista em andamento, denominado Plano Cohen, foi instaurada a ditadura do Estado Novo. Até 1945, quando o regime esteve em vigor, Vargas deu continuidade à estruturação do Estado, orientando-se cada vez mais para a intervenção estatal na economia e para o nacionalismo econômico. Nessa época, foram criados o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica Nacional de Motores (FNM), entre outros.

Após a Segunda Guerra Mundial, cresceram as pressões pela redemocratização e Vargas acabou deposto. Ele seguiu atuando como deputado e senador, até se candidatar à presidência, em 1950, e vencer a eleição.

Em seu segundo governo, Vargas retomou a orientação nacionalista, com ênfase na luta para a implantação do monopólio estatal sobre o petróleo, com a criação da Petrobrás. Também houve uma progressiva radicalização política. Vargas enfrentava oposição cerrada por parte da UDN, em especial do jornalista Carlos Lacerda, dono do jornal carioca Tribuna da Imprensa.

Em agosto de 1954, a guarda pessoal de Vargas se envolveu em um atentado contra Lacerda, no qual foi morto o major-aviador Rubem Florentino Vaz. O ocorrido detonou a crise final do governo. Para a investigação do que ficou conhecido como Atentado da Toneleros, foi instaurado um inquérito policial-militar, pelo Ministério da Aeronáutica.

Sob pressão das Forças Armadas, durante reunião ministerial realizada na madrugada de 23 para 24 de agosto, Vargas só teve duas opções: ou renunciava ou era deposto. Ele suicidou-se com um tiro no coração, deixando uma carta-testamento em que acusava os inimigos da nação como os responsáveis por seu suicídio.

Leia abaixo a íntegra da carta:
    Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

    Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
    Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.

    A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.

    Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre,não querem que o povo seja independente.

    Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

    Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

    Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.

    Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.

    Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém.

    Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

    Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. Com informações, metro1 / Foto 

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