O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva negou hoje (14), em depoimento à Justiça Federal em Curitiba, ter
conhecimento sobre as reformas realizadas no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia
(SP). Ele negou também ser o dono do imóvel.
Lula foi interrogado pela juíza
Gabriela Hardt em ação penal na qual ele e mais 12 réus respondem ao processo,
entre eles os empresários Marcelo e Emílio Odebrecht e Léo Pinheiro, da OAS, e
o pecuarista José Carlos Bumlai. As acusações são dos crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro.
O sítio foi alvo das investigações da
Operação Lava Jato, que apura a suspeita de que as obras de melhorias no local
foram pagas por empreiteiras investigadas por corrupção, como a OAS e a
Odebrecht.
No interrogatório, Lula confirmou que
passou a frequentar a propriedade no início de 2011, quando deixou a
Presidência da República.
No entanto, as reformas que foram
realizadas já estavam prontas e Lula disse que não teve conhecimento delas por
não ser o dono do imóvel.
Depoimento
O ex-presidente também negou que
tenha tratado do assunto com o empresário Emílio Odebrecht. "Quando eu
conheci o sítio, não tinha reforma, o sítio estava pronto", afirmou.
No início da audiência, a juíza
perguntou a Lula se ele tinha conhecimento sobre as acusações contra ele, uma
praxe processual feita a todos os acusados. Ele respondeu que não sabia e
queria saber o teor da acusação.
"Gostaria de pedir, se a senhora
pudesse me explicar, qual é a acusação? Estou disposto a responder toda e qualquer
pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?" questionou.
Em seguida, Gabriela Hardt retrucou.
"Isso é o senhor que tem que responder e não eu. Eu não estou sendo
interrogada neste momento. Isso é um interrogatório, e se o senhor começar
neste tom comigo, a gente vai ter problema".
Durante o depoimento, o ex-presidente
voltou a afirmar que as acusações contra ele são “uma farsa”.
"O primeiro processo que eu fui
vítima, que é uma farsa, uma mentira do Ministério Público, com Power Point. A
segunda é outra farsa. Eu estou pagando esse preço. Eu vou pagar porque sou um
homem que creio em Deus, creio na Justiça, e um dia a verdade vai prevalecer o
que está acontecendo", afirmou.
Reforma
Segundo os investigadores, as
reformas começaram após a compra da propriedade pelos empresários Fernando
Bittar e Jonas Suassuna, amigos de Lula, quando "foram elaborados os
primeiros desenhos arquitetônicos para acomodar as necessidades da família do
ex-presidente".
No laudo elaborado pela Polícia
Federal, em 2016, os peritos citam as obras que foram feitas, entre elas a de
uma cozinha avaliada em R$ 252 mil. A estimativa é de que tenha sido gasto um
valor de cerca de R$ 1,7 milhão, somando a compra do sítio (R$ 1,1 milhão) e a
reforma (R$ 544,8 mil).
É a primeira vez que Lula deixa a
carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba após ter sido preso pela
condenação em outro processo, que trata do apartamento tríplex do Guarujá (SP).
Desde 7 de abril, Lula cumpre, na capital paranaense, pena de 12 anos e um mês
de prisão, imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), pelos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Defesa do ex-presidente
Em nota, a defesa do ex-presidente
afirmou que o depoimento de Lula demonstra arbitrariedade da acusação. Isso
porque embora o Ministério Público Federal cite que contratos específicos da
Petrobras teriam gerado vantagens a Lula, nenhuma pergunta neste sentido foi
feita: "A situação confirma que a referência a tais contratos da Petrobras
na denúncia foi um reprovável pretexto criado pela Lava Jato para submeter Lula
a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba."
A defesa também reafirma que a
propriedade do sítio Santa Bárbara, "que pertence de fato e de direito à
família Bittar, conforme farta documentação constante no processo."
"O depoimento prestado pelo
ex-Presidente Lula também reforçou sua indignação por estar preso sem ter
cometido qualquer crime e por estar sofrendo uma perseguição judicial por
motivação política materializada em diversas acusações ofensivas e
despropositadas para alguém que governou atendendo exclusivamente aos
interesses do País", encerra a nota assinada pelo advogado Crisitiano
Zanin Martins. [agenciabrasil / Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil]