Há
quase quatro anos, o fracasso no Congresso de Ginecologia e Obstetrícia devido
à falta de infraestrutura adequada para receber os 6,5 mil congressistas
participantes decretou que o Centro de Convenções da Bahia não tinha mais
condições de continuar recebendo eventos de grande porte. De 2014 a 2017, o
prejuízo pela falta de grandes eventos na cidade é estimado em R$ 200 milhões
por ano.
E a
perspectiva é ainda pior para o trade turístico. Considerando que a construção
de um novo centro deve demorar de dois a três anos, a estimativa é que o
prejuízo pode chegar a R$ 1 bilhão, segundo o presidente do Conselho Baiano de
Turismo (CBTur), Roberto Durán.
É que, sem o
Centro de Convenções, toda a cadeia do turismo deixa de faturar: desde o hotel
ao restaurante e até mesmo o taxista, que também entra no orçamento do turista
que vem para a cidade a negócios e costuma gastar mais. De acordo com a Secretaria
de Turismo do Estado da |Bahia (Setur), responsável pelo equipamento, eventos
estão sendo promovidos.
A
possível mudança de local pode trazer ainda mais prejuízos para o entorno e,
por conta disso, a comunidade local, com apoio do trade turístico, vai promover
um “abraçaço” no CCB no próximo domingo.
Diálogo
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis – Bahia
(Abih – BA), Glicério Lemos, o objetivo é abrir o diálogo com o governo do
estado sobre a mudança de localização do equipamento. “O objetivo é buscar o
diálogo. Nós estamos abertos para dialogar. Não queremos radicalizar nada”,
pontua.
Ele lembra
também do quanto foi investido por causa do CCB. “Aquilo ali foi um
planejamento do estado da Bahia, que diversos setores da economia, acreditando
no projeto, se estabeleceram no seu entorno. Nunca se imaginou que algum
governo pudesse querer retirar de lá. São R$ 5 bilhões de investimentos ao
redor do Centro. E mais de 10% desse valor foi de financiamento de bancos
públicos”, afirma.
Para o
secretário de Turismo da Bahia, José Alves, o diálogo está aberto com o trade,
mas não é possível entrar no imóvel, que está penhorado e com obra embargada:
“A gente só precisa ter o entendimento do que a gente está pensando. Isso foi
pensado com muita responsabilidade, não foi da noite para o dia. Nesse momento,
a gente precisa de um equipamento que coloque Salvador e o estado da Bahia de
uma forma diferenciada no Brasil”.
Um estudo de
viabilidade para a estruturação e desenvolvimento de concessão do Centro de
Convenções já foi autorizado pelo governo. O projeto prevê que o novo CCB ocupe
uma área de 230 mil m² no atual Parque de Exposições, na Avenida Paralela, com
investimento de R$ 400 milhões e fique pronto até 2020. O antigo Centro ocupa
153 mil m².
Frustração
Abrir um hotel ao lado de um equipamento como o Cento de Convenções parecia uma
oportunidade enorme para a empresária Lígia Uchôa, 46 anos, gestora do Salvador
Mar Hotel.
“Nós viemos
para cá em fevereiro de 2016 porque sabíamos que o novo Centro de Convenções
seria entregue em setembro. Eu vim para cá para me beneficiar dos eventos
promovidos. Se soubesse que estaria fechado, nunca teria vindo”, disse. O hotel
nunca chegou a 30% de ocupação.
Até a
barraquinha que fica há dois anos próximo ao ponto de ônibus do local e vende
salgados sentiu o fechamento com a queda de 50% do movimento.
Mobilidade
Além do prejuízo para os estabelecimentos que ficam no entorno do CCB,
Glicério Lemos aponta que a malha viária da cidade deve ser considerada para a
escolha do novo local.
“Também tem a
estrutura viária da cidade a ser considerada. Já fizemos grandes congressos ali
(no Stiep) e nunca tivemos transtornos. Se deslocar para o Comércio, para
Paralela, um grande evento, com 200 ônibus de congressistas, por exemplo, causa
transtornos no trânsito”, exemplifica.
Roberto
Durán, do CBTur, lembra que a proximidade com o aeroporto não deve ser o
único fator em consideração para levar o CCB para o Parque de Exposições. “Não
somos contra ninguém, somos a favor do mercado. O trade quer que permaneça
naquela região, no eixo de todo parque hoteleiro”, afirma.
Apesar da
linha 2 do metrô percorrer toda a Paralela, Durán afirma que a maior parte dos
congressistas não usa esse transporte para ir a eventos. Para o secretário José
Alves, a mudança deve deixar uma situação de mobilidade “bastante confortável”.
Emendas
No ano passado, a bancada baiana na Câmara dos Deputados aprovou uma emenda de
R$ 100 milhões para a construção do CCB, mas até agora o valor não foi
utilizado e corre o risco de ser perdido, já que o orçamento é válido até
dezembro. O valor foi solicitado pelo CBTur e só pode ser liberado mediante um
projeto.
“É possível
construir um Centro de Convenções novo, maior, com um planejamento da economia.
Mas é preciso que se indique qual seria a função desse novo equipamento, e esse
é um processo demorado, que levaria uns quatro anos”, afirma o diretor técnico
do Instituto de Arquitetos do Brasil – Bahia (IAB-BA), Daniel Colina.
Ainda segundo
Colina, é possível se recuperar o equipamento que já existe com o dinheiro da
emenda parlamentar. Mas, segundo o secretário José Alves, o dinheiro não será
usado.
Um ano após desabamento, ainda não há laudo da perícia
Um ano depois que parte da fachada do Centro de Convenções da Bahia (CCB)
desabou, o governo não divulgou o laudo da perícia técnica que foi realizada no
equipamento. O documento apontaria as causas do acidente, além de um
diagnóstico da estrutura.
Em abril
deste ano, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA)
enviou um relatório para o governo sobre a situação da estrutura do CCB após o
desmoronamento. “Em boa parte do Centro de Convenções existem as condições de
conservação. O que nós observamos também é que havia condições de se fazer a
manutenção”, observa o engenheiro Leonel Borba, da Câmara Especializada de
Engenharia Civil do conselho.
Entre
licitações e pequenas obras feitas pelo próprio governo, foram investidos
aproximadamente R$ 15 milhões para a reabertura do CCB. O secretário de
Turismo, José Alves, disse que a perícia está sendo feita.
No Parque de Exposições, administração seria dividida entre Setur
e Seagri
Inicialmente, a ida do Centro de Convenções da Bahia (CCB) para o Parque de
Exposições causou receio para as entidades agropecuárias, que temiam perder
muito espaço para a realização de eventos. Mas após a reunião com a Secretaria
Estadual de Turismo (Setur) na semana passada, o panorama se tornou mais
atrativo para o setor.
Segundo
Almir Lins, presidente da Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos da
Bahia (Acooba), a ida do CCB pode contribuir para a reforma que o Parque
precisa. “No Parque de Exposições precisa ser feita alguma coisa, uma reforma,
uma mudança, um outro modelo, ser feito um outro tipo de equipamento. O governo
tem uma dificuldade tremenda para manter”, observa.
Além de ser
um espaço para eventos agropecuários e do CCB, o projeto prevê a construção de
um hotel, centro comercial e restaurantes. Sendo multiuso, a administração do
Parque seria dividida entre a Setur e a Seagri.|correio