O Congresso Nacional aprovou na
madrugada desta quinta-feira (31) a proposta que autoriza o governo federal a
encerrar 2017 e 2018 com um deficit fiscal de R$ 159 bilhões. Senadores e
deputados votaram o texto principal do Projeto de Lei do Congresso Nacional
(PLN) 17/2017 e rejeitaram três destaques de
bancada.
Outros dois destaques não chegaram a
ser analisados por falta de quorum. A sessão foi encerrada às 3h35. O
presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira, marcou a votação dos dois
últimos destaques para a próxima terça-feira (5), às 19h.
Enquanto a votação não for concluída,
o Poder Executivo fica obrigado a enviar ao Congresso o projeto da Lei
Orçamentária Anual (LOA) de 2018 com uma meta fiscal considerada irreal:
deficit de R$ 129 bilhões. O prazo para o Palácio do Planalto encaminhar a
proposta orçamentária termina nesta quinta-feira.
Votação na
madrugada
A sessão do Congresso começou às
16h45 de quarta-feira (30) e durou quase onze horas. O PLN 17/2017 só começou a
ser votado às 22h05, depois que senadores e deputados limparam a pauta do
Congresso, que estava trancada por oito vetos presidenciais.
A oposição tentou adiar ainda mais a
votação. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que o projeto da meta
fiscal era apenas o vigésimo item da pauta. Para o parlamentar, a matéria só
poderia ser analisada após a votação de 11 projetos considerados mais antigos.
O vice-líder do PT na Câmara,
deputado Décio Lima (SC), foi além. Disse que o presidente do Congresso,
senador Eunício Oliveira, decidiu inverter a pauta sem a autorização do
Plenário para votar o projeto logo após os vetos. O deputado classificou a
mudança como “fraude”.
Eunício Oliveira rebateu a afirmação.
Ele explicou que a alteração na ordem do dia ocorreu antes do início da sessão
do Congresso, o que é permitido pelo Regimento Interno.
— A matéria é importante e relevante
para ser incluída na pauta — disse o presidente.
O texto principal foi aprovado em
votação simbólica na Câmara. No Senado, a apuração foi nominal porque já havia
mais de uma hora desde a última verificação de quórum. Foram 40 votos a favor.
Os senadores de oposição se declararam em obstrução e não registraram votos.
Os partidos contrários ao projeto
apresentaram cinco destaques de bancada. Em três deles, oposição tentou incluir
no texto a realização de auditorias independentes para analisar a dívida
pública e a previsão de mais recursos na LDO para as áreas de educação,
infraestrutura, combate à miséria e prevenção à violência contra a mulher. Os
três destaques foram rejeitados.
Troca de
acusações
Durante a discussão da matéria,
parlamentares do governo e da oposição trocaram acusações. O vice-líder da
Minoria na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), disse que o presidente
Michel Temer produziu “o maior deficit primário de toda da história do Brasil”:
R$ 187 bilhões em 12 meses, segundo o parlamentar.
— Desajustaram as contas públicas e
agora aumentam o deficit primário em mais R$ 20 bilhões. É um governo de
recessão, de queda de receitas e de gastança no mercado financeiro — afirmou.
O relator do PLN 17/2017 na Comissão
Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), deputado Marcus
Pestana (PSDB-MG), afirmou que a alteração da meta é necessária porque o
governo federal sofreu frustração de receitas. Ele afirmou que a ampliação do
deficit “é uma fotografia da tragédia fiscal brasileira”.
— Qual o sentido da alteração da
meta? O estado das finanças públicas é gravíssimo, e estamos reconhecendo que
precisamos tomar providências. Mas essa revisão não caiu com o vento ou com a
chuva. A baixa recuperação da economia corrói a arrecadação — afirmou.
A senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM) lembrou que, em 2015, a então presidente Dilma Rousseff também
enviou ao Congresso uma proposta de mudança na meta fiscal. A parlamentar disse
que, na época, a oposição — hoje no governo — acusou a petista de ter sido
incompetente.
— A máscara está caindo. Promoveram
um golpe não porque a presidente Dilma Rousseff promovia uma gastança. Os
senhores queriam tomar o poder para fazer o que estão fazendo agora: enfrentar
a crise jogando a responsabilidade nas costas do povo brasileiro — afirmou.
O líder do Governo no Senado, senador
Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu. Disse que, apesar da revisão da meta, o governo
federal vai cumprir o teto de gastos, mecanismo que limita o crescimento das
despesas à variação da inflação.
— A diferença deste governo para o
anterior é que este governo muda a meta antes de gastar o dinheiro. Portanto,
não “pedala”. Estamos aprovando a meta para descontingenciar despesas em
universidades, em programas dos ministérios e no Sistema Único de Saúde.
Estamos destravando ações e políticas públicas importantes — afirmou.
O PLN 17/2017 chegou ao Congresso no
dia 17 de agosto. O texto foi aprovado na CMO na última terça-feira (29).|agenciasenado