Imagine
viver com menos do que R$ 7,80 por dia – pouco mais do que a soma da passagem
de ida e da passagem de volta nos ônibus de Salvador. Mas é com isso que mais
de 850 mil crianças 850 mil crianças e adolescentes baianos com idades até 14
anos sobrevivem diariamente – são os que vivem em situação de extrema pobreza.
O número, que equivale a pouco mais do que 24% da população do estado com essa
idade, faz parte de um estudo lançado nesta terça-feira (25), pela Fundação
Abrinq, ONG que promove o fortalecimento de políticas públicas para crianças e
adolescentes no Brasil.
Intitulado ‘A Criança e o Adolescente nos ODS: Marco zero dos
principais indicadores brasileiros - ODS 1, 2, 3 e 5’, o levantamento avalia justamente
a implementação desses ODS – ou seja, dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, assinados pelo Brasil e por outros 192 países membros da
Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015.
O estudo, segundo a própria fundação, visa complementar o relatório
voluntário que foi apresentado à ONU pelo governo brasileiro, na semana
passada, durante o Fórum Político de Alto Nível, sobre as medidas.
Em nota, a Fundação Abrinq informou que ‘viu necessidade de
produzir um documento paralelo sobre a situação da infância e adolescência
brasileiras’, a fim de chamar atenção da comunidade internacional para a
vulnerabilidade dessa população diante dos desafios dos ODS. Na avaliação da
entidade, isso pode comprometer o sucesso do Brasil no cumprimento do acordo internacional.
A situação da Bahia – assim como de outros estados – mostra que o
país ainda pode estar longe de atingir os jovens brasileiros de forma
igualitária. Aqui no estado, 954 mil crianças e adolescentes vivem em situação
de pobreza – ou seja, 60,8% vivem em uma família com renda per capita menor que
a metade de um salário mínimo. Isso é maior do que a média nacional, que ficou
em 40,2%. Com esse desempenho, a Bahia só está pior do que Alagoas, Maranhão e
Ceará.
Quando se trata de extrema pobreza, com crianças e adolescentes
vivendo com menos de ¼ do salário mínimo (menos de R$ 234,25 por mês), a Bahia,
novamente, mostra uma realidade diferente do Brasil: enquanto o país tem 13,5%
de pessoas vivendo nessas condições, o estado tem mais de 24%.
Mais do que a
renda
Mas, segundo a administradora executiva da Fundação Abrinq, Heloisa Oliveira, é preciso entender que ‘pobreza’ vai muito além da renda da família. “É importante considerar, com relação à realidade da Bahia, que a gente tem que pensar a pobreza como um fenômeno multidimensional, do qual a renda faz parte, mas que inclui condições de moradia, acesso à água, acesso básico à saúde, à educação e aos bens de consumo fundamentais”, destaca.
Mas, segundo a administradora executiva da Fundação Abrinq, Heloisa Oliveira, é preciso entender que ‘pobreza’ vai muito além da renda da família. “É importante considerar, com relação à realidade da Bahia, que a gente tem que pensar a pobreza como um fenômeno multidimensional, do qual a renda faz parte, mas que inclui condições de moradia, acesso à água, acesso básico à saúde, à educação e aos bens de consumo fundamentais”, destaca.
Isso pode ser exemplificado, inclusive, nos indicadores do objetivo
3, referente à saúde e bem-estar. A Bahia é o 5º estado com o maior número de
óbitos de crianças menores de quatro anos provocadas por causas ‘claramente
evitáveis’.
Segundo o estudo, as mortes ‘evitáveis’ são aquelas que poderiam
não ter acontecido se a criança tivesse acesso a serviços de saúde, entre
prevenção, promoção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. Para
completar, a Bahia também não vai bem com o número de óbitos maternos: foram
131 em 2015, garantindo, assim, o terceiro lugar entre os estados.
“Nós recebemos esses dados com muita preocupação. Não podemos
continuar convivendo com isso, com legados de miséria, de mortalidade infantil
e de mortalidade materna. Com as crianças que morrem antes dos quatro anos de
idade, há alguns que morrem até por carência alimentar ou por uma gravidez mal
acompanhada da mãe. É preciso nutrir também a mulher grávida, dar uma
alimentação adequada para ela gerar um filho saudável”, afirmou o
coordenador-executivo do Cedeca, Waldemar Oliveira.
Para o coordenador do Cedeca, é preciso investir em programas
governamentais de longo prazo, que sejam criados em parceria com governos
municipais, estaduais e federais. “Isso não é uma coisa a ser resolvida da
noite para o dia, mas essas políticas têm que continuar em outros governos. Não
podem ser políticas de governo, mas políticas de estado”.
Já a administradora executiva da Fundação Abrinq, Heloisa
Oliveira, destaca que é importante destacar estados como a Bahia – que ainda
têm desafios para superar, referentes aos objetivos. “Quando falamos de
pobreza, estamos, na verdade, falando que a população daquela região, daquele
estado, vive em condições de exclusão desses serviços básicos, que são um
direito para todos”.
A Bahia ainda vai mal no objetivo que busca a identidade de gênero:
é o quinto estado com maior número de casamentos de meninas com menos de 19
anos.|correiodabahia