O comandante da PM, coronel Nylton Rodrigues (azul), e o secretário de Segurança do ES, André Garcia, anunciam medidas do governo contra os policiais aquartelados
Ao menos 703 policiais militares do Espírito Santo foram indiciados, nos últimos dois dias, pelo governo estadual por participação no movimento que deixou o Estado sem policiamento desde sábado (4). O número corresponde a mais de 7% dos 10 mil PMs que compõem o efetivo da força no Estado. Eles terão o ponto cortado a partir do início da paralisação, no último sábado (4), e não irão receber as férias, segundo o comandante da PM, coronel Nylton Rodrigues.

O número de indiciamentos, porém, deve crescer, avalia o coronel. "É a primeira leva", complementou o secretário de Segurança capixaba, André Garcia. "Estamos diante da prática de crimes militares", disse, lembrando que isso impactará em "consequências quanto às carreiras desses indivíduos aquartelados".

Entre os 703, estão cabos, soldados e subtenentes. Para o comandante, "esse movimento caracteriza-se pelo envolvimento dos PMs com menos tempo de serviço".

Os indiciados ainda poderão ser presos, de acordo com Rodrigues. "Quando ocorre desobediência, é um crime militar. Neste caso, evoluiu para motim, quatro a oito anos de detenção. Neste caso, evoluiu para revolta, com os policiais agrupados e armados dentro do quartel, com pena de 8 a 20". Eles serão julgados pela Justiça Militar. "Se for necessário indiciar, expulsar, expulsaremos quem for necessário", diz o comandante.
Segundo Garcia, foi criada uma força-tarefa "para dar celeridade aos procedimentos". "Estamos ajustados com o MP (Ministério Público) Militar nesse aspecto para que esses processos transcorram de forma célere".

Responsabilidade
Desde o início da paralisação, os policiais dizem que a mobilização dos familiares é espontânea, sem envolvimento deles. Essa versão não tem o apoio do governo. "Não é verdade que as mulheres estão proibindo os PMs de saírem dos batalhões", diz Rodrigues.
O secretário Garcia também vê "responsabilidade clara das mulheres e familiares". "Diversas mulheres já foram identificadas, e essa relação será expandida para o MPF [Ministério Público Federal], que nos solicitou uma relação de responsáveis por esse movimento. Essas pessoas irão pagar os custos da mobilização das forças nacionais". Ao menos 3.000 militares foram enviados para o Espírito Santo para fazer a patrulha das ruas durante a paralisação dos policiais.

"O recado está dado para as mulheres e familiares, que não vão sair isentos desse protesto", disse Garcia, apontando que o governo tem o desejo de encerrar o movimento. "Mas nós não podemos ser fracos". Contudo, ele descarta o uso da Força Nacional e dos militares para retirá-las da frente dos quartéis.     

Mais uma vez, o governo voltou a qualificar o movimento como "inconstitucional". "Fere a leia, a legalidade. Torna a sociedade refém da criminalidade, tendo por pano de fundo interesses meramente corporativos", comentou o secretário, que, novamente, disse que o Estado não tem condições financeiras de arcar com um aumento salarial neste momento. "Estamos em um momento de crise. Não há dinheiro".

Garcia diz que o diálogo sempre esteve aberto e o encontro de ontem, que terminou sem acordo após mais de 11 horas de duração, foi o oitavo. "As entidades entenderam que era hora de encerrar o movimento, mas parte das mulheres decidiu por não celebrar o acordo".


Agora, além de "restabelecer a disciplina, a hierarquia na PM", o secretário diz que o desejo do governo é normalizar o transporte público e convencer os comerciantes a voltarem ao trabalho.|uol

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