Por trás da colheita de deputados que o DEM realiza em outras legendas
esconde-se um objetivo ambicioso. O partido do presidente da Câmara Rodrigo
Maia tenta estruturar um projeto presidencial para 2018, abandonando a condição
de coadjuvante perpétuo do PSDB. No comando do DEM, o senador Agripino Maia
vende aos interlocutores a tese segundo a qual há espaço no Brasil para
reproduzir o movimento político que alçou Emmanuel Macron, 39, à Presidência da
França, em maio passado.
O plano do DEM é conquistar a terceira ou segunda maior bancada de
deputados federais, elevando suas atuais 30 cadeiras para algo entre 50 e 60
assentos na Câmara. A articulação envolve descontentes do PSB, do PSD, do PMDB
e até do PSDB. Mais gordo, o partido ampliaria seu tempo de propaganda na TV. E
passaria a abocanhar uma fatia mais generosa do fundo que financia as legendas
com verbas públicas.
A transposição do ‘Projeto Macron’ do gogó para a realidade não será
coisa trivial. O DEM é uma sigla que assumiu o poder no Brasil depois que as
caravelas de Cabral aportaram em Porto Seguro. Para se apresentar ao eleitorado
como a última novidade da política nacional, a legenda teria de passar por uma
cirurgia plástica que a virasse do avesso.
Na época da ditadura, o DEM chamava-se Arena. Virou PDS. Na
redemocratização, foi apelidado PFL, antes de ser rebatizado de DEM. Sob
Fernando Henrique Cardoso, elegeu a segunda maior bancada do Congresso.
Presidiu simultaneamente a Câmara, com Luís Eduardo Magalhães, e o Senado, com
o pai dele, Antonio Carlos Magalhães.
Enviado à oposição por Lula, o partido definhou. Longe dos cargos e dos
cofres públicos, o DEM encolheu para 21 deputados. Cavalgando o Bolsa Família,
o PT retirou do rival o eleitorado cativo dos fundões pobres do Norte e do
Nordeste. No comando da Câmara e de volta à engrenagem estatal sob Michel
Temer, a legenda voltou a acalentar o sonho de consolidar-se como uma força
liberal de centro.
O esforço para revitalizar o DEM inclui outro rebatismo e uma nova
roupagem para o ideário do partido. O novo nome, ainda por escolher, daria
conforto aos potenciais novos filiados. Suavizaria, por exemplo, o salto triplo
carpado que os supostos socialistas do PSB terão de dar para entrar no ex-PFL.
A remodelagem programática empurraria a legenda para o centro ideológico.
Nas palavras de Agripino, a ideia é produzir uma força política capaz de
se contrapor ao ultradireitismo encarnado por Jair Bolsonaro e ao populismo
representado por Lula.
Sem um líder de expressão nacional, o DEM sonha em atrair a filiação de
um nomão que tenha projeção e disposição suficientes para disputar a
Presidência. Pode ser um outsider, costuma
dizer Agripino. Essa versão brasileira de Macron ainda não apareceu. Mas a
legenda se equipa para recepcioná-la.
O DEM imagina que, tornando-se maior e mais organizado do que o
tucanato, chegará à campanha presidencial do ano que vem como uma alternativa
real de poder. Ecoando um velho desejo da sua tribo, Agripino afirma: Vamos
sentar na mesa com o PSDB para uma conversa de igual para igual. Levando-se em
conta a desagregação do tucanato, este talvez seja o pedaço mais factível de
todo o plano do DEM.|josiasdesouza