“Se você for perguntar por aqui, tem um monte de gente que já trabalhou com petróleo e hoje está batalhando a vida na ‘motinha'”, diz Joaquim Souza Cruz, 41, apontando para o ponto de mototáxi em frente ao hospital municipal de Catu (BA), a 90 quilômetros de Salvador.

Cruz trabalhou por 14 anos com perfuração de poços petrolíferos e chegou a ganhar R$ 2.600 por mês. Há cinco, luta para tirar R$ 40 por dia transportando pessoas na garupa a R$ 3 por viagem.

“Tem soldador, motorista classe E (habilitados para conduzir os caminhões pesados usados no transporte de sondas)… Olha um aí”, ele aponta para Ademário Santana, 42, que aderiu ao mototáxi depois de perder o emprego há três anos.

Santana recebia R$ 3.000 por mês como lixador em Macaé, no norte fluminense. Sem emprego, decidiu voltar para casa há três anos, depois de ter vivido no Paraná, em São Paulo e no Rio.

Com a queda na renda, ambos tiveram de se adaptar. A decisão mais dolorosa, para os dois, foi transferir os filhos para a escola pública.

Primeiro polo petroleiro do país, Catu foi a base da expansão da produção nacional nas décadas no século passado, antes da descoberta das reservas marítimas da bacia de Campos.

Sede de instalações das principais fornecedoras globais do setor, como as americanas Halliburton e Baker Hughes e a francesa Schlumberger, a cidade experimentou um período de grande crescimento com a chegada de petroleiras privadas após o fim do monopólio.
No auge, em 2011, chegou a ter 14 sondas procurando petróleo e 45 para intervenção em poços produtores. Hoje, há quatro de exploração e 17 de produção.

Com a queda no número de poços, a arrecadação do município com ISS caiu 35% entre 2013 e 2017, para R$ 11 milhões. O estoque de emprego na atividade de apoio ao setor de petróleo, que era de 1.640 vagas, caiu na mesma intensidade, para 1.072 em maio.
“Entre 2009 e 2011, faltava mão de obra. Os salários subiram e muita gente foi atrás de cursos de especialização. Hoje, estão brigando pelas vagas”, diz o diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, Radiovaldo Costa.

Anexo fechado 
A pedido das fornecedoras da Petrobras, o empresário Luiz Carlos Góes investiu R$ 650 mil em 2012 para construir um anexo em seu hotel, dobrando o número de quartos. Pouco mais de um ano depois, fechou o anexo por falta de demanda.

“A gente acaba consumindo todas as economias que tem para sobreviver”, diz ele, que decidiu abrir uma loja para diversificar as receitas e hoje conta com a ajuda da família para tocar o negócio.

A empresária Eloí Rodrigues, 64, teve menos sorte. Natural de Concórdia (SC), foi parar em Catu seguindo companhias de pesquisa sísmica, espécie de ultrassonografia do subsolo, para quem fornecia serviços de alimentação.

Com a suspensão da atividade, perdeu o último contrato há três anos e teve de vender dois imóveis e o carro para quitar dívidas. “A família toda ficou desempregada. Minha filha teve de parar a faculdade.” Nos tempos áureos, servia 1.500 refeições ao dia. Hoje, tenta sobreviver de um restaurante em um posto na entrada da cidade.


“A gente fica estressada, com problemas de saúde”, conta, sem muita esperança em melhora. |Informações Folha de São Paulo AQUI

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