O presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje (16) o "cancelamento" da
política de Barack Obama para Cuba e se mostrou disposto a negociar "um
acordo melhor" com a ilha, mas apenas se houver avanços "concretos"
para realização de "eleições livres" e a liberdade de
"prisioneiros políticos". As informações são da Agência EFE.
"Não suspenderemos as sanções a Cuba até que todos os prisioneiros
políticos sejam livres, todos os partidos políticos estejam legalizados e sejam
programadas eleições livres e supervisionadas internacionalmente", disse
Trump durante discurso em Miami.
O presidente também desafiou Cuba "a comparecer à mesa (de
negociação) com um novo acordo que esteja no melhor interesse tanto do seu povo
como do americano", e considerou "cancelado" o marco estipulado
entre Obama e Raúl Castro para normalizar as relações bilaterais.
Donald Trump advertiu, no entanto, que "qualquer mudança" à
sua postura com Cuba dependerá de "avanços concretos" rumo a
objetivos como as eleições livres, a liberdade de presos políticos e a entrega
à Justiça americana de "criminosos e fugitivos" que encontraram
refúgio na ilha.
"Quando os cubanos derem passos concretos, estaremos prontos,
preparados e capazes de voltar à mesa para negociar esse acordo, que será muito
melhor", assegurou Trump.
"A nossa embaixada permanece aberta com a esperança de que nossos
países possam forjar um caminho muito melhor", acrescentou Trump, que não
tomou nenhuma medida para rebaixar o nível de relações diplomáticas com a ilha.
O governante americano assegurou também que confia em que
"logo" chegará o dia em que haja "uma nova geração de
líderes" que implemente essas mudanças em Cuba, uma vez que o presidente
cubano, Raúl Castro, deixará o poder em fevereiro de 2018.
Trump anunciou ainda que se "restringirá muito robustamente o fluxo
de dólares americanos aos serviços militares, de segurança e de
inteligência" da ilha, e dará "passos concretos para assegurar-se que
os investimentos" de empresas americanas "fluem diretamente ao povo
".
"Implementaremos a proibição do turismo e implementaremos o
embargo", sentenciou Trump.
As mudanças anunciadas pela Casa Branca incluem a proibição das viagens
individuais para fazer contatos com o povo cubano, conhecidos em inglês como
"people to people travel", e a possibilidade de auditoria a todos os
americanos que visitem Cuba para comprovar que não violam as sanções dos
EUA.
Liberdade
Antes da formalização do cancelamento do acordo, Donald Trump, afirmou
que é "importante" que haja liberdade tanto em Cuba como na
Venezuela. No discurso, o presidente norte-americano disse que Cuba sofre
"há décadas" com o regime dos irmãos Castro, mas que isto não deve se
repetir na Venezuela.
Trump detacou que
os Estados Unidos acompanham de perto as denúncias sobre os crimes do
"brutal" regime dos irmãos Castro, e que "é importante que haja
liberdade em Cuba e na Venezuela".
Trump reconheceu que, "às vezes", na política, as coisas tomam
um "pouco mais de tempo" que o desejado, mas prometeu que vai chegar
"lá" e que vai conseguir fazer com que Cuba seja livre.
Embargo
A mudança de política para Cuba inclui o apoio de Donald Trump ao
embargo comercial e financeiro americano à ilha e, de acordo com a Casa Branca,
a oposição aos pedidos internacionais para que o Congresso o suspenda.
"A política reafirma o embargo americano imposto por lei a Cuba e
se opõe aos pedidos nas Nações Unidas e outros foros internacionais para acabar
com ele", reiterou comunicado da assessoria do presidente norte-americano,
enquanto Trump anunciava a mudança de política em teatro do bairro de Pequena
Havana.
A suspensão do embargo só pode ser decidido pelo Congresso dos EUA,
controlado agora pelos republicanos em ambas câmaras.
Dissidentes
Líderes da oposição interna de Cuba receberam com considerações
distintas, como "alegria" e pessimismo, o anúncio de Donald Trump,
que reverte grande parte da política de normalização de relações com a ilha
promovida por seu antecessor Barack Obama.
Berta Soler, uma das fundadoras do grupo dissidente Damas de Branco,
disse que a nova mudança na política de normalização das relações dos EUA com a
ilha "enche (os dissidentes cubanos) de alegria" e mostra que o
governo Trump "conhece bem a oposição interna em Cuba e a repressão que
ela sofre".
O presidente americano desafiou hoje o governo de Cuba a negociar
"um acordo melhor", deu por "cancelado" o pacto estipulado
entre Obama e Raúl Castro para normalizar as relações bilaterais e condicionou
"qualquer mudança" em sua postura relativa a Cuba a "avanços
concretos" para objetivos como eleições livres e a libertação dos presos
políticos.
"Esperávamos estas medidas e as novas condições que o governo dos
EUA tem de colocar para normalização das relações com o regime cubano, que nos
agride e que ninguém consegue conter, porque o que Obama fez foi dar sinal
verde e legitimar o regime", declarou Soler por telefone da sede das Damas
de Branco em Havana.
Soler, um dos rostos mais conhecidos da dissidência cubana, informou que
as decisões anunciadas por Trump "são uma forma de levar Cuba a uma
democratização, que depende dos cubanos". "Acredito que temos o
direito de contar com o apoio do governo dos EUA, que sempre quis a liberdade
para o povo de Cuba", acrescentou a dissidente.
O dissidente Manuel Cuesta Morúa, da organização Arco Progressista, tem
opinião diferente sobre a nova política proposta pelo presidente
norte-americano para a ilha.
"Parece-me uma notícia ruim para promoção da democracia em Cuba, e
também uma notícia ruim para os cubanos em geral o retorno a uma política
fracassada para tentar fazer com que os direitos humanos e a democracia sejam
respeitados em Cuba", declarou Cuesta Morúa.
Cuesta Morúa disse acreditar que o "mais sábio" seria "continuar
os intercâmbios com a sociedade cubana em uma lógica de vencer, e não voltar à
lógica de supostos ganhadores e perdedores reais na qual quem sempre perdeu foi
o povo cubano".|agenciabrasil