Em
entrevista concedida ao programa Na Sala do Zé, do jornalista José Trajano, com
a participação ainda de Juca Kfouri e Antero Grecco, o ex-presidente Lula
comentou nesta quinta-feira 20 a decisão do juiz Sergio Moro que confiscou R$
606 mil de suas contas bancárias, todos os imóveis e dois veículos.
"O Moro foi condescendente
comigo porque ele me deixou a perua de 1982. Inclusive ela até foi roubada.
Espero que eles achem ela", ironizou.
Na conversa, Lula disse também
que quando chegou à presidência "tinha uma obsessão que era provar
que poderia governar melhor que a elite que vinha sendo governo". "As
pessoas não respeitam você pelo seu tamanho e sim pelo seu caráter. Ou tem ou
não tem", afirmou.
Lula falou ainda sobre a
política externa de seu governo: "Quando voltei de Davos pela primeira vez
falei para o Celso Amorim [então ministro das Relações Exteriores]: nós vamos
mudar a geopolítica desse negócio". "Lembro da minha primeira reunião
no G8, todo mundo levantou quando o Bush chegou. Eu não. Pois ele foi lá e
sentou na nossa mesa", acrescentou.
O petista disse estar
"pensando em criar um grupo de trabalho para analisar os efeitos nefastos
da reforma trabalhista no país". Questionado por que não fez uma reforma
política em seu governo, o ex-presidente respondeu que os parlamentares não
querem mudar o status quo e lembrou que "quem tem que fazer a reforma
política não é o presidente, são os partidos, através de seus deputados".
Perguntado se "o PT
errou", uma vez que Lula é hoje o candidato com maior rejeição, depois de
ter deixado a presidência com mais de 80% de avaliação positiva, o
ex-presidente afirmou que "o PT errou porque tinha nascido para mudar o
jeito de fazer política", mas "não fez nada diferente do que já vinha
sendo feito desde sempre na política". "Nosso erro não chega a 10% do
que eles falam", disse.
"Acontece que eles querem
acabar com o PT", acrescentou. "Truncaram a democracia e querem
truncar a possibilidade de o PT voltar", denunciou. Ele destacou também
que "ninguém nesse país, nem Prestes, sofreu o massacre que" ele
sofre.
Ao falar sobre o governo Dilma,
Lula criticou o programa de desonerações. "Faltou compreensão de que,
independentemente das eleições, você deveria parar de desonerar", disse.
Segundo o ex-presidente, Dilma "não percebeu que a água só estava saindo
da caixa d´água, não estava entrando".
"Quando Dilma apresentou
um orçamento negativo, eu me assustei. Porque eu jamais apresentaria um
orçamento negativo", afirmou. Para Lula, "Dilma foi vítima do
comportamento de que a política não estava no cotidiano dela". "Ela
tinha dificuldade nessa relação político. Eu acho que às vezes ela achava que
uma conversa era desnecessária", analisou.
Sobre um "sentimento de
desesperança" na população, acentuado pelos jornalistas, Lula admitiu que
o PT perdeu "parte de sua base". "Eu estou tomando tiro de
escopeta todo dia", lembrou, em parte justificando sua rejeição.
Os jornalistas questionaram se
não foi um erro insistir na reeleição de Dilma em 2014. Lula disse que, como
não houve conversa com ela a esse respeito, ele entendeu que ela gostaria de
sair candidata. "Era um direito legítimo dela, eu falei 'não vou mexer com
isso'". Mas reconheceu: "Eu ganharia as eleições com muita
facilidade em 2014".
Segundo Lula, sua disputa pela
presidência contra o tucano José Serra em 2002 "foi civilizada".
"Já com o Alckmin não foi. Parece que ele mamou até os 14 anos, empinou
pipa na frente do ventilador. Fica bravo", relatou, sobre o governador
paulista.
Questionado se não faltou
diálogo entre ele e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para evitar o
atual clima de tensão entre petistas e anti-petistas hoje no País, Lula lembrou
de sua relação sempre civilizada com o tucano. Mas fez a seguinte análise:
"Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso, como um intelectual, não soube
digerir o meu sucesso".
Ele revelou que houve uma
tentativa de se marcar um encontro com o cacique tucano. "Nós não temos
nada um contra o outro", destacou. Mas reclamo que, após terem escolhido
uma casa para a conversa, "foi um intermediário lá e no dia seguinte
estava na imprensa!".
Lula defendeu o combate à
corrupção, mas criticou os métodos da Lava Jato. "Juiz não tem que se
preocupar com a opinião pública", alfinetou. "A Lava Jato montou um
esquema de comunicação que tudo tem que sair primeiro no jornal pra poder se
tornar verdade e não pelos autos", afirmou.
Questionado se tem esperança em
reverter a condenação imposta pelo juiz Sergio Moro em instâncias superiores,
Lula respondeu: "Eu estou que nem o técnico do Corinthians, cada jogo é um
jogo. Eu acredito na Justiça". O petista voltou a pedir para que os
procuradores encontrem uma prova dos crimes pelos quais ele foi condenado.
"Acharam conta do Serra, conta do Aécio. Por que não acham a minha?".
Lula finalizou a entrevista dizendo
que "não tem o direito de desanimar". "Eu sei porque me
perseguem", afirmou. Lula lembrou que já conseguiu mais do que planejou na
vida, tendo sido presidente da República e saindo com avaliação tão alta.
"Eu poderia ficar quieto,
mas a política é afrodisíaca. A gente não para. Eu tenho que contribuir para
esse país. Eu agora tenho obsessão em voltar. Porque é possível recuperar esse
país", disse. "Eu sou capaz de provar que é possível",
completou. "Eu nasci para não desistir", disse.|brasil247