Ao deixar a presidência do Senado na última
quarta-feira, cargo para o qual foi eleito quatro vezes nos últimos 12 anos,
Renan Calheiros (PMDB-AL), em vez de submergir para tentar sair do foco da
Operação Lava-Jato, assumiu um posto de destaque, a liderança do PMDB na Casa.
Senadores e pessoas próximas dizem que não é perfil
de Renan sair de cena e que ele deve continuar esticando a corda com o
Judiciário, até como estratégia de defesa. Assim, caso venha a ser condenado,
ele teria o discurso de que estaria sendo perseguido porque contrariou
interesses.
Em seu último discurso como presidente do Senado, na última quarta-feira, ele disse defender a continuidade da Lava-Jato, mas não deixou de fazer críticas veladas às investigações, dando um indicativo de que não baixará o tom:
— Embora alguns segmentos no Brasil, na ambição do
poder, estejam flertando perigosamente com o fascismo e desprezando o valor do
voto, garanto, mais uma vez, que eles não passarão. A história não perdoa os
oportunistas e jamais esquece os covardes e os omissos.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
denunciou Renan em dezembro do ano passado por corrupção e lavagem de dinheiro,
no âmbito da Lava-Jato. O senador é acusado de usar intermediários para pedir e
receber dinheiro da empreiteira Serveng, que tem contratos com a Petrobras.
Renan responde a outros dez inquéritos no Supremo
Tribunal Federal (STF), sendo sete da Lava-Jato. O senador já é réu no Supremo
por peculato (desvio de dinheiro público) em processo que apura se a
empreiteira Mendes Júnior pagou pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso,
com quem Renan tem uma filha. O peemedebista nega todas as acusações.
Entre os enfrentamentos de Renan com o Judiciário e
o Ministério Público está a tentativa de aprovar projeto endurecendo a punição
de juízes e procuradores por abuso de autoridade. Ele também instalou uma
comissão para investigar o pagamento de supersalários dos servidores desses
órgãos.
Outro motivo para Renan continuar tentando dar as
cartas é a eleição de 2018, quando ele e seu filho, o atual governador de
Alagoas, Renan Filho (PMDB), devem disputar a reeleição. Nas eleições
municipais do ano passado seu grupo político foi derrotado nos maiores colégios
eleitorais de Alagoas: Maceió, Arapiraca, Rio Largo e Palmeira dos Índios.
Nesse cenário, a reeleição de Renan não é
considerada garantida. São citados como pré-candidatos ao Senado em 2018,
quando duas vagas estarão em disputa, o ministro Maurício Quintella
(Transportes), o senador Benedito de Lira (PP), os ex-governadores Teotônio
Vilela (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT).
Embora perca protagonismo ao deixar o comando do
Senado, Renan continuará influente na Casa e com força para pressionar o
Palácio do Planalto.
Nos últimos meses no comando do Senado, Renan
estava atuando como aliado de primeira hora do governo, mas ao deixar o comando
do Senado ele preteriu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Casa, porque avaliou que teria mais influência política como líder do
PMDB. Entre as atribuições da CCJ está sabatinar o ministro do STF que será
indicado por Temer para o lugar de Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo
no último dia 19.
Nessa semana, poderá ficar mais clara a relação do
senador com o governo. Temer quer que ele indique logo qual peemedebista
comandará a CCJ para indicar o novo ministro do STF. O ex-presidente da Casa
poderá acelerar a indicação, como quer o governo, ou manter o controle do jogo
demorando mais tempo para definir a questão.|oglobo