Recriando a união de forças políticas antagônicas e o protagonismo da sociedade civil visto nas Diretas Já, o movimento Direitos Já! reuniu mais de cem nomes em uma live em prol da democracia, da vida e da defesa social na noite dessa sexta-feira (26).

Foi o terceiro e mais abrangente ato do grupo criado em setembro de 2019 pelo cientista político Fernando Guimarães. Ele considerou histórica "a convergência dos mais diversos campos políticos frente a agenda anticivilizatória" do governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Participaram religiosos, juristas, economistas, artistas, professores, estudantes, jornalistas, sindicalistas e atletas, que dirigiram críticas a Bolsonaro e pregaram união pela garantia da liberdade e dos direitos humanos e sociais.

A superação das desigualdades também foi amplamente defendida pelos convidados. O evento durou mais de quatro horas e cada convidado pôde falar por pouco mais de um minuto. O encerramento ficou com Gilberto Gil, aniversariante da noite.

No campo político, estiveram representados os partidos PSOL, PC do B, PT, PSDB, Cidadania, PDT, PSB, Podemos, Solidariedade, MDB, Rede e PV por meio da participação de deputados, senadores, prefeitos, presidentes de siglas e candidatos à Presidência em 2018.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi o único ex-presidente que participou do evento virtual. O ex-presidente Lula (PT), que já fez críticas às iniciativas suprapartidárias, foi convidado, mas não participou.

Os ex-presidentes Michel Temer (MDB), que já tinha até enviado vídeo para o ato, e José Sarney (MDB) desistiram de participar. O presidente do STF, Dias Toffoli, tinha confirmado presença e também deu um passo atrás.

A possibilidade de Sergio Moro participar do comício virtual rachou o movimento, e o ex-juiz não foi convidado.

O ex-prefeito Fernando Haddad, candidato do PT em 2018, mencionou o ex-presidente petista em sua fala afirmando ser preciso refletir "se não chegou o momento de resgatar os direitos políticos de Lula, que não cometeu crime algum".

Haddad defendeu o impeachment de Bolsonaro e afirmou que o presidente "comete crimes de responsabilidade a cada semana". "O mais eloquente foi usar seu advogado para esconder uma testemunha chave em relação a crimes cometidos pelo seu filho", disse a respeito da prisão de Fabrício Queiroz na casa do advogado Frederick Wassef.

Ciro Gomes (PDT) afirmou que haverá resistência e que a ditadura nunca mais pode voltar.
"Agora é hora de celebrarmos o imenso e generoso consenso que as urgências do nosso povo nos pedem", disse. Ele afirmou que a pandemia é administrada de forma genocida e que é preciso preservar vida, emprego, liberdades e instituições.

Marina Silva (Rede) afirmou que o momento que o Brasil vive é grave e que "a democracia é um antídoto" aos ataques que Bolsonaro promove em todas as áreas. Ela pediu união "na agenda da defesa da dignidade humana, da vida e da democracia".

Guilherme Boulos (PSOL) disse que o país vive uma ameaça fascista e cobrou unidade em torno do "fora, Bolsonaro", seja por impeachment ou cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral. "Não pode existir meias palavras na luta contra o fascismo. Defender a democracia é defender 'fora, Bolsonaro'", afirmou.

"É hora de deixar de lado o personalismo e se unir em termos de valores e princípios", afirmou Geraldo Alckmin (PSDB), que também pregou a diminuição das "vergonhosas desigualdades sociais".

O ex-presidente FHC defendeu união em torno da democracia e da constituição. "Estou disposto a dar a mão a todos aqueles que queiram abraçar a causa da liberdade e da democracia", afirmou o tucano.

Participaram os governadores Flávio Dino (PC do B-MA), Camilo Santana (PT-CE), Paulo Câmara (PSB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Leite (PSDB-RS) e Wellington Dias (PT-PI).

Dino defendeu a preservação das instituições e afirmou que o Legislativo e o Judiciário devem "estar livres para que possam conter apetites ditatoriais e despóticos". Também pregou que a renda emergencial deve ser mantida ao menos até o fim deste ano.

Entre líderes partidários, parlamentares e representantes de entidades, houve falas em defesa da saúde, da educação, do meio ambiente e contrárias ao racismo e ao machismo. A crítica à atuação de Bolsonaro na pandemia do coronavírus e o rechaço à ditadura e à tortura também foram constantes.

Os participantes defenderam que é momento de deixar divergências em segundo plano. Também participaram líderes dos manifestos virtuais lançados recentemente, como o economista Eduardo Moreira, do Somos 70%, e a roteirista Carolina Kotscho, do Estamos Juntos.

Danilo Pássaro, do Somos Democracia, que vem promovendo manifestações de rua contra Bolsonaro apesar da pandemia, também participou.

O apresentador Luciano Huck, que ensaia candidatura à Presidência, afirmou ser preciso deixar de "iluminar o que nos separa e buscar o que nos une" e defendeu a educação e a ciência. Segundo ele, no governo Bolsonaro, a educação está "sendo tratada de assunto de menor importância, é palco de papagaiadas".

O médico Drauzio Varella afirmou que Bolsonaro se eximiu de coordenar o esforço contra o coronavírus e, ao contrário, se engajou em "convencer a população a quebrar o isolamento". "O clima de autoritarismo e ódio plantado entre nós não ajuda o país", disse.
O Direitos Já! lançou também um manifesto no qual afirma que a democracia está em risco e repudia "qualquer tentativa de subverter a ordem democrática conquistada a duras penas pela sociedade brasileira".

"Na sua dimensão institucional, o Estado democrático e de direito pressupõe a divisão e a mútua limitação dos poderes, a alternância dos governantes e eleições livres, limpas e periódicas. São condições para seu integral funcionamento a ampla liberdade de imprensa, de opinião e de associação, o combate à desinformação, assim como a transparência de atos e políticas públicas e o respeito à Constituição e à ordem jurídica. Restringir ou condicionar qualquer um desses princípios coloca em risco a construção democrática como um todo", diz o texto. Com informaçoes, O Tempo / Foto reprodução

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