A
delação da JBS aponta que o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador afastado
Aécio Neves (PSDB-MG) têm atuado para impedir o avanço das investigações da
Lava Jato, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao pedir a
abertura de inquérito para investigar os dois.
“Verifica-se que
Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem
buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de
medidas legislativas, seja por meio do controle de indicação de delegados de
polícia que conduzirão os inquéritos”, escreveu o procurador-geral da
República, em despacho assinado no dia 7 de abril.
O ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato,
levantou o sigilo da delação da JBS. Nesta sexta-feira, 19, foram tornados
públicos os depoimentos de delatores, os despachos de Fachin e os pedidos de
abertura de inquérito formulados pela Procuradoria-Geral da República.
De acordo com o
Janot, os elementos já colhidos apontam pagamentos de propinas ao doleiro Lúcio
Funaro e ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos em
decorrência de desdobramentos do caso Lava Jato.
“Eduardo Cunha,
ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados, era do mesmo
partido do presidente da República, PMDB, e se tornou pública a tentativa de
Cunha arrolar o presidente da República como uma de suas testemunhas, fato
reconhecido pelo próprio presidente como uma tentativa de constrangê-lo.
Depreende-se dos elementos colhidos o interesse de Temer em manter Cunha
controlado”, ressaltou Janot.
Peculiaridade
Em seu despacho,
Janot destaca a “peculiaridade” dos episódios narrados na delação da JBS.
“Diferentemente de
episódios anteriores nos quais a colaboração cingia-se a fatos criminosos
pretéritos, a presente negociação de acordo trouxe à baila crimes cuja prática
ou seu exaurimento estão ocorrendo ou por ocorrer, em datas previstas ou
previsíveis. Isso torna obrigatória, em respeito à missão constitucional do
Ministério Público, a intervenção imediata para propiciar a cessação das
condutas e sua induvidosa e rigorosa apuração”, afirmou Janot.
De acordo com
Janot, as provas já colhidas indicam o cometimento de crimes de corrupção ativa
por Joesley Batista e passiva por Aécio.
“Verificou-se que,
por intermédio de sua irmã, Andrea Neves da Cunha, Aécio Neves solicitou
propina para Joesley em pelo menos uma oportunidade, consistente no pagamento
de R$ 2 milhões, acertado a ser efetivado em parcelas”, afirmou Janot.
Andrea foi presa
nesta quinta-feira, 18, por determinação de Fachin.|istoé