A sucessão presidencial colocou um deserto entre
Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Incomodado com a proximidade de Aécio com o
PMDB, Alckmin começa a tomar distância do governo de Michel Temer. Em privado,
o governador de São Paulo chama de “erro” a decisão do PSDB de ocupar posições
estratégicas no ministério.
Alckmin
critica o acordo firmado por Aécio para que Temer entregue ao deputado tucano
Antonio Imbassahy (BA) a pasta da coordenação política, sediada no quarto andar
do Planalto. Faz ressalvas também à pretensão da cúpula do PSDB de colocar um
pé na área econômica do governo, apossando-se do Ministério do Planejamento.
O
grupo político de Alckmin enxerga na movimentação o esboço de uma aliança para
2018. E avalia que Aécio, no afã de se cacifar para obter o tempo de propaganda
televisiva do PMDB numa futura campanha presidencial, amarra o PSDB a um
governo em crise, que flerta com o desastre.
Hoje,
o PSDB já ocupa três ministérios: Cidades (Bruno Araújo), Itamaraty (José
Serra) e Justiça (Alexandre Moraes). Ironicamente, Moraes, egresso do
secretariado do governador paulista, é catalogado no Planalto como ministro da
cota de Alckmin. Que não contesta. Acha até natural que o PSDB, depois de
ajudar a aprovar o impeachment de Dilma Rousseff, auxilie o governo-tampão de
Temer.
O
que deixa Alckmin incomodado, alegam seus aliados, é o fato de Aécio patrocinar
uma migração do PSDB da periferia da máquina federal para a vitrine do Planalto
ou da área econômica. Algo que submete o tucanato ao risco de se tornar
cúmplice de um eventual fiasco.
As
divergências afloram nas pegadas da decisão da Executiva Nacional do PSDB de
esticar o mandato de Aécio no comando da legenda até maio do ano eleitoral de
2018. Alckmin recebeu a novidade como um “golpe”, já que a presidência de Aécio
terminaria em maio de 2017, quando um substituto seria eleito em convenção.
Dias
antes da reunião da Executiva, almoçaram com Alckmin no Palácio dos
Bandeirantes Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e o próprio Aécio.
Durante o repasto, Alckmin foi sondado sobre a hipótese de prorrogação do mandato
de Aécio. Soou contra a ideia. Ignorado, abespinhou-se.
Agora,
Alckmin se move como se estivesse convencido de que só existe um amigo
verdadeiramente sincero dentro do PSDB: o amigo do alheio. Embora seus
correligionários não admitam diante das câmeras, o governador de São Paulo
passou a considerar a sério a alternativa de bater asas para outro partido.|josiasdesouza