Um tremor de terra que ocorreu na Bolívia na
manhã desta segunda-feira, por volta de 10h40, foi sentido em prédios mais
altos de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e em várias outras cidades do
Sudeste, do Centro-Oeste e na região Sul. O sismo, de magnitude intermediária,
de 6,8 pontos na escala Richter, ocorreu a 555 km de profundidade, de acordo
com o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).
Diversas pessoas que trabalham em
prédios altos da Avenida Paulista, um dos pontos mais elevados de São Paulo,
puderam sentir a vibração das ondas emitidas pelo tremor que ocorre a mais de
1.500 km de distância. Ele abalou uma área localizada a 209 km de Tarija,
noroeste da Bolívia, a uma profundidade de 557 km, segundo o Serviço Geológico
dos Estados Unidos (USGS).
Na
Avenida Paulista, dezenas de pessoas saíram dos prédios e se aglomeraram nas
ruas. O prédio da Petrobras, no número 901 da avenida, foi evacuado após os
funcionários que trabalham do 11º ao 19º andares sentirem os tremores. Segundo
o segurança Jackson Carlos da Conceição, as pessoas relataram que o tremor
durou cerca de 30 segundos. "Eles viram as portas e objetos balançarem,
disseram ter sentido como se estivessem tontos", contou.
Por precaução,
todos os andares do prédio foram esvaziados. Cerca de 400 pessoas trabalham no
local.
O prédio da Gazeta
no número 900 da famosa avenida foi outro a ser evacuado. Por volta das 11h, o
prédio do Ministério Público de São Paulo, que fica na Rua Riachuelo, no
centro, também foi esvaziado. Muitas pessoas permaneceram nas calçadas
aguardando permissão para retornarem ao prédio.
O editor de
fotografia Marcelo Ferrelli, de 40 anos, estava no 12º andar do prédio da
Gazeta quando sentiu o tremor. "Eu estava em pé e deu uma vertigem, uma
sensação de baixar a pressão. Todo mundo começou a perguntar e a gente reparou
os fios da TV balançando. Tremeu, diminuiu e tremeu de novo e outra vez. Foram
três vezes em um período de cinco minutos."
Ele conta que viu
prédios da região sendo evacuados. "Trabalho aqui desde 1999 e é a segunda
vez que consigo sentir (o efeito de um terremoto). Já teve um tremor por causa
de um terremoto no Chile e a gente sentiu aqui, mas este foi mais forte",
contou Por causa dessa
experiência, Ferrelli passou a seguir perfis de sismologia nas redes sociais.
"Recebi informações rápido e soube que era um problema na Bolívia."
Quem estava no
Conjunto Nacional, também na Paulista, sentiu o impacto do terremoto.
"Estava conversando com um colega na nossa sala que fica no Conjunto
Nacional e ficamos intrigados. As lâmpadas começaram a balançar todas juntas,
no mesmo ritmo. Não tínhamos ideia do que era e fomos olhar nas outras salas,
mas no escritório ninguém mais percebeu", contou Mario Mantovani, diretor
de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.
Nas redes sociais
também houve relato de tremores em Santos, no litoral paulista, e no Distrito
Federal, em Brasília.
Terremoto profundo
Técnico
em sismologia do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José
Roberto Barbosa explica que o terremoto registrado na Bolívia foi considerado
profundo e, quando isso ocorre, ondas chegam à superfície e se propagam.
"São ondas que caminham no sentido transversal, acabam encontrando as
estruturas dos prédios e mexendo. As pessoas acabam sentindo essa oscilação. Em
geral, sentem um ligeiro enjoo, a vibração, podem ver um lustre balançando e
isso é suficiente para elas saírem correndo, porque não estão habituadas a esse
tipo de situação", explicou.
Segundo Barbosa, é
possível que, em uma mesma região, pessoas que estão em um prédio sintam o
tremor e outras, em um imóvel próximo, não tenham a mesma sensação. "Tem
prédios que estão fixados em rochas mais duras e outros em rochas sedimentares,
que amplificam um pouco e as pessoas percebem mais facilmente. Em outros,
fixados em basalto, granito, as ondas passam e quase não são percebidas."
O técnico informa
que, de um modo geral, esse tipo de tremor não abala a estrutura dos prédios.
"Tivemos dezenas de casos de ocorrências desse tipo, que as pessoas chamam
de reflexo de terremoto e, em geral, não causa danos em prédios."|estadao