Nove presos na Operação Skala foram soltos no fim da noite desse sábado em São Paulo após decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogou as prisões. Entre os presos estavam dois amigos do presidente Michel Temer, José Yunes, advogado e ex-assessor do presidente e João Baptista Lima Filho, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo. Também foi solto Wagner Rossi, ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente da estatal Codesp. Nove dos presos estavam desde quinta-feira na sede da PF em São Paulo. 

As prisões foram revogadas a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A PGR investiga supostas irregularidades no inquérito do Decreto dos Portos, no qual Temer também é acusado que beneficiar a empresa Rodrimar na concessão de espaço portuário em troca de propina. Ao pedir a revogação, a PGR afirma que o objetivo das prisões, que era instruir as investigações, já foi cumprido. As prisões temporárias de cinco dias dos alvos da operação foram pedidas pela própria PGR e terminariam amanhã.

“Desse modo, tendo as medidas de natureza cautelar alcançado sua finalidade, não subsiste fundamento legal para a manutenção das medidas, impondo-se o acolhimento da manifestação da Procuradoria-Geral da República. [...] Revogo as prisões temporárias decretadas nestes autos. Expeçam-se, com urgência, os respectivos alvarás para que se possa proceder à imediata soltura”, disse Barroso ao autorizar a libertação imediata dos acusados.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, explicou ao ministro Barroso que todos os mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos, menos a captura de três sócios do Grupo Libra (Rodrigo Borges Torrealba, Ana Carolina Borges Torrealba Affonso e Gonçalo Borges Torrealba), que estavam no exterior , “mas dispostos a se apresentarem à autoridade policial tão logo retornem”.

A operação que prendeu amigos de Temer, empresários e um ex-ministro foi deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira. Foram presos José Yunes, advogado, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, Antônio Celso Grecco, empresário, dono da empresa Rodrimar, João Batista Lima, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo e amigo de Temer, Wagner Rossi, ex-deputado, ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da estatal Codesp, Milton Ortolan, auxiliar de Wagner Rossi, Celina Torrealba, dona do Grupo Libra, Eduardo Luiz de Brito Neves, proprietário da MHA Engenharia, Maria Eloisa Adensohn Brito Neves, sócia nas empresas MHA Engenharia e Argeplan, Carlos Alberto Costa, sócio fundador da Argeplan e ex-sócio da AF Consult Brasil, e Carlos Alberto Costa Filho, sócio da AF Consult Brasil.

Sexta-feira e ontem a Polícia Federal tomou o depoimento de todos os presos com a presença de procuradores que atuam na Secretaria da Função Penal Originária no STF, estrutura da PGR responsável pelos inquéritos de autoridades com foro privilegiado.

DENÚNCIA SEIS DIAS ANTES
Seis dias antes de serem presos pela Operação Skala, o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, amigos pessoais de Temer, foram denunciados pelo Ministério Público Federal por participarem de organização criminosa ligada ao MDB. Yunes e Lima foram denunciados pela Procuradoria em 21 de março, com base em dados reunidos durante a investigação do caso batizado como “quadrilhão do MDB”. Como os dois não têm foro privilegiado, as denúncias coletadas durante o inquérito citado foram desmembradas e endereçadas para a 12ª Vara Federal de Brasília. Outras três pessoas estão em situação semelhante. Os nomes dos demais integrantes dessa nova leva de denunciados, no entanto, estão sob sigilo.

 O ‘quadrilhão’ apura a atuação do grupo político do presidente Michel Temer, que seria formado por aliados como Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Com exceção dos dois últimos, que são ministros e, portanto, têm foro, os demais estão presos. O caso investiga uma série de irregularidades atribuídas a integrantes de partidos cometidas em diversos escalões da administração pública, como na Caixa Econômica Federal. Há ainda suspeitas de irregularidades cometidas no setor portuário, com provas distintas das que nesse momento estão em avaliação na Operação Skala.

O desmembramento do caso e as investigações que correm em paralelo poderão servir de subsídio para o trabalho da Procuradoria Geral da República e a da Polícia Federal, dentro da operação Skala. A expectativa é de que informações e provas obtidas durante a investigação em curso, envolvendo as cinco pessoas sem foro privilegiado, sejam numa segunda etapa remetidas para a PGR, como eventual subsídio no inquérito que tem como alvo principal o presidente Temer, responsável pela edição do chamado Decreto dos Portos. Entre as empresas supostamente beneficiadas pela medida do presidente está a Rodrimar, que atua no porto de Santos.

RÉUS Se a denúncia for aceita, Yunes e Lima se tornarão réus e poderão responder por crime de organização criminosa. A pena prevista nesses casos é de três a oito anos de prisão. Procurado pela reportagem, o advogado Jose Luis Oliveira Lima, que defende Yunes, afirmou que “mais uma vez a defesa tomou conhecimento dessa acusação pela imprensa, o que e inadimissivel”. Segundo ele, “mesmo sem ter conhecimento da denuncia, posso afirmar que José Yunes em mais de 50 anos de atividade profissional sempre pautou sua postura pela ética e correção”. Já o advogado Maurício Silva Leite, que representa Lima, disse que só ira se manifestar quanto tiver acesso ao conteúdo da denúncia.|em / foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil; Brasilia

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