A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra
Cármen Lúcia, afirmou anteontem que o brasileiro não dormiria, se conhecesse
tudo o que ela sabe. A declaração foi dada pela ministra ao comentar a situação
dos presídios brasileiros, segundo ela, totalmente dominados organizações
criminosas. “Hoje temos as questões gravíssimas de organizações criminosas
dominando em todos os estados do Brasil. Por isso eu digo que não é cômodo nem
confortável nenhuma poltrona na qual eu me assente, por uma singela
circunstância: eu sou uma das pessoas que mais tendo informações não tenho a
menor capacidade de ter sono no Brasil”, disse a ministra, durante participação
no Festival Piauí Globonews de Jornalismo, realizado em São Paulo:
“Se
o brasileiro soubesse tudo o que sei, tendo visitado 15 penitenciárias
masculinas e femininas, seria muito dífícil dormir”, completou. Cármen Lúcia
ainda rebateu os críticos e os desafiou a assumir o seu lugar e fazer o que
faz. Para ilustrar o momento atual do Brasil, a ministra citou um trecho do
poema “Nosso Tempo”, do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “Os homens pedem
carne. Fogo. Sapatos/ As leis não bastam/ Os lírios não nascem da lei/ Meu nome
é tumulto, e escreve-se na pedra.”
“Vivemos
tempos de muito tumulto. Para mim, infelizmente, eu estou na presidência do
Supremo e o Brasil quer uma solução para um mundo de tumulto”, disse Cármen,
negando que se tratasse de um "relclamação."
Na
conversa com a jornalista Consuelo Dieguez e diante de uma plateia, a
presidente do STF evitou se aprofundar em temas polêmicos. Sobre a deleção dos
irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, disse apenas que o Supremo ainda vai
avaliar se houve ou não manipulação para a produção de provas. Entretanto, ela
ressalvou que o ex-procurador-geral da república, Rodrigo Janot, responsável
por conduzir os acordos da colaboração dos empresários, é “experiente e muito
prepardo.”
“A
colaboração premiada tem sido um instrumento necessário para chegar ao fatos
para que a corrupção não prevaleça. Eventuais excessos serão corrigidos. Nenhuma
investigação ou acusação para caso o procedimento não tenha sido perfeitamente
aplicado”, observou a ministra, que criticou o “vazamento seletivo” das
delações: “O vazamento é um erro”.
A
presidente do Supremo ainda fez uma forte defesa da democria e disse não
acreditar no risco de uma intervenção militar. Em setembro, o general do
Exército Antonio Hamilton Mourão indicou que a tomada do poder pelos militares
era uma saída para o país, caso o Judiiciário não soluciasse o problema
político. A ministra classificou com um desserviço "qualquer fala de
qualquer pessoas que seja contra a Constituição."| tribunadabahia / Foto: Nelson Jr/ STF