Na esteira das recentes declarações do novo
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso
pega carona e reitera o óbvio: que se deve respeitar a democracia e o resultado
das eleições. Embora protocolar, Barroso vai além e faz duas declarações
políticas: diz que os dois governos Lula foram bons para o Brasil e que o
impeachment de Dilma Rousseff fez mal para o Brasil. O ministro ainda diz que a
corrupção no país é sistêmica e que tem vergonha de acordar todos os dias e ver
o Brasil na 96ª posição no ranking internacional da percepção da corrupção.
Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo do jornal
Folha de S. Paulo, Barroso dá a sua opinião sobre avanços e retrocessos
recentes do Brasil: "eu tenho um olhar positivo e construtivo de uma
maneira geral. Portanto eu acho que, nesses 30 anos da Constituição, há
conquistas relevantes a serem celebradas: a estabilidade institucional e
monetária e uma expressiva inclusão social.
Além disso, nós tivemos avanços muito importantes em direitos
fundamentais, das mulheres —na conquista da liberdade sexual, igualdade na
sociedade conjugal, avanço no mercado de trabalho e na luta contra a violência
doméstica.
Houve também vitórias em favor dos afrodescendentes, da comunidade
LGBT, na dramática situação dos transgêneros, que passaram a poder fazer a
cirurgia de redesignação de sexo no SUS e a adotar seu nome social no registro
civil".
Sobre a corrupção, Barroso diz: "foi uma corrupção
estrutural, sistêmica e programada de arrecadação e de distribuição de recursos
públicos com um nível de contágio muito impressionante. A sociedade,
felizmente, num determinado momento, começou a reagir. E deixou de aceitar o
inaceitável.
(...)
A corrupção foi produto de um pacto oligárquico celebrado entre
parte da classe política, parte da classe empresarial e parte da burocracia
estatal. Precisamos substituí-lo por um pacto de integridade".
Barroso fala também sobre a colocação do Brasil no ranking da
corrupção: "o Brasil é o 96º colocado no índice de percepção de
corrupção da Transparência Internacional. Eu acordo todos os dias envergonhado
com esse número".
Sobre os governos Lula, o ministro do STF diz: "não sou
analista político. Mas os dois primeiros governos de Lula foram momentos
venturosos do Brasil, com crescimento econômico, inclusão social e aumento de
renda. Eu não sou analista econômico tampouco para dizer quando chegou a
conta desse período. Mas as pessoas associam a esse período uma fase positiva
de sua vida".
Sobre a violência, Barroso acrescenta: "eu destacaria ainda a
questão da violência. São 63 mil homicídios por ano no Brasil, um genocídio de
jovens que precisa entrar no radar da sociedade brasileira.
Quando o assunto é impeachment, Barroso manifesta, em tom de
lamento, que o processo interrompeu o curso natural da democracia brasileira:
"a minha visão é que [com o impeachment] se interrompeu
artificialmente um ciclo que deveria ter tido o seu curso natural. Se ele
se completasse, teria acabado naturalmente e talvez o quadro fosse outro".|brasil247 / Foto reprodução