Para o ex-ministro José Dirceu, é preciso "deixar" que
o presidente eleito Jair Bolsonaro tome posse para só então delimitar a
estratégia que será utilizada pela oposição ao futuro governo. "Vamos
deixar o Bolsonaro sentar na cadeira. Aquela cadeira queima; queima aquela
cadeira de presidente. Ele vai ter de tomar várias decisões em janeiro e
fevereiro", ressaltou Dirceu em entrevista ao jornalista Marcelo Godoy, do
jornal O Estado de S.Paulo. "Não foi eleito? Vamos fazer oposição conforme
as propostas que ele fizer, independentemente do fato de que somos oposição a
ele já, pois temos concepções diferentes de País, de vida, de tudo (...)",
completou.
Na entrevista,
o ex-ministro, defendeu a história e o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, preso sem provas pela Lava Jato, junto ao PT. "O PT e o Lula se
confundem. O Lula tem um legado e domina 40 milhões de votos. O PT não só tem
de defender a liberdade do Lula e a inocência dele, como também o legado
dele", afirmou. Dirceu, que foi condenado a 41 anos de prisão pela Lava
Jato, destacou. Para ele, o PT errou ao não passar um "pente fino" ao
aprovar, no governo da presidente Dilma Rousseff, a lei das delações premiadas
"e não perceber que o modo aberto em que se deixou várias questões
permitia o que está acontecendo.
Para
Dirceu, a crise ética na política não deve ser
generalizada. "Você conhece os vereadores do PT? Os deputados, os
prefeitos? Alguém enriqueceu na política? A Luiza Erundina enriqueceu? O
(Fernando) Haddad? A Marta (Suplicy) enriqueceu na política? Não tem. Problema
de caixa 2 de eleição, relações com empresas, é uma coisa. "Uma coisa é a
responsabilidade nossa, dos dirigentes, pelo caixa 2, pela relação com as
empresas, pelo custo das campanhas. Outra coisa é o partido. Você não pode
condenar um partido", afirmou.
Leia abaixo
trechos da entrevista.
Quando o PT foi fundado, dizia-se que a vida de um militante seria
no mundo moderno um símbolo de que outra vida era possível. A crise ética do
PT, exposta na delação de Antonio Palocci, não leva descrédito à esperança de
que outro mundo é possível?
Você
conhece os vereadores do PT? Os deputados, os prefeitos? Alguém enriqueceu na
política? A Luiza Erundina enriqueceu? O (Fernando) Haddad? A Marta (Suplicy)
enriqueceu na política? Não tem. Problema de caixa 2 de eleição, relações com
empresas, é uma coisa; outra é enriquecimento pessoal e corrupção. Uma coisa é
a responsabilidade nossa, dos dirigentes, pelo caixa 2, pela relação com as
empresas, pelo custo das campanhas. Outra coisa é o partido. Você não pode
condenar um partido.
E o ex-ministro Antonio Palocci?
O Palocci é
o Palocci. Não tem outro. Só tem o Palocci. Ninguém mais delatou. Quem que
delatou mais? Ninguém. Aliás, estão presos só quem não delatou, porque está
todo mundo solto. São mais de 180 delatores soltos com seus patrimônios. As
empresas foram arruinadas. É o contrário no mundo, onde se protege as empresas
e se desapropria todos os bens dos responsáveis pelos atos ilícitos das
empresas. No Brasil, não. Aqui se fez o contrário. Toda a construção política
da Lava Jato é em cima das delações, e a maioria delas em cima do terror
psicológico.
É possível o PT convergir com forças da centro-direita?
Pode-se
convergir com outras forças em questões que são essenciais das liberdades
democráticas. Não fizemos isso na campanha das Diretas? Vamos deixar o Bolsonaro
sentar na cadeira. Aquela cadeira queima; queima aquela cadeira de presidente.
Ele vai ter de tomar várias decisões em janeiro e fevereiro. Ele vai
desvincular o salário mínimo da Previdência? Ele vai congelar o salários dos
servidores públicos? Vai revogar a tabela do frete, subsidiar o diesel? A vida
é dura. Que reforma da Previdência ele vai fazer? Ele vai realmente adotar sua
política externa? Ele vai descontingenciar, executar todo o orçamento das
Forças Armadas, da Segurança e da Justiça e vai contingenciar o orçamento da
Saúde e Educação? Ele vai desconstituir a Loas (Lei Orgânica da Assistência
Social)? Porque tem declarações muito contraditórias entre eles. Qual a
política dele? Deixa ele governar. Não foi eleito? Vamos fazer oposição conforme
as propostas que ele fizer, independentemente do fato de que somos oposição a
ele já, pois temos concepções diferentes de País, de vida, de tudo. Quero que
ele comece a governar, tomar decisões, porque senão fica parecendo que você
está torcendo para dar errado, né? Não estou torcendo para dar errado; só estou
dizendo que não vai dar certo. Não deu em outros países, não vai dar aqui.
Leia a íntegra da
entrevista.