Em entrevista ao programa
"Roda Viva", da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o ministro
da Justiça, Sergio
Moro, evitou comentar atitudes do presidente Jair Bolsonaro que
foram alvo de críticas, como os ataques à imprensa e a manutenção no governo de
ministros acusados de crimes, como o titular do Turismo, Marcelo Álvaro
Antônio. O ministro justificou que, pela posição hierárquica, acredita que não
deve fazer avaliações públicas de Bolsonaro, chefe do Executivo.
A edição com Moro marcou a estreia da jornalista Vera Magalhães na condução da
bancada de entrevistadores. Instado a se posicionar sobre polêmicas deste
primeiro ano de governo, o ministro disse também que não cabe a ele ser
"comentarista político".
Moro também respondeu a questionamentos sobre sua atuação como
juiz, como por exemplo sobre o grampo da ex-presidente Dilma Rousseff durante a
Lava-Jato e as mensagens trocadas com procuradores da República publicadas pelo
site Intercept Brasil. O ministro classificou as mensagens como uma
"bobageirada". Em ambos os casos, reafirmou não ter cometido qualquer
irregularidade, e que não reconhece a autenticidade das mensagens divulgadas. O
ministro reiterou ainda que não tem pretensão de concorrer ao Palácio do
Planalto em 2022.
Questionado sobre os reiterados ataques de Bolsonaro a
jornalistas, Moro respondeu:
— Estou no ministério, tenho meus subordinados. Aos meus
subordinados, falo com eles, dou orientações e as reprovo quando acho
necessário. O senhor, por exemplo, fala publicamente de seus chefes? — disse
Moro. — O que eu vejo é que, nas eleições, tinha um grupo (referindo-se à
candidatura de Fernando Haddad) que falva que ia regular a imprensa, cerceando
a liberdade de imprensa. E, do outro lado, o presidente está dando ampla
liberdade à imprensa para fazer seu trabalho. Não se vê qualquer iniciativa do
presidente de cercear a imprensa.
Lembrado de vezes em que
Bolsonaro agiu com rispidez diante de perguntas de repórteres, Moro afirmou:
— Não é uma questão de censura legal. Não vim aqui para falar
sobre o presidente. Ele tem respeitado (a imprensa). O que acontece é que ele
tem sido criticado e muitas vezes ele reage.
Perguntado se lhe causa constrangimento o fato de haver ministros
acusados de ter cometido crimes eleitorais no governo — além de Álvaro Antônio,
o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu ter recebido dinheiro via caixa dois
para campanhas —, Moro evitou criticar a permanência dos colegas de Esplanada.
Ele afirmou que a investigação do caso dos laranjas do PSL, em que a Polícia
Federal pediu o indiciamento do ministro do Turismo, mostra que a PF tem atuado
com independência.
— A Polícia Federal está fazendo o papel dela, caberá à Justiça
fazer o dela, e ao Executivo cabe fazer a availação que achar que deve (sobre
manter ou não o ministro do Turismo) — disse Moro, que respondeu também sobre
Onyx. — Já declarei que acho meritório que ele (Ônix) tenha reconhecido que
errou e que esteja disposto a pagar por esses erros — disse Moro.
O ministro explicou por que
não se posicionou publicamente sobre o discurso do ex-secretário da Cultura,
Roberto Alvim, copiando uma fala do nazista Joseph Goebbels.
— Acho que não cabe ao ministro da Justiça e Segurança Pública ser
um comentarista sobre tudo. Nesse caso, a meu ver foi um episódio bizarro e a
situação se tornou insustentável. Eu dei a minha opinião ao presidente. E ele
tomou a decisão correta. Quem fala pelo Executivo é o presidente, e não os seus
ministros — disse Moro, acrescentando que, se for opinar sobre a situação do
titular da Secom, Fabio Wajngarten, acusado de atuar em conflito de interesses
no governo, sua manifestação se dará em caráter reservado ao presidente
Bolsonaro.
Sobre sua atuação na Lava-Jato e as mensagens divulgadas pelo
Intercept Brasil, o ministro reafirmou sua posição:
— Não reconheço autenticidade, mas ainda que sejam verdadeiras,
não há ali nada que desabone minha conduta. Não há nenhum indício de má
conduta. O que houve foi sensacionalismo. Não há condenados injustamente na
Lava-Jato.
Moro voltou a defender a legalidade do grampo nos diálogos
telefônicos entre Dilma Rousseff e Lula, em 2016. A gravação levou o ministro
do STF Gilmar Mendes a suspender a nomeação de Lula como chefe da Casa Civil do
governo Dilma — um mês depois, a Câmara aprovou seu afastamento da presidência
para responder ao processo de impeachment.
— O que foi verificado na
época é que existe uma aparente tentativa de obstrução da justiça. Não houve
manipulação nenhuma. Se isso poderia ter reflexos como impeachment isso não é
objeto da decisão. Pode-se olhar a decisão e dizer que não concorda. Mas não
existem razões obscuras.
Depois da divulgação das mensagens reveladas pelo Intercept
Brasil, Gilmar Mendes declarou que, agora, ficou com "dúvidas" se
havia tomado a decisão correta na ocasião. Moro reafirmou que não houve
manipulação e que Gilmar deveria assumir a responsabilidade pelas decisões que
tomou. Com informações, oglobo / Foto: Isaac Amorim/MJSP