Dez cidades baianas, todas
com menos de 40 mil habitantes, ficarão sem nenhum médico para atendimento na
assistência básica com a saída dos profissionais
cubanos do programa Mais Médicos, anunciada nesta semana pelo governo do país.
O executivo estadual estima que a decisão vai afetar a vida de cerca de 3
milhões de pessoas, que ficarão sem assistência.
A Bahia, que abriga 10% do
total de médicos cubanos hoje no país, é o segundo estado que mais vai perder
profissionais do Mais Médicos— fica atrás apenas de São Paulo,
que tem 16% de todos os médicos de Cuba hoje no país.
Atualmente, segundo a
Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), a Bahia possui 1.522 médicos do Programa
Mais Médicos, que estão alocados em 363 dos 417 municípios. Deste total de
profissionais, 846 são cubanos, que estão distribuídos em 317 municípios — há
médicos também de países como México, Espanha e Angola.
Os cubanos atendem,
diariamente, 20,4 mil pessoas no estado — 326 mil mensalmente e 3 milhões
anualmente. A estimativa do governo é que esses profissionais comecem a deixar
o estado já a partir do dia 25 de novembro.
Os municípios baianos onde
só médicos cubanos trabalham na assistência básica e que perderão 100% dos
profissionais são:
·
Apuarema (3 médicos)
·
Central (6)
·
Correntina (8)
·
Itagibá (3)
·
Lafaiete Coutinho (2)
·
Lajedão (2)
·
Nova Itarana (3)
·
Nova Soure (5)
·
Palmeiras (4)
·
Pedro Alexandre (6)
Do total de municípios que
contam atualmente com o programa Mais Médicos na Bahia, em 99, o número de
médicos cubanos representa mais de 50% do total de profissionais da atenção
básica.
Ainda conforme dados do
governo local, 17 comunidades indígenas também ficarão sem assistência em todo
o estado.
A Sesab aponta que a
retirada antecipada dos médicos representa "grave ameaça para municípios
baianos". Diz que, ao longo de cinco anos de existência do programa, mais
de 5,6 milhões de pessoas foram beneficiadas, cerca de 800 mil consultas
realizadas por mês, com uma cobertura de 72% da atenção básica.
"Com a atuação deles,
desde o início, há cinco anos, a gente percebeu uma redução do número de
internações nos nossos indicadores. Hoje, com a saída deles, vai ocorrer a
ampliação da demanda em pronto atendimentos e de internações hospitalares, caso
não se tenha a substituição desses médicos a curto e médio prazo. A longo
prazo, é catastrófico", destaca o diretor de atenção básica da Sesab,
Cristiano Soster.
No ranking de cidades que
vão perder o maior número de cubanos, mas ainda manterão médicos na assistência
básica, Teixeira de Freitas, na região sul, aparece no topo. A cidade perderá
18 profissionais cubanos. Já Salvador possui atualmente dois cubanos
trabalhando.
A secretaria aponta que o
programa vinha sendo extremamente relevante, sobretudo, para os moradores dos
municípios distantes dos grandes centros, pela maior dificuldade de acesso aos
serviços de saúde, e afirma que a saída dos cubanos pode resultar na
superlotação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e aumento de internações.
Soster diz que é preciso
preencher as vagas deixadas pelos cubanos o quanto antes, mas afirma que,
historicamente, alocar médicos brasileiros para localidades distantes dos
grandes centros urbanos é complicado.
"Na prática, todos os
editais que foram lançados pelo Ministério da Saúde para o Mais Médicos — já
são mais de 15 editais de chamamento e convocação de médicos — não teve adesão
dos médicos brasileiros. Eles não tiveram interesse em ir para essas
comunidades distantes, que têm uma dificuldade estrutural. Isso é o que a gente
vem percebendo. A prioridade é sempre para os brasileiros, mas como as vagas
não são preenchidas, são convocados médicos do exterior", explica.| g1 / Foto Elói Corrêa/GOVBA