A presidente deposta pelo golpe, Dilma
Rousseff, afirmou que "o Brasil curvou-se e submeteu-se aos
interesses do governo Trump, ao aceitar participar do falso confronto da 'ajuda
humanitária' com a Venezuela, enviando alimentos e sobretudo tropas para a
fronteira". Segundo ela, "é uma ação deliberada e panejada,
desde a indicação de um general de nossas Forças Armadas para integrar o
Comando Sul do exército americano, órgão responsável por inúmeras intervenções
militares. Estamos vivendo e iremos viver, nos próximos dias e até sábado, um
perigoso agravamento da crise".
"O Brasil abaixa a cabeça e se submete ao
interesse do governo americano em usufruir do petróleo venezuelano e aceita
trazer para o nosso continente um conflito armado, contrariando todos os nossos
princípios de não-intervenção e respeito à soberania das nações", diz ela
em nota divulgada em seu site.
De acordo com a ex-presidente, "Trump é a
liderança mais agressiva da extrema-direita no mundo". "Ao submeter o
Brasil ao risco de um conflito armado, Bolsonaro já é a versão caricata e
submissa do presidente norte-americano. E, como disse o grande Machado de
Assis, vai ficar com as batatas".
Leia a íntegra da nota:
O Brasil curvou-se e submeteu-se aos interesses do
governo Trump, ao aceitar participar do falso confronto da “ajuda humanitária”
com a Venezuela, enviando alimentos e sobretudo tropas para a fronteira. É uma
ação deliberada e panejada, desde a indicação de um general de nossas Forças
Armadas para integrar o Comando Sul do exército americano, órgão responsável
por inúmeras intervenções militares. Estamos vivendo e iremos viver, nos
próximos dias e até sábado, um perigoso agravamento da crise. Um momento de
profunda gravidade diante da ameaça do governo Trump de entrar na Venezuela de
qualquer jeito, usando o álibi da ajuda humanitária. Tudo isso se combina com o
envio de tropas de alguns países para a fronteira venezuelana, inclusive tropas
brasileiras.
Assim, o Brasil abaixa a cabeça e se submete ao
interesse do governo americano em usufruir do petróleo venezuelano e aceita
trazer para o nosso continente um conflito armado, contrariando todos os nossos
princípios de não-intervenção e respeito à soberania das nações. Ontem, a
decisão da Venezuela de enviar tropas e fechar a fronteira com o Brasil foi
mais um passo, ainda que defensivo, nesta escalada bélica.
Devemos deixar claro que esta posição do governo
Bolsanaro traz gravíssimas consequências, em caso de guerra. Em especial, a
tragédia da perda de vidas humanas de cidadãos brasileiros, latino-americanos e
americanos.
Se na campanha o atual presidente chegou a prestar
continência à bandeira americana, agora o passo é mais sério. Lembremos que,
dias depois da nomeação do general brasileiro para integrar unidade do exército
americano, o Almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul, foi recebido em
Brasília pelo chanceler brasileiro e por comandantes militares, para conversar
sobre a intervenção na Venezuela.
O almirante Faller, conforme a imprensa, cobrou
incisivamente a participação do Brasil, pedindo que se una aos Estados Unidos
contra os países que considera inimigos globais – Rússia, China e Irã – e seus
inimigos no continente americano – Cuba, Nicarágua e Venezuela.
Ao aceitar o papel de parceiro coadjuvante nesta
estratégia bélica global dos Estados Unidos, o governo Bolsonaro joga no lixo o
respeito conquistado pelo Brasil como nação defensora da paz, do
multilateralismo e do respeito à soberania de todos os povos. Além disso,
provoca uma crise diplomática sem precedentes, e assume o risco de nos envolver
numa aventura militar contra um país com o qual temos 2.190 km de fronteira e
que contará, em caso de confronto armado, com apoio militar da China e da
Rússia.
A estratégia geopolítica norte-americana para a
América Latina, sobretudo depois da posse de Trump, tem sido o desmantelamento
das experiências democráticas do continente, por qualquer método disponível:
golpes parlamentares-judiciais; aliciamento e influência sobre as eleições,
como no Brasil de Bolsonaro; ou, se for inevitável, por meio de bloqueios e
intervenção militar, como na Venezuela, Cuba e Nicarágua.
O Brasil não pode se subordinar a isto. Desde a
proclamação da República, o Brasil sempre adotou como princípios em suas
relações internacionais a defesa da paz e da não-intervenção Agimos desta
maneira no Haiti, no Líbano e no Iraque, por exemplo. O Brasil contemporâneo
sempre serviu em missões de paz, nunca em ações de guerra.
Nessa hora grave que estamos vivendo, esperamos que
as nossas Forças Armadas tenham como diretriz a Estratégia Nacional de Defesa,
aprovada pelo Congresso Nacional, que estabelece como princípios norteadores:
”O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz com seus
vizinhos. Rege suas relações internacionais, dentre outros, pelos princípios
constitucionais da não intervenção, defesa da paz, solução pacífica dos
conflitos e democracia.”
Trump é a liderança mais agressiva da
extrema-direita no mundo. O próprio último diretor interino do FBI, Andrew
McCabe, disse que Trump quer a guerra com a Venezuela porque “eles (a
Venezuela) têm todo aquele petróleo”. Ao submeter o Brasil ao risco de um
conflito armado, Bolsonaro já é a versão caricata e submissa do presidente
norte-americano. E, como disse o grande Machado de Assis, vai ficar com as
batatas.
DILMA ROUSSEFF /Informações do dilma.com / Foto flickr.com/dilmaoficial