O futuro governo Bolsonaro, surgido no bojo de uma onda
"contra a corrupção", tem mais da metade dos ministros anunciados
envolvidos em denúncias e investigações. Seis dos dez nomes indicados por
Bolsonaro estão enrolados: Onyx Lorenzoni, deputado (Casa Civil); Paulo
Guedes, economista (Economia); Marcos Pontes, tenente-coronel (Ciência e
Tecnologia); Tereza Cristina, deputada (Agricultura); Luiz Henrique
Mandetta, deputado e médico (Saúde); e Sérgio Moro, agora ex-juiz federal
(Justiça).
Até o
momento, não há investigações em curso contra quatro ministros anunciados:
Augusto Heleno, general (Segurança Institucional); Fernando Azevedo e Silva,
general (Defesa); Ernesto Araújo, diplomata (Relações Exteriores); e Wagner
Rosário, atual ministro (Controladoria-Geral da União).
As
acusações e denúncias contra cada um:
Onyx
Lorenzoni: recebimento comprovado de doações ilícitas em campanha eleitoral
(caixa 2); para o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, o uso de caixa 2 em
campanhas eleitorais, é "pior que corrupção".
Paulo
Guedes: há investigações por fraudes contra fundos de pensão e fundos de
investimentos em valores que podem chegar a mais de R$ 1 bilhão.
Marcos
Pontes: acusado de ser sócio oculto de uma empresa quando era militar da ativa
-aos militares é vedado serem sócios de empresas.
Tereza
Cristina: investigada por conceder incentivos fiscais à JBS quando era
secretária estadual de Desenvolvimento Agrário e Produção de Mato Grosso do
Sul, na mesma época em que arrendou para si uma propriedade ao grupo.
Luiz
Henrique Mandetta: o deputado não reeleito é investigado por fraude em
licitação, tráfico de influência e caixa 2 no contrato para implementar um
sistema de informatização na saúde em Campo Grande, no período no qual foi
secretário. O futuro ministro teve os bens bloqueados em uma ação civil pública
relativa ao caso.
Sérgio
Moro: responde a diversos processos disciplinares no Conselho Nacional de
Justiça (CNJ). Entre eles estão: vazamento para a imprensa da delação premiada
de Antonio Palocci; a divulgação da conversa gravada entre a então presidenta
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula; a aceitação do convite para se tornar
ministro da Justiça do presidente eleito Jair Bolsonaro, diante da revelação
que o convite fora feito ainda durante a campanha eleitora; a interferência
indevida de Moro para impedir o cumprimento de um habeas corpus que determinava
a soltura de Lula, em julho passada; viagem ao exterior patrocinada por
entidade privada (Lide) para participar de evento a convite de João Doria.
A qualidade
do ministério de Bolsonaro está surpreendendo até setores da mídia que vinham
manifestando neutralidade e até simpatia a Bolsonaro. Gilberto Dimenstein,
proprietário do site Catraca Livre, manifestou-se nesta terça com um tweet
sobre o assunto:
Além dos futuros ministros enrolados com a Justiça, Bolsonaro,
que havia prometido um ministério desvinculado da política tradicional está
compondo um governo alicerçado no DEM. O partido é o único com parlamentares no
ministério até o momento e, mesmo com um desempenho pífio nas eleições, já
abocanhou 30% do lote já anunciado: três dos dez indicados são
"democratas", Lorenzoni, Tereza Cristina e Mandetta. O DEM
é o sucessor do PFL, por sua vez sucessor do PDS, que surgiu da Arena, o
partido que deu sustentação ao regime militar e reúne a casta política mais
arraigada no aparelho de Estado e à política clientelista, especialmente no
Nordeste.
Em termos
de representação parlamentar, o DEM terá uma bancada no máximo média em 2019.
Elegeu apenas 29 deputados federais, muito atrás do PT (56), do PSL (52), PP
(37) ou MDB e PSD (cada um com 33). A bancada do DEM é menor até que as do PR,
PSB e PR. É apenas a nona babcada na Câmara, empatada com a do PSDB. No
entanto, é a força política predominante até agora no Ministério Bolsonaro.|Informações brasil247