Em
entrevista Roda Viva da TV Cultura na noite de ontem, o presidente Michel
Temer afirmou que uma eventual prisão do ex-presidente Lula traria
instabilidade ao Brasil devido à ação de movimentos sociais. No programa, Temer
não condenou a possibilidade de uma lei de anistia do caixa dois das campanhas
eleitorais. Convenientemente "esquecendo-se" que tem poder de veto
sobre a matéria, Temer afirmou que a questão era uma "decisão do
Congresso". Já sobre a ação de estudantes, que ocupam instituições em
protesto contra a possibilidade de deterioração ainda maior da educação, o
peemedebista afirmou que "lamenta muito", ressaltando que os
protestos seriam simplesmente "físicos" e sem conteúdo
argumentativo.
"Os movimentos, eu admito
perfeitamente os movimentos. Lamento por eles", disse o presidente.
Temer disse que uma eventual
prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia causar instabilidade
no país devido à ação dos movimentos sociais.
"O que espero, e acho que
seria útil ao país, é que, se houver acusações contra o ex-presidente Lula, que
elas sejam processadas com naturalidade. Aí você me pergunta: “Se Lula for
preso causa problema para o país?” Acho que causa. Haverá movimentos sociais. E
toda vez que você tem um movimento de contestação a uma decisão do Judiciário,
pode criar uma instabilidade."
Apesar do time de entrevistadores
amigável a seu governo —Ricardo Noblat, colunista de O Globo; Eliane
Cantanhêde, colunista do Estado de S. Paulo; Sérgio Dávila, edito executivo da
Folha de S. Paulo; João Caminoto, diretor de jornalismo do Grupo Estado; e
William Corrêa, coordenador geral de jornalismo da TV Cultura— Temer não
conseguiu disfarçar seu pouco apreço pelas reivindicações da população. Além de
condenar os estudantes, Temer também garantiu sua intenção de começar o quanto
antes a mexer na Previdência.
Segundo o presidente, o texto que
trata da Reforma da Previdência já está formatado e será encaminhado ao
Congresso ainda neste ano, logo após a aprovação do Projeto de Emenda à
Constituição que congela os gastos públicos por 20 anos. Temer disse que haverá
debate com as centrais sindicais —cujo apoio ele tem tentado comprar através de
cargos no governo e verbas em convênios— e de uma campanha para o
"esclarecimento público" sobre a necessidade da reforma.
Corrupção
Com seu nome circulando em
delações da Lava Jato, Temer negou ter cometido irregularidades. Segundo o
presidente, seu encontro com Marcelo Odebrecht no Palácio do Jaburu, foi feito
porque o empreiteiro —preso há mais de um ano no Paraná e prestes a comandar a
maior delação premiada da história do Brasil— queria contribuir com as
campanhas do PMDB- As doações, que somam R$ 10 milhões, porém, teriam sido
feitas dentro da legalidade e declaradas à Justiça Eleitoral.
Questionado por Ricardo Noblat
sobre o que pensava sobre uma possível anistia dos deputados ao caixa dois
—prática que, apesar de ser considerada ilegal, não está claramente previsto na
legislação e as punições à prática são feitas com base no artigo do Código
Eleitoral que pune diversos tipos de omissão em documentos eleitorais— o
presidente se esquivou, jogando a responsabilidade sobre o Congresso.
Temer afirmou que este seria um
assunto que deve ser tratado pelo Congresso. Como presidente, no entanto, ele
tem poder de veto sobre projetos de lei aprovados no Legislativo.
"Esta é uma decisão do
Congresso, eu não posso interferir nisso. Se eu disser uma coisa ou outra vão
dizer que eu estou defendendo", disse.
Cheque
Apesar do clima de pânico no
Planalto sobre o cheque nominal de R$ 1 milhão que recebeu da Andrade Gutierrez
durante a campanha de 2014 —em análise no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e
que pode levar à cassação da chapa Dilma-Temer—, o presidente se disse
tranquilo e reafirmou, contra todas as evidências, a separação das contas de
sua campanha e das de Dilma Rousseff na chapa vitoriosa em 2014.
"Esse cheque é de uma conta
do PMDB, assinado pelo PMDB, nominal à candidatura do vice-presidente. No TSE,
não tenho preocupação quanto a isso. Evidentemente, respeito as instituições,
se um dia o TSE disser: “O Temer tem que sair”. Mas, claro, tem recursos e mais
recursos.|brasil247