O líder
do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, anunciou nesta sexta-feira,
5, por meio de um vídeo, que a Frente Brasil Popular pretende realizar atos em
defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o julgamento do
petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), no dia 24, em
Porto Alegre. O tom da mensagem de Stédile “acendeu a luz de alerta” dos
serviços de inteligência das Forças Armadas.
As
instituições acompanham as atividades de movimentos como o MST e de seus
líderes, como Stédile, “dentro da agenda de trabalho de rotina em todo o País”,
conforme disse o Estado nesta
sexta-feira um oficial da área de inteligência. O alto comando das Forças
recebe regularmente relatórios sobre ações dos grupos mais ativos.
Na convocação feita no
vídeo, Stédile também afirmou que o MST e outros 87 grupos e partidos que
integram a Frente Brasil Popular preparam, a partir de março, uma série de
mobilizações em defesa do ex-presidente que vai culminar em ato para 100 mil
pessoas no Maracanã, em julho. A partir de então, segundo Stédile, os
movimentos vão transformar a campanha eleitoral em uma “luta de classes”.
Além de atos no
TRF-4, no dia do julgamento que pode tornar Lula inelegível, Stédile anunciou
manifestações diante de fóruns de cidades menores, “sobretudo da Justiça
Federal nas capitais para demonstrar nossa indignação”. “Nosso foco não é
apenas Porto Alegre”, disse João Paulo Rodrigues, companheiro de Stédile na
coordenação nacional do MST.
O tom do discurso das
organizações de esquerda tem endurecido nos últimos dois anos, desde que foi
desencadeado o processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff,
avalia o militar, que, no entanto, não reconhece a existência de “um exército
do MST”.
A preocupação é de que as
manifestações possam evoluir para o confronto direto – e violento – com a polícia
e, “pior, para a pressão além do limite sobre o Judiciário, sobre os
magistrados principalmente”.
Outro motivo de
apreensão é o choque entre organizações divergentes – como o Movimento Brasil
Livre (MBL), apoiadores do deputado Jair Bolsonaro e os quadros do MST, no
campo, ou do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), nas cidades. O MBL se mobiliza para protestos contra Lula no dia
do julgamento.
No vídeo divulgado nesta
sexta-feira, Stédile diz que a ideia é realizar, a partir de março, etapas do
processo que ele chamou de “congresso do povo” em todos os municípios
brasileiros. Em seguida, as propostas seriam levadas a encontros estaduais. “E,
finalmente, depois da Copa do Mundo, lá pelo fim de julho, faremos o congresso
do povo nacional em pleno Maracanã para juntar 100 mil, 120 mil militantes”,
disse Stédile.
‘Resposta’. A partir do segundo
semestre, conforme o líder sem-terra, o foco dos movimentos passa a ser
“abraçar a candidatura de Lula que representa a simbologia da classe
trabalhadora”. “Teremos um 2018 cheio de mobilizações, de muita disputa
política em que a própria campanha eleitoral se transformará em uma verdadeira
luta de classes”, disse Stédile.
De acordo com
Rodrigues, as mobilizações devem sempre ter caráter pacífico. “Sempre
procuramos minimizar qualquer tipo de conflito, até porque quem paga é o
trabalhador”, afirmou. O objetivo, segundo ele, é dar uma “resposta política”
ao avanço da direita. “Há uma radicalização por parte de vários setores,
inclusive entre os militares. Se a gente não resistir eles engolem o campo
democrático”, disse.|estadão