Milhares
de pessoas contrárias à declaração de independência da Catalunha foram às ruas
neste domingo (29) em Barcelona. A organização fala em 1 milhão de pessoas,
enquanto a polícia estima o número em 300 mil presentes.
A
manifestação foi organizada pela associação anti-independência Sociedade Civil
Catalã, que conta com o apoio dos principais partidos não separatistas, informa
a agência France Presse.
"Somos
todos Catalunha!" foi um dos principais slogans. Cartazes também pediam
"Coexistência e bom senso" e manifestantes exibiam bandeiras catalãs,
espanholas e europeias.
O
conflito entre o governo separatista da Catalunha e o executivo central de
Mariano Rajoy alcançou seu ponto alto na sexta-feira (27): o movimento de
independência proclamou uma república, enquantoMadri respondeu
destituindo o governo regional e assumindo o controle de sua administração.
Considerada
uma ofensa pelos separatistas, a intervenção de Madri é recebida com certo
alívio por cerca de metade dos 7,5 milhões de habitantes desta região
contrários à independência catalã.
"Não
posso sair com a bandeira espanhola na minha cidade", lamentava Marina
Fernández à agência France Presse. Mariana é uma estudante de 19 anos de
Gerona, uma das cidades mais pró-independência da região.
Os
separatistas "vivem em um mundo paralelo, surrealista. Tenho raiva quando
falam em nome de todos os catalães", indignava-se Silvia Alarcón, de 35
anos, à France Presse.
"É
ilegal o que eles fizeram", disse Miguel Ángel García, um aposentado de 70
anos, à France Presse. "Se Madri não assumir suas responsabilidades,
sentirei-me completamente enganado".
Quem é o presidente?
Pelo
segundo dia consecutivo, esta região espanhola auto-proclamada como república,
acordou sem saber quem controla sua administração.
Oficialmente,
o governo liderado por Carles Puigdemont foi destituído e suas funções foram assumidas pela vice-presidente espanhola
Soraya Sáenz de Santamaría. O Parlamento regional também está
dissolvido até as eleições convocadas por Rajoy para 21 de dezembro.
Cerca de
150 autoridades da administração catalã foram demitidas.
Mas os
líderes separatistas não reconheceram sua destituição. Em uma carta publicada
no jornal "El Punt-Avui", Oriol Junqueras, vice-presidente do
executivo regional, assegurou que "o presidente do país é e continuará
sendo Carles Puigdemont".
"Não
podemos reconhecer o golpe de Estado contra a Catalunha, nem nenhuma das
decisões antidemocráticas que o Partido Popular [de Rajoy] está adotando por
controle remoto de Madri", acrescentou.
Menos
explícito foi Puigdemont, que em uma mensagem televisionada no sábado (28) afirmou
que "está claro que a melhor maneira de defender as
conquistas obtidas até hoje é a oposição democrática à aplicação do artigo 155
da Constituição", usado pelo poder central para destituí-lo.
O
dirigente separatista não indicou como a oposição deve se manifestar. Mas,
depois de vários dias, os Comitês de Defesa da República de bairros pediram a
"resistência pacífica" dos catalães contra a tutela do Estado
Duas legalidades
Em entrevista à France Presse, o
advogado de Puigdemont, Jaume Alonso-Cuevillas, diz que existem atualmente
"duas legalidades coexistindo" na Catalunha: a espanhola e a nova
"República catalã". Os próximos dias, diz ele, serão fundamentais
para ver qual vai se impor.
Também se espera que a Procuradoria
espanhola processe Puigdemont por "rebelião", um crime punível com
até 30 anos de prisão.
Apesar dos processos judiciais abertos
contra ele, o governo espanhol entende que o líder separatista catalão poderá
se apresentar para as eleições convocadas para dezembro.
"Todos são chamados a participar,
inclusive Puigdemont que é convidado a se apresentar", declarou o
embaixador espanhol na França, Fernando Carderera.
Segundo a France Presse, o
anúncio dado por Rajoy desconcertou os separatistas e abriu um dilema: participar
e dar-lhes legitimidade ou boicotar e deixar o terreno livre aos partidos
contrários à separação que estão ganhando terreno?
De acordo com uma pesquisa publicada neste
domingo (29) pelo jornal "El Mundo", os partidos independentistas
perderiam a maioria absoluta obtida em setembro de 2015, passando de 72
assentos para entre 61 e 65, de um total de 135.|g1