O
carismático Ubirajara Penacho dos Reis, mais conhecido como Bira, que integrou
durante muitos anos os programas comandados por Jô Soares, morreu na manhã
deste domingo (22), aos 85 anos.
O baiano
dono de uma risada famosa tocava baixo no grupo Sexteto, do 'Programa do Jô',
na TV Globo, e costumava ser consultado pelo apresentador para diversos
assuntos.
Segundo o
portal R7, o músico veio a óbito em decorrência de uma parada cardíaca,
dias após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A família de Bira
agradeceu o carinho de todos.
Bira estava
internado no Hospital Sancta Maggiore, unidade Mooca, em São Paulo, após sofrer
o AVC.
Em
novembro deste ano, Bira foi visto de bengala ao desembarcar no Aeroporto de
Congonhas, em São Paulo. Na ocasião, o artista foi extremamente simpático,
posou com fãs e para os paparazzi.
Bira
participou em 2018 do The Noite, programa de Danilo Gentil, do SBT, e falou
sobre sua carreira na indústria da música.
“A música apareceu aleatoriamente, porque meus pais queriam que
eu fosse médico. Até o dia que eu vi o começo de uma autópsia e saí
correndo”, relembrou Bira.
O músico
tornou-se uma estrela no extinto Programa do Jô, na Globo, por tocar baixo
elétrico diariamente na atração e também por seguir as piadas do apresentador
com seu riso peculiar.
Ao falar
sobre o Programa do Jô para Danilo Gentil, Bira recordou como a atração marcou
sua vida.
“Tinha muito orgulho de trabalhar naquele programa. Ajudou a
mudar minha vida. Fiz muitos amigos”, disse, na ocasião.
História
Bira do Jô tornou-se conhecido por tocar baixo elétrico no Sexteto do Jô, que
se apresentava diariamente no Programa do Jô, sempre seguindo as piadas do
apresentador com seu riso peculiar.
Em texto
publicado no perfil da banda BassTotal, da qual Bira fazia parte,
Bira era conhecido entre amigos e familiares como um verdadeiro “Google”
do mundo da música. Ele começou a carreira como cantor cedo, ainda na Bahia, e
mudou-se para São Paulo no final da década de 1960.
Quem
sempre viu o músico com um baixo elétrico, nos mais de 40 anos de São Paulo,
não imagina que, no início da carreira em Salvador, ele preferia exercitar as
cordas vocais.
Fã de
samba-canção, bossa nova, jazz e bolero, Bira resolveu retornar a função de
cantor com o grupo Bira Bossa Jazz por conta dos 50 anos da Bossa Nova. Ao seu
lado estava o amigo e parceiro Osmar Barutti, pianista e companheiro de
programa do Jô Soares.
Em 1961,
cantava no quarteto da boate Montecarlo e depois foi cantar no Hotel da Bahia,
com o trio do pianista Jessildo Caribé, da família do pintor argentino/baiano.
Nessa época, ele conta que o local era o grande palco por onde desfilavam
Elizeth Cardoso, ZimboTrio e Wilson Simonal, entre outros grandes nomes da
música brasileira.
“Lá (no Hotel da Bahia) vi o Luiz Chaves, do Zimbo Trio. Não
sosseguei enquanto não aprendi a segurar no contrabaixo da mesma forma que ele.
Vendo isso, o Luiz Chaves disse que eu levava jeito e me incentivou a estudar.
Pergunta se eu estudei?”, diz.
Cinco anos
antes disso, em 1956, Bira, prestes a entrar no Exército, iniciava a carreira
cantando no grupo Quinteto Melódico Itapuã, quando foi convidado para se
apresentar num clube da cidade de Senhor do Bonfim, próxima a Juazeiro.
Sentado, esperando para cantar, um rapaz tímido, calmo, era uma das atrações.
Vinha precedido de alguma fama, pois tinha passado pelo Rio de Janeiro e
convivido com os grandes músicos do início da década de 1950. Era João Gilberto
que, dois anos depois, revolucionaria a música brasileira cantando Chega de
Saudade, de Tom Jobim e Vinícius, dando início ao ritmo musical que colocou o
Brasil para sempre no contexto mundial da música. Bira nunca mais reviu João.
A vontade
de cantar profissionalmente mesmo surgiu quando foi convidado a ouvir o disco
de um trompetista americano que também cantava. Era Chet Baker. Disse em alto e
bom som: “Quero cantar assim, um dia na vida.” Em 1959, entusiasmado com a
chegada da bossa nova, Bira participou ao lado dos então desconhecidos Gilberto
Gil e Caetano Veloso do I Festival de Bossa Nova da Bahia. Passou também a
ouvir músicas de outras praças, como o Rio de Janeiro, e acabou ficando fã do
grupo Os Gatos. “Era um conjunto maravilhoso com Durval Ferreira, Bebeto, Eumir
Deodato e Hélcio Milito. O Luiz Eça se revezava com o Eumir.”
Ainda
conforme o texto publicado no Facebook da banda, o auge da Bossa Nova Bira
viveu na Bahia. Os grandes músicos viajavam para lá e os conterrâneos também
não faziam feio. Ele lembra que de 1961 a 1967 não faltou trabalho.
“Em Salvador, havia três casas de
chá onde as orquestras tocavam às tardes. A coisa era tão boa que os músicos
que excursionavam por lá nos perguntavam por que queríamos tanto sair da
Bahia.”
Bira foi
para São Paulo a passeio e acabou ficando. “Um frio que vou te contar. Cheguei
de ônibus e já fiquei com vontade de voltar na mesma hora.” O músico tinha como
meta inicial morar na Cidade Maravilhosa. Mas um contratempo manteve Bira na
cidade da garoa. E foi em São Paulo que conheceu um outro contrabaixista de
grande talento que ia mudar definitivamente a vida do músico: Manoel Luiz
Lameira Viana, mais conhecido como Chú Viana.
Freqüentador
assíduo do lendário Ponto dos Músicos, na esquina da Avenida São João com a
Avenida Ipiranga, o irreverente Chú Viana apadrinhou Bira. Um dia, foram a um
clube e ficaram sabendo que o Chacrinha procurava contrabaixista. Chú indicou
Bira. Como não tinha baixo elétrico, Bira arrumou um emprestado do músico José
Roberto, o “Branco”.
Aprovado
no programa do Chacrinha, ainda de acordo do perfil da banda BassTotal, Bira
ficou tocando com o instrumento emprestado. Seis meses depois, Chacrinha
resolveu levar seu programa para o Rio de Janeiro e Bira permaneceu em São
Paulo.
Em 1970,
foi convidado para trabalhar no programa Silvio Santos e, desde então, passou a
ter emprego fixo. Entrou para a banda do Jô Soares e foi nesse grupo que formou
uma de suas maiores amizades. O pianista Osmar Barutti, parceiro, amigo e
vizinho de Bira por quase 20 anos. Incentivador do instrumentista e cantor, o
maestro Osmar afirmou que Bira era humilde a ponto de estudar canto.
“Ele é um
cantor excelente, mas é perfeccionista”, diz. “Outro dia, o Jô recebeu a atriz
Edel Holz, cujo nome de solteira era Edelweiss Lemos. De improviso, o Bira
cantou a famosa música americana que tem o mesmo nome da moça. Todo mundo ficou
arrepiado”, lembrou Barutti, na época da publicação.
E foi a
dupla de amigos que teve a ideia de montar o Bira Bossa Jazz. Na excursão pelo
Brasil, eles ainda tiveram a companhia de Elias Pontes, na bateria, Marcos
Teixeira, na guitarra, Hugo Cardoso, no baixo, as cantoras – mãe e filha –
Maria Rosário e Gabriela Feliciano, e Beto Campos, na produção artística.
No
repertório estava, claro, “Chega de Saudade”, “Garota de Ipanema”, “Barquinho”
e “Wave”, desfiada no palco por um remoçado Bira, que mostrou que não era
só bom de contrabaixo, de gargalhada e de causos, mas também de gogó. Com informações, Correio da Bahia / Foto: GShow