"A direção do PT prepara a primeira viagem
de Lula para o Nordeste. Será no próximo dia 17, para Recife, onde o
ex-presidente deve participar do Festival Lula Livre. O show com artistas como
Odair José e Marcelo Jeneci já estava programado antes de o petista deixar a
prisão", informa a coluna Painel.
"A
expectativa, agora, é a de que o evento seja transformado em um ato de
comemoração pela liberdade do ex-presidente e que ele aproveite o palco para
agradecer e falar ao povo nordestino", diz ainda a jornalista Daniela
Lima. No sábado, Lula bateu duro no governo Bolsonaro. Saiba mais:
SÃO BERNARDO DO CAMPO/SÃO PAULO
(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste sábado
um discurso muito mais duro do que na véspera e com vários ataques ao
presidente Jair Bolsonaro, afirmando, entre outros pontos, que Bolsonaro
precisa governar para os 210 milhões de brasileiros e não apenas para os
“milicianos do Rio de Janeiro”.
Em
ato em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo,
seu berço político, Lula também fez um apelo para que os militantes de esquerda
compareçam às ruas para lutar contra o que chamou de destruição do país e
afirmou que é preciso seguir o exemplo do que está acontecendo no Chile, onde
têm ocorrido manifestações, muitas vezes violentas e também duramente
reprimidas pelas forças de segurança, contra políticas do governo.
“Veja,
esse cidadão foi eleito. Democraticamente nós aceitamos o resultado da
eleição”, disse Lula a uma plateia de apoiadores e aliados em São Bernardo do
Campo. “Mas ele foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para
governar para os milicianos do Rio de Janeiro”, disparou.
O
petista então fez menção às investigações do assassinato da vereadora no Rio de
Janeiro Marielle Franco (PSOL) e lembrou o caso em que o porteiro de um
condomínio, em que Bolsonaro e um acusado de matar Marielle têm casa, disse que
o outro acusado do crime entrou no local autorizado pelo “seu Jair” —Bolsonaro
no dia dessa suposta autorização estava em Brasília.
Lula
também afirmou em sua fala que Bolsonaro “deve” sua eleição ao ministro da
Justiça, Serio Moro, que o condenou como juiz, e àqueles que também atuaram no
processo do tríplex do Guarujá (SP), no qual já foi condenado em três
instâncias e pelo qual ficou preso por 580 dias, até a sexta-feira, na sede da
Polícia Federal em Curitiba.
“Ele
(Bolsonaro) deve (a eleição) ao Moro, ele deve aos juizes que me julgaram e ele
deve à campanha de fake news que fizeram contra o companheiro Haddad e contra a
esquerda neste país”, disse em referência ao candidato derrotado do PT na
eleição do ano passado, Fernando Haddad, que estava ao seu lado no carro de som
de onde discursou.
O
petista aproveitou ainda para fazer, mais uma vez, duros ataques a Moro, a quem
chamou de “canalha” e “mentiroso”, e ao coordenador da força-tarefa da Lava
Jato, Deltan Dallagnol, a quem acusou de ter formado uma “quadrilha” para
“roubar” dinheiro da Petrobras.
Lula também centrou artilharia na
política econômica da gestão Bolsonaro e no ministro da Economia, Paulo Guedes,
a quem classificou de “destruidor de empregos” e “destruidor de empresas
públicas”. Afirmou ainda que o presidente da República, que é capitão do Exército
na reserva, nunca trabalhou e se alistou no serviço militar justamente para não
ter de trabalhar e para se aposentar cedo.
“Ele arrumou um jeito de não
trabalhar, foi fazer o serviço militar... esse cidadão, que nunca trabalhou,
esse cidadão que diz que não é político... nunca fez um discurso que prestasse,
ele só fazia ofender as mulheres, ofender os negros, ofender os LGBTs”, disse.
“Esse país é de 210 milhões de
habitantes e a gente não pode permitir que os milicianos acabem com esse país
que nós construímos.”
Já no final de seu discurso, Lula fez
um apelo para que a militância de esquerda vá às ruas lutar contra as políticas
da gestão Bolsonaro, citando o caso chileno como exemplo a ser seguido.
“Eu estou disposto a andar esse
país... Estamos vendo o que está acontecendo no Chile. O Chile é o modelo de
país que o Guedes quer”, disse.
“Se a gente souber trabalhar
direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai
derrotar a utradireita... A gente tem que seguir o exemplo do povo do Chile, do
povo da Bolívia, e resistir”, acrescentou, afirmando que o presidente
boliviano, Evo Morales, tem enfrentado a rejeição em aceitar o resultado da
eleição que o reelegeu, pela direita na Bolívia, outro país latino-americano
palco de protestos.
Durante seu discurso, o ex-presidente
disse que ainda fará um “pronunciamento à nação” nos próximos dias.
BOLSONARO SE REÚNE
COM MILITARES
Depois de ter mantido silêncio sobre
a soltura de Lula —beneficiado por mudança de entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre a prisão após condenação em segunda instância, mas que
segue inelegível pela Lei da Ficha Limpa e é réu em vários outros processos—,
Bolsonaro usou sua conta no Twitter na manhã deste sábado para, sem citar o
petista nominalmente, chamá-lo de canalha.
“Amantes da liberdade e do bem, somos
a maioria. Não podemos cometer erros. Sem um norte e um comando, mesmo a melhor
tropa, se torna num bando que atira para todos os lados, inclusive nos amigos.
Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de
culpa”, escreveu.
Mais tarde, em frente ao Palácio da
Alvorada, em Brasília, Bolsonaro referiu-se a Lula como “presidiário” e disse
que não contemporizaria com o petista.
“A grande maioria do povo brasileiro
é honesto e trabalhador, e nós não vamos dar espaço nem contemporizar com
presidiário. Ele está solto, mas continua com todos os crimes dele nas costas”,
disse.
O Palácio do Planalto informou que
não iria comentar o discurso de Lula.
Poucas horas antes de Lula discursar,
Bolsonaro teve um encontro neste sábado com ministros de seu governo que são
generais da reserva —Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional),
Fernando Azevedo e Silva (Defesa), e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de
Governo)— e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, segundo
agenda divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência.
Em suas redes sociais, publicou ainda
um vídeo em que participa de um almoço em homenagem ao aniversário do
ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Boas.
Em sua conta no Twitter, Moro disse,
também sem citar Lula nominalmente, que não responderia aos ataques feitos pelo
petista.
“Aos que me pedem respostas a
ofensas, esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas
pessoas só merecem ser ignoradas”, disse.
Como o Planalto, a força-tarefa da
Lava Jato disse que não iria comentar o discurso do ex-presidente. brasil247 / Foto reprodução/PT