Os franceses votam neste domingo
para designar, após uma campanha eleitoral tensa, aquele que liderará o país
nos próximos cinco anos: Emmanuel Macron, um centrista pró-europeu em ascensão,
ou a candidata da extrema-direita Marinha Le Pen.
À frente no primeiro turno, Emmanuel Macron, de 39 anos, um ex-banqueiro de investimentos e ex-ministro da Economia do atual presidente François Hollande, é apontado como favorito neste segundo turno da eleição presidencial, com entre 61,5 e 63% dos votos, contra 37-38,5% para sua rival Marine Le Pen, de 48 anos, segundo as últimas pesquisas.
Mas o voto surpresa em favor de Brexit no Reino Unido ou a vitória inesperada de Donald Trump nos Estados Unidos incitam prudência quanto aos resultados das pesquisas de opinião na França.
"Hoje, é a França que está em
jogo", declara Bernadette, uma senhora de 73 anos que votou na abertura de
sua assembleia de voto em Marselha (sudeste), aliviada com o fim de uma
campanha "cansativa".
Para a parisiense Marie Piot, de 32
anos, "o mundo nos espera. Depois do Brexit e de Trump, é quase como se
fôssemos o último bastião do Iluminismo".
Os dois candidatos afirmam encarnar a
renovação do cenário político, mas enquanto Macron defende o livre comércio e
quer aprofundar a integração europeia, Le Pen denuncia a "globalização
selvagem" e a imigração e quer um "protecionismo inteligente".
Uma das questões centrais neste
domingo será a participação, que poderia ser baixa, enquanto que, pela primeira
vez em quase 60 anos, os dois principais partidos tradicionais da esquerda e da
direita não disputam a segunda rodada.
Pirataria de dados
O período entre os dois turnos foi
marcado pelo enorme apoio em favor de Macron (24,01% dos votos no primeiro
turno em 23 de abril), favorito inesperado que era praticamente desconhecido há
três anos, para bloquear Le Pen (21,30%).
Pela segunda vez em quinze anos, a
extrema-direita, que não parou de angariar votos nas eleições intercalares,
chegou ao segundo turno da eleição presidencial. Mas ao contrário do que
aconteceu em 2002, a mobilização popular era quase inexistente. E nas fileiras
da esquerda radical, alguns se recusam a "escolher entre a peste e a
cólera".
Ambos os candidatos votaram no final
desta manhã no norte da França, Macron em Le Touquet e Le Pen em sua fortaleza
operária de Henin-Beaumont.
A campanha entre os dois turnos
terminou na sexta-feira com um novo sobressalto, com a difusão nas redes
sociais de dezenas de milhares de documentos internos da equipe de campanha de
Macron, extensivamente replicados pela extrema-direita no Twitter.
Uma operação considerada como uma tentativa de "desestabilização" pelo candidato centrista.
A Comissão Nacional de Controle
Eleitoral pediu à imprensa para não publicar o conteúdo desses documentos,
"obtidos de forma fraudulenta" e que estavam misturados com
"informações falsas".
As duas últimas semanas foram particularmente amargas, culminando em um debate televisionado na quarta-feira à noite que se transformou em uma verdadeira guerra de palavras. O desempenho de Le Pen foi severamente criticado, mesmo dentro de seu próprio campo.
50.000 membros das forças de ordem
Emmanuel Macron, que, caso seja
eleito, se tornaria o mais jovem presidente francês, declarou na sexta-feira
que já havia escolhido o seu futuro chefe do governo, sem nomeá-lo.
O próximo primeiro-ministro será
responsável por conduzir a campanha eleitoral para as legislativas de 11 e 18
de junho, com o objetivo de dar uma maioria ao novo chefe de Estado.
O vencedor da batalha já foi convidado por Hollande, que desistiu de tentar um segundo mandado em razão de sua elevada impopularidade, para participar com ele na segunda-feira das cerimônias de comemoração da rendição alemã em 1945.
Cerca de 47,5 milhões de franceses foram convidados a votar a partir das 06h00 GMT (3h00 de Brasília) até 17h00 GMT (ou 18h00 GMT em Paris e algumas outras cidades) (13h00 de Brasília, ou 15h00 em Paris e algumas cidades). Até o momento, a participação era de 28,22%, quase estável em relação ao primeiro turno, de acordo com as autoridades.
Um forte esquema de segurança foi
montado, com mais de 50.000 policiais, gendarmes e militares mobilizados.
A França, que vive desde 2015 sob
estado de emergência, escapou na madrugada de sexta-feira de um novo possível
ataque islamita com a prisão de um ex-militar de 34 anos, convertido ao Islã e
que prometeu lealdade ao grupo Estado islâmico (EI). Ele foi preso perto de uma
base militar em Evreux, 100 km ao noroeste de Paris, com armas escondidas nas
proximidades.
Em 20 de abril, três dias antes do
primeiro turno, um policial foi morto no centro da capital, na avenida
Champs-Elysées. O ataque foi reivindicado pelo EI, que cometeu a maioria dos
ataques que mataram 239 na França desde janeiro de 2015.|em