O jornalista Alexandre
Garcia não fará mais parte do quadro de funcionários da TV Globo. A emissora
confirmou a informação por meio de um comunicado enviado nesta sexta-feira
(28/12).
“Em decisão muito
refletida, depois de quase 31 anos de trabalho aqui na Globo, Alexandre decidiu
deixar a emissora para amenizar um pouco o seu ritmo frenético de trabalho.
Diante do trabalho exemplar ao longo de todos esses anos, é uma decisão que
respeito. Ele deixa um legado de realizações que ajudaram o jornalismo da Globo
a construir sua sólida credibilidade junto ao público. O trabalho na Globo foi
a sequência de uma vida profissional que poucos podem ostentar”, escreveu Ali
Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo.
Ali Kamel ainda agradeceu tudo que Alexandre
fez para a emissora. “Em nome da Globo, eu agradeço tudo de grande que
Alexandre fez para o jornalismo da emissora, um legado que deve inspirar a
todos nós que aqui trabalhamos: profissionalismo, brilho, correção e
competência. E eu agradeço tudo o que fez por mim, seu jeito gentil, sua
generosidade. Muito obrigado Alexandre, um grande abraço, que você seja muito
feliz, porque você fez por merecer”, disse.
Alexandre Garcia estava na
TV Globo Brasília como comentarista. O jornalista também participava da escala
de fim de semana do Jornal Nacional.
Confira o comunicado na
íntegra:
Conheci pessoalmente Alexandre
Garcia em 1991, quando fui diretor do jornal O Globo em Brasília e ele era o
diretor regional de jornalismo da Globo na capital. Costumávamos nos encontrar
às terças, quando o saudoso Toninho Drummond, então diretor da Globo em
Brasília, oferecia um almoço com fontes e nos convidava. Percebi em Alexandre,
de imediato, o homem que ele é: correto, íntegro e também extremamente gentil e
generoso. Ele, um super consagrado jornalista, com presença marcante no vídeo,
além das atribuições editoriais do cargo; eu, um recém chegado a Brasília, com
29 anos, nove anos de profissão. Apesar disso, Alexandre me tratava como um
igual e me ajudava no que podia. Ao chegar à Globo em 2001 reencontrei o mesmo
Alexandre: profissional completo, com conhecimento de pós-graduado na cobertura
política, mas o mesmo homem gentil que eu conhecera 10 anos antes. Em decisão
muito refletida, depois de quase 31 anos de trabalho aqui na Globo, Alexandre
decidiu deixar a emissora para amenizar um pouco o seu ritmo frenético de
trabalho. Diante do trabalho exemplar ao longo de todos esses anos, é uma
decisão que respeito. Ele deixa um legado de realizações que ajudaram o
jornalismo da Globo a construir sua sólida credibilidade junto ao público. O
trabalho na Globo foi a sequência de uma vida profissional que poucos podem
ostentar.
A naturalidade frente às
câmeras sempre foi um dos trunfos de Alexandre. Consta que quando começou na
Globo, o saudoso Armando Nogueira dizia que ele estava inovando porque fazia
gestos na televisão. Enquanto a norma era uma postura mais formal, Alexandre
caminhava, fazia gestos. Essa naturalidade vinha de criança. Aos sete anos já
atuava como ator infantil na rádio em que seu pai, o radialista Oscar Chaves
Garcia, trabalhava. Aos 15, transmitia a Missa na Rádio de Cachoeira do Sul,
onde nasceu em 1940. Aos 16, era locutor, redator, apresentador, repórter de
rua da pequena rádio Independente de Lajeado. Ao se mudar para Porto Alegre
para continuar os estudos, virou locutor da Rádio Difusora, dos Diários
Associados. Ele conta que o salário pagava a pensão e a escola.
Quando entrou na PUC/RS para
estudar Comunicação Social(onde foi o primeiro lugar no vestibular e no curso
todo e presidente do Centro Acadêmico) era funcionário concursado com primeiro
lugar no Banco do Brasil. Agora era o bancário sustentando os estudos do futuro
jornalista. Conseguiu seu primeiro estágio na sucursal do Jornal do Brasil na
capital gaúcha. Especializou-se na cobertura de economia, com ênfase na Bolsa
de Valores. Ao ser contratado pelo JB, apostou no seu talento como jornalista e
encerrou sua carreira de bancário.
Em 1973, cobriu o fechamento do
Congresso uruguaio, que deu início à ditadura militar no país. Foi transferido
então para Buenos Aires, onde ficaria três anos, acompanhando a agonia do
governo peronista e a crise que levaria também ao golpe militar. Alexandre teve
que deixar a Argentina às pressas depois de uma reportagem em que denunciava o
esquema de corrupção da polícia rodoviária argentina próximo à cidade de Mar
del Plata.
De volta o Brasil, foi
trabalhar na sucursal do JB em Brasília, onde permaneceu dez anos, firmando-se
como um bem sucedido repórter de política. Em 1983, estreou no vídeo na extinta
TV Manchete. É dele a entrevista do último presidente militar, João Figueiredo,
de quem foi porta-voz por um período. Foi a antológica entrevista em que
Figueiredo disse: “Eu quero que me esqueçam!” Continuou a carreira como
correspondente internacional cobrindo as guerras civis no Líbano e Angola – e a
Guerra das Malvinas, o que lhe valeu a Ordem do Império Britânico, concedida
pela Rainha Elizabeth II.
Em março de 1988, a convite de
Alberico Souza Cruz, começou a trabalhar na TV Globo de Brasília. Entre seus
primeiros trabalhos, um quadro no Fantástico que levava o seu nome: A Crônica
de Alexandre Garcia, em que divertia os brasileiros com gafes e bastidores do
mundo político da capital, num texto irresistível. Como repórter especial
dividia-se entre o JN, o JH e o Jornal da Globo. Participou de momentos
memoráveis da história recente do Brasil como as primeiras eleições
democráticas para presidente, em 1989, depois da ditadura militar. Ao lado de
Joelmir Betting, entrevistou todos os candidatos no programa Palanque
Eletrônico. Ainda foi um dos mediadores do debate de segundo turno entre Lula e
Fernando Collor, realizado em pool pelas quatro grandes emissoras de então, Globo,
Band, SBT e Manchete.
Entre 1990 e 1995, como disse,
Alexandre Garcia foi diretor regional de jornalismo da Globo de Brasília, sem
deixar de lado seu trabalho frente às câmeras. Em 1993, estreou como
comentarista do JG, em 96, passou a ter um programa na GloboNews, Espaço
Aberto.
De 2001 a 2011 foi o âncora do
DFTV. Comentava, analisava, cobrava das autoridades soluções para os muitos
problemas que afetam os brasilienses. Nos últimos anos, tornou-se comentarista
político do Bom dia Brasil, comentarista local diário do DFTV e faz parte do
grupo de apresentadores que se reveza na bancada do JN aos sábados. Durante
todo esse período, não houve cobertura de política no Brasil sem que ele
brilhasse.
Em nossa conversa, Alexandre me
disse que deixa a Globo, mas não o jornalismo. Ele continuará a ter seus
comentários políticos transmitidos por duzentas e oitenta rádios Brasil afora.
Do mesmo jeito, continuará a escrever artigos para um sem número de jornais por
todo o país. E, entre seus planos, está o de acrescentar outro títulos ao seu
livro de grande sucesso “Nos Bastidores da Notícia”, lançado em 1990 pela
Editora Globo.
Em nome da Globo, eu agradeço
tudo de grande que Alexandre fez para o jornalismo da emissora, um legado que
deve inspirar a todos nós que aqui trabalhamos: profissionalismo, brilho,
correção e competência. E eu agradeço tudo o que fez por mim, seu jeito gentil,
sua generosidade. Muito obrigado Alexandre, um grande abraço, que você seja
muito feliz, porque você fez por merecer. [metropoles / foto reprodução ]