Ao
vestir um boné Trump-2020, o deputado Eduardo Bolsonaro colocou-se abaixo da
linha de dignidade devida por um representante eleito do povo brasileiro,
frequentemente apontado como porta-voz do próprio governo a ser empossado em 1
de janeiro de 2019.
Por maior
que seja sua identificação com o atual presidente norte-americano, não cabe a
um deputado e personagem influente do novo governo o menor gesto público de
engajamento, mesmo simbólico, por uma eventual reeleição de Donald Trump.
O motivo é
elementar. Brasileiros e norte-americanos são cidadãos de países distintos, com
história diversa, outras raízes culturais e, acima de tudo, interesses
diferentes -- ora próximos, ora distantes, ora divergentes, ora antagônicos.
Essa é uma
realidade geopolítica desde o nascimento dos Estados Nacionais, no século
XVIII.
Nem o mais
fanático dos "globalistas" --personagens que o futuro chanceler
Ernesto Araújo se diz empenhado em combater cotidianamente -- irá negar as diferenças
entre um país e outro, um povo e outro. Sabe que a situação impõe comedimento e
pudor, recusa gestos de deslumbramento.
Sabemos que
Eduardo Bolsonaro vestiu o boné de Trump-2020 ao final de um encontro com um
genro do presidente norte-americano, considerado personagem influente nos
bastidores da Casa Branca.
Na mesma
ocasião, o deputado anunciou apoio a uma medida condenável -- a mudança da
embaixada brasileira para Jerusalém.
A
decisão não só implica no envolvimento do Brasil numa questão interna do
conflito entre israelenses e palestinos, rompendo com a respeitada tradição
brasileira de respeito a autonomia dos povos, marcada tanto pelo apoio a
criação do Estado de Israel como pela defesa dos direitos da população árabe.
Também terá
previsíveis prejuízos do ponto de vista econômico. Isso porque expõe preciosas
fatias das exportações brasileiras a retaliação de países árabes. Como se fosse
pouco, um gesto desse natureza pode ter implicações óbvias para a segurança de
todos os brasileiros. Abre as portas do país para a violência e o terror que
marcam o conflito do Oriente Médio em tempos recentes.
O único
beneficiário real do boné eleitoral é o próprio governo Trump, que costuma
crescer quando se mostra capaz de subordinar autoridades de outros países.
Eduardo Bolsonaro pode não lhe dar um único voto. Mas sua imagem compromete um
país inteiro, de 210 milhões de habitantes, que tem orgulho da própria
independência e jamais abrirá mão de conduzir o próprio destino.
Jamais irá
autorizar um representante eleito a atuar como cabo eleitoral do governo de
outro país.
Alguma
dúvida?
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