Nos quatro cantos do País, o recado foi dado por quem saiu às ruas
para pular o Carnaval. O Brasil exige a volta da democracia. Mais do que
simplesmente pedir "Fora, Temer", o que importa é construir uma saída
legítima para o maior impasse institucional da história do País, que arrastou a
economia para o fundo do poço. Em dois anos, 7 milhões de brasileiros perderam
seus empregos e o PIB afundou 10% – o que só acontece com países em guerra.
Na quarta-feira de Cinzas, com o depoimento de Marcelo Odebrecht ao ministro Hermann Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, o Brasil conheceu as primeiras pílulas do que vem por aí. De um lado, o empreiteiro disse ter dado cerca de R$ 150 milhões, via caixa dois, à chapa Dilma-Temer. E também afirmou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) lhe pediu R$ 15 milhões. Um dia depois, o número dois da Odebrecht, Benedicto Júnior, relatou um pedido do próprio Aécio para receber mais R$ 9 milhões por fora. Tudo isso, sem mencionar a estranhíssima história dos R$ 11 milhões pagos ao PMDB, num caso que envolve José Yunes, ex-assessor de Temer, e Eliseu Padilha.
Com o sistema político brasileiro apodrecido, o ministro Benjamin certamente apresentará um relatório duríssimo aos demais ministros do TSE, propondo a cassação da chapa Dilma-Temer. E o julgamento só não será colocado em pauta se o presidente do TSE, Gilmar Mendes, não permitir. A Temer, resta apenas sonhar com a improvável divisão da chapa, que permitiria punir Dilma e salvá-lo. No entanto, a tendência aponta para a indivisibilidade da dupla, até porque o PMDB comandava sete ministérios no governo Dilma, incluindo o de Minas e Energia, que concentrava as obras mais importantes para as empreiteiras.
Na hipótese de cassação, o Brasil teria
eleições indiretas, conduzidas por um Congresso também contaminado. Em seu
depoimento ao Ministério Público, José Yunes relatou que 140 deputados estavam
sendo pagos pelo grupo de Eduardo Cunha, preso há quatro meses em Curitiba.
Portanto, esta também não seria uma solução legítima nem aceitável.
Resta, portanto, um único caminho: a realização de eleições gerais no País, não apenas para a presidência da República, mas para a Câmara e o Senado, acompanhadas de uma ampla reforma política. O ponto central, evidentemente, é proibir os financiamentos empresariais de campanha, que permitiram que a agenda pública fosse sequestrada pelas empreiteiras e outros interesses privados. Mas é também essencial reduzir o custo eleitoral, com questões como o voto distrital e a redução do papel do marketing político.
Só assim, com o reencontro do Brasil com a democracia, será possível recompor o tecido social no País. A hipocrisia, a seletividade e os duplos padrões morais só servirão para aprofundar as divisões entre os brasileiros, que criam o risco até de uma ruptura institucional, abrindo espaço para o fascismo. Ainda há tempo para salvar a democracia. Mas ele é cada vez menor.|brasil247