Há exatos 50 anos anos era baixado o Ato Institucional n.5, o mais
violento golpe dentro do golpe militar de 1964. O AI-5 instaurou a censura,
cerceou direitos e serviu como a mais forte intimidação praticada pelo
militares do golpe. O ato, que institucionalizou a ditadura, deu ao então
presidente, Arthur da Costa e Silva, poderes de fechar o Congresso Nacional. A
censura passou a ser uma máquina de Estado, vetando trabalhos e perseguindo a
classe artística, levando grande parte dos artistas e intelectuais ao exílio.
No período anterior ao decreto, a cultura brasileira vivia uma
ebulição inédita, mas o que uns viam como experimentação interessante foi visto
por outros como "ameaças a Deus, à família e à propriedade —à liberdade,
enfim", relata o jornalista A. P. Quartim de Moraes no livro recém-lançado
"Anos de Chumbo: o Teatro Brasileiro na Cena de 1968".
A reportagem da jornalista Maria Luísa Barsanelli,
do jornal Folha de S. Paulo, aponta o que ocorreu nos momentos anteirores ao
ato: "de fato, o ano que precedeu o AI-5 já dava sinais do recrudescimento
no horizonte. Em janeiro, a censura tirou de cartaz uma montagem de 'Um Bonde
Chamado Desejo', de Tennessee Williams. O caso gerou repercussão e acirrou os
ânimos entre governo e artistas."
Ela relata a movimentação artística em torno do Teatro de Arena:
"reunia dramaturgos como Lauro César
Muniz, Gianfrancesco Guarnieri, Plínio Marcos e Augusto Boal, além dos
compositores Edu Lobo, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Todos respondiam à questão: O que pensa o Brasil de hoje?
'Basta criticar as plateias de sábado —deve-se agora buscar o povo', dizia Boal
sobre a obra. Ela teve 84 cortes da censura, mas os artistas decidiram
encená-la na íntegra, em desobediência civil."
E destaca a interessante frase do filósofo João Quartim de Moraes:
"de certo modo, o próprio movimento de resistência deu pretextos para que
o movimento de repressão aumentasse".|brasil247