Capa da revista americana "Time" na edição “pessoa do ano de
2014”, representando os combatentes do ebola, a sobrevivente da doença Salomé
Karwah morreu na Libéria há uma semana, poucos dias após ter seu quarto filho.
Ela era símbolo da luta contra o vírus, que matou milhares de africanos há três
anos. Autoridades investigam as condições de sua morte: ela pode ter sido
vítima da negligência de profissionais do hospital onde era atendida.
De acordo com a agência Reuters, ela foi internada quatro dias antes de
sua morte, em 21 de fevereiro, com complicações no parto. Sua irmã, Josephine
Manley, disse à “Time” que a trocaram de hospital devido a uma convulsão após
ela ter o bebê por cesariana. Ela também contou que a equipe, por medo, se
recusou a tocar em Salomé quando ela teve a convulsão, pois tinha conhecimento
do fato de que ela teve ebola em 2014.
“É trágico que uma de nossas heroínas que sobreviveu ao ebola tenha
morrido devido ao parto em um hospital”, disse à Reuters o diretor médico da
Libéria, Francis Kateh. “Estamos levando muito a sério esta morte”, completou,
e também explicou que as autoridades estão investigando se realmente os
funcionários do hospital se recusaram a tratá-la.
Salomé trabalhava como assistente de enfermagem após ser infectada pelo
vírus do ebola e se curar, ajudando pacientes com a
doença. Durante a epidemia, perdeu a mãe, o pai, seu irmão, tias, tios, primos
e uma sobrinha. Por sorte, a irmã Josephine e o noivo James Harris resistiram.
Ela foi uma das cinco pessoas que foram destacadas pela “Time” como exemplo de
luta contra a doença.
A Libéria foi o país mais atingido pela epidemia mundial do ebola e
perdeu mais de 4,8 mil pessoas - ao todo, morreram cerca de 11,3 mil na Guiné,
em Serra Leoa e no país de Salomé, entre 2013 e 2016.
Características do vírus
O ebola pode continuar latente e se esconder em outras partes do corpo,
como olhos e testículos, durante longos períodos e mesmo após deixar a corrente
sanguínea.
Especialistas dizem, no entanto, que o risco de o ebola reviver
é baixo, e avaliam que o estigma em torno do vírus pode levar a mortes que
podem ser evitadas nos três países afetados.
"Emergências como essas criam efeitos duradouros, em parte porque
podem ser destrutivas para o espectro social de um país ou comunidade",
disse Richard Mallett à Reuters, diretor da organização britânica Overseas
Development Institute.
A Aliança para Ação Médica Internacional (Alima) disse, também à
Reuters, que muitos sobreviventes do Ebola ainda estão lutando por cuidados de
saúde na África Ocidental.
"Muitos perderam seus empregos, ou o cônjuge, e já não podem pagar
cuidados de saúde para si ou para sua família", disse Ivonne Loua, chefe
do programa de cuidados a sobreviventes do Alima, na Guiné.|g1