O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo disse
que o presidente Michel Temer (PMDB) cometeu crime de responsabilidade que
possibilita a discussão do seu afastamento e que chega a ser “risível” comparar
as provas levantadas contra o peemedebista na esteira das delações da JBS ao
Ministério Público Federal e que as levaram ao impeachment de Dilma Rousseff
(PT), em agosto do ano passado.
“Eu não tenho a menor dúvida de que existe uma
prova pré-constituída de que o presidente da República efetivamente cometeu
crime de responsabilidade (…). E se você comparar com as provas que existiam
para o impeachment de Dilma Rousseff chega até a ser risível. Primeiro porque
as questões que envolviam Dilma eram técnicas [ela foi cassada por ter cometido
“pedaladas fiscais no Orçamento]. Segundo, que não havia prova nem do ato dela.
Neste caso, as provas estão dadas. Elementos hoje para a abertura de um
processo de impeachment são escancarados”, afirmou em entrevista ao site da
União Nacional dos Estudantes (UNE), durante o 55º congresso da entidade, em
Belo Horizonte, que vai até domingo.
Cardozo, que defendeu Dilma no processo de
impeachment como advogado-geral da União, também criticou aqueles que pregavam
o afastamento da petista e agora ficam receosos de defender o mesmo em relação
a Temer. “Acho curioso que setores da política brasileira que defendiam com
unhas e dentes o impeachment de Dilma por uma questão contábil, sem provas,
agora tenham dúvidas em relação a se devem ou não apoiar a saída de Michel,
porque pode fazer mal para o país. Mal para o país foi o que fizeram antes.
Agora há que se corrigir o rumo”, afirmou.
Para ele, a crise política e institucional de agora
é consequência direta do afastamento de Dilma. “Em primeiro lugar, porque não
se resolveu totalmente o conjunto de discussões que dizem respeito ao
impeachment. Existem ações no Judiciário recorrendo justamente da ilegitimidade
do que foi praticado. Ações que demonstram que não havia motivo para o
afastamento, que foi na verdade uma conspiração de setores descontentes da
eleição de 2014 e setores que queriam tirá-la de qualquer jeito para parar as
investigações que, como disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), causavam a
sangria da classe política brasileira”, disse.
“A crise que vivemos hoje, quando Judiciário se
debate com o Ministério Público, que se debate como Executivo, que se debate
como parlamento, essa falta de ajuste institucional é fruto do processo de
impeachment. Há um autor americano que diz que um impeachment é um terremoto
político. Agora, um impeachment sem crime de responsabilidade é um terremoto
que coloca em xeque os alicerces de todos os edifícios da institucionalidade do
país. Quando você se dispõe a afastar um presidente por pretexto, vale tudo”,
disse.|veja - Foto reprodução