Após a confirmação do terceiro caso de coronavírus em Feira de
Santana, o secretário estadual de saúde, Fábio Vilas-Boas, analisou a situação
e afirmou, em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta quinta-feira (12), que
“não tem nenhuma dúvida que a epidemia vem e vem forte”. Ele ainda recomendou
“distanciamento social” como estratégia para diminuir a progressão do
coronavírus.
“É recomendável que as pessoas procurem evitar aglomerações. É
uma estratégia que se mostrou eficiente em outros países fazendo com que a
curva de progressão diminuísse”, afirmou.
Dentro dessa recomendação, o secretário falou ainda sobre a
realização da Micareta de Feira de Santana, que está programada para ocorrer
entre os dias 23 a 26 de abril. Ele disse estar muito preocupado com qualquer
tipo de evento que congregue milhares de pessoas em um espaço de circulação
restrita e que fará uma avaliação técnica junto com especialistas e ainda hoje
encaminhará um parecer ao Ministério Público.
“O relatório deve ser entregue hoje para o promotor do MP. Vamos
ter uma reunião para concluir esse parecer técnico. Temos especialistas em
vigilância sanitária e epidemiológica e com base em dados científicos faremos
esse parecer”, disse destacando que a secretaria estadual de saúde não tem
poder de decisão e apenas fará uma recomendação sobre a realização ou não da
Micareta.
Expectativa de crescimento de casos
O secretário estadual de saúde, Fábio Vilas-Boas, informou que
existe um estudo comparativo que mostra a progressão de casos de coronavírus em
outros países. Com base nesses dados, ele afirma que se o Brasil seguir a
progressão como ocorreu em outros países, em cerca de duas semanas deveremos
ter no país em torno de quatro a cinco mil casos. Mas ele lembra que é
importante observar como o vírus vai se comportar aqui no Brasil.
“Hoje estamos com um pouco mais de 40 casos. Essa progressão
geométrica se torna com uma curva muito inclinada e passa a ter uma velocidade
de crescimento de 10 vezes por semana. Então quando a gente chegar a 50 casos,
daqui a sete dias vamos ter 500, daqui a 15 dias vamos ter cerca de quatro a
cinco mil e aí começa a cair um pouco a velocidade. A expectativa é que em 21
dias a gente tenha no Brasil 39 mil casos e o pior cenário possível. Isso com
base na velocidade de crescimento que ocorreu em outros países, mas pode ser
que seja menos . Alguns locais conseguiram diminuir a velocidade de progressão
de forma significativa. A gente não sabe como esse vírus vai se comportar e as
próximas semanas é que dirão”, explicou ao Acorda Cidade.
Antecipação das férias escolares
Ontem (11) o Ministério da Educação recomendou a antecipação das
férias escolares, devido a proliferação do coronavírus. O secretário Fábio
Vilas-Boas comentou o assunto e disse concordar com essa recomendação,
“dependendo de como vão ocorrer as coisas nas próximas duas semanas”.
Segundo ele, se consumar essa projeção de crescimento de 10
vezes o número por semana a partir do 50º caso, o mês de maio seria uma época
boa para se ter férias.
Providências
Com relação às providências adotadas pela secretaria estadual de
saúde para diminuir a velocidade da progressão do contágio do coronavírus na
Bahia, Fábio Vilas-Boas disse que a primeira recomendação é com relação às
medidas de higiene. Ele lembrou o fundamental papel da imprensa no processo de
divulgação das informações. Mais uma vez ele solicitou que as pessoas evitem o
contato pessoal e recomendou que quem puder, trabalhe de casa.
“Temos tomado várias providências. A primeira em relação às
medidas socioeducativas para a população, através da própria imprensa,
orientando as pessoas a adotarem medidas de higiene. Também uma coisa muito
importante que precisa ser debatida é o chamado distanciamento social, que é
uma série de medidas que visa afastar as pessoas umas das outras. Evitar beijo,
aperto de mão, abraço, evitar contato corpo a corpo, aglomerações. Tudo isso
com o objetivo de que cada um fique dentro do seu metro quadrado e assim evite
se contagiar de pessoas que eventualmente estejam doentes. A gente tem que
buscar isso ao longo dos próximos dias. Pra quem for possível, deve trabalhar
em casa, evitar eventos em massa, tudo isso ajuda a reduzir o contágio”,
destacou.
Além disso, o secretário informou que o estado já vinha
trabalhando na estruturação dos hospitais, da rede de vigilância, com o
objetivo de fazer o enfrentamento ao coronavírus. Fábio Vilas-Boas disse que
existe um plano de ampliação de leitos de UTI e toda uma estratégia que está
sendo trabalhada nas últimas semanas para diminuir o impacto da epidemia no
estado.
Casos confirmados e suspeitos
Os casos confirmados até agora em Feira de Santana são uma
mulher de 68 anos de idade, que contraiu o vírus da filha – segundo caso
anunciado, semana passada. A filha havia sido infectada pela patroa, de 34 anos
de idade, primeira a contrair o vírus na Bahia. Residente em Feira de Santana,
ela havia chegado de viagem da Itália (Roma e Milão). O secretário afirmou ao
Acorda Cidade que está seguro de que todas as pessoas que tiveram contato com
os casos confirmados estão sendo monitoradas.
“Temos um caso importado da Itália e os outros casos são
transmissões que consideramos familiares, já que são relacionadas ao primeiro
caso. Não há nenhum caso até o momento fora do núcleo familiar relacionado ao
primeiro caso, portanto estamos relativamente tranquilos em relação ao
controle. O último caso vinha sendo monitorado e assim que começou a apresentar
sintomas foi feita a dosagem laboratorial”, garantiu.
Sobre os casos suspeitos, ele disse que existem em vários
municípios do interior do estado e também na capital. Fábio Vilas-Boas
considera normal que nos próximos dias outros casos suspeitos apareçam e
destacou que o Lacem é um dos laboratórios mais qualificados do país, sendo um
dos poucos que faz teste respiratório através de genoma viral e mais 21 vírus
diferentes.
Atualmente o Lacem tem mais de 50 casos de coronavírus em
análise em toda a Bahia, sendo que mais de 100 já foram analisados e mais de 80
já foram excluídos.
Isolamento domiciliar
Questionado sobre como funciona o isolamento domiciliar, o
secretário estadual de saúde informou que é feito com um acompanhamento.
Segundo ele, a secretaria recomenda que as pessoas permaneçam em quarentena, é
feito um monitoramento por telefone e periodicamente um agente de saúde vai a
residência para avaliar se está sendo feito o que foi recomendado. Foto: Leonardo Rattes/Ascom Sesab