O presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, afirmou nesta quarta-feira
(3) que, caso o Congresso Nacional não aprove uma reforma política válida já
para as próximas eleições, o Supremo Tribunal Federal (STF), do qual ele também
faz parte, será levado a proibir em breve as coligações partidárias.
Os recentes casos de corrupção no financiamento de campanhas de
partidos coligados, que estão sendo julgados tanto no TSE como no STF, têm
mobilizado os ministros de ambas as cortes a impulsionarem a proibição, afirmou
Gilmar Mendes.
“Isso vai certamente levar o Supremo, daqui a pouco, a reagir,
como reagiu em relação à doação corporativa, proibindo a doação de empresas privadas.
Certamente, isso vai levar o Supremo a, se não vier uma reforma política,
reagir também, proibindo as coligações”, acrescentou o ministro.
Pelo sistema que vigora atualmente nas eleições proporcionais para
a Câmara dos Deputados, por exemplo, o candidato de um partido que recebeu um
grande número de votos pode fazer com que o candidato de outro partido menor,
da mesma coligação, seja eleito com uma quantidade relativamente pequena de
votos, devido ao chamado quociente eleitoral. Tal ponto vem sendo criticado por
Mendes por, segundo ele, gerar distorções no compartilhamento de recursos de
campanha.
As
declarações do ministro foram dadas após ter recebido, nesta quarta-feira (3),
em seu gabinete no TSE, 29 deputados que integram a comissão de reforma política
na Câmara, incluindo o presidente do colegiado, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), e
o relator da matéria, Vicente Cândido (PT-SP).
Questionado se daria tempo de aprovar uma reforma
político-eleitoral antes de outubro, limite para que as mudanças sejam válidas
para as eleições majoritárias do ano que vem, Vieira Lima respondeu: “tem que
dar”. Ele ressaltou que o financiamento de campanha é o tema que tem
impulsionado a urgência da proposta.
Continuidade do Caixa 2
O ministro Gilmar Mendes ressaltou que se não houver mudanças em
relação ao financiamento de campanha, a insuficiência de recursos levará ao
aumento das irregularidades, abrindo espaço inclusive para a participação, por
exemplo, de organizações do tráfico de drogas na política.
“Vai ser uma eleição certamente muito judicializada e também
policializada, por conta da inexistência de recursos públicos se não houver a
mudança no sistema. Inexistência de recursos privados. Certamente vamos ter
caixa 2, vamos ter dinheiro do crime. Certamente vai ser uma eleição policial e
policialesca”, disse ele, que citou o México como país que convive com esse
tipo de problema.
Mendes voltou a afirmar que o Brasil necessita de um “Plano Real”
no campo da política, que proporcione um “salto no plano civilizatório”, capaz
de levar o país a superar a corrupção sistêmica ligada às campanhas eleitorais,
assim como foi superada a inflação crônica nos anos 1990.
José Dirceu
Perguntado sobre as declarações dadas nesta terça-feira (2) pelo
procurador da República Daltan Dalagnol, coordenador da força-tarefa da
Operação Lava Jato, que questionou a decisão do Supremo de libertar o
ex-ministro José Dirceu, Gilmar Mendes evitou responder.
“O que eu disse está no meu voto, que foi um voto histórico, pode
anotar”, disse o ministro.
Na tarde de terça-feira, a Segunda Turma do STF decidiu, por 3
votos a 2, pela revogação da ordem de prisão de Dirceu. Empatado, o julgamento
acabou definido por Gilmar Mendes, último a votar.|jb